Por Douglas Ferreira
Esta é uma história verdadeiramente extraordinária, quase difícil de acreditar. Tuvalu, um país e uma nação situados na Polinésia, no meio do Oceano Pacífico, enfrentam a ameaça iminente do desaparecimento devido às mudanças climáticas. As ilhas que compõem Tuvalu estão afundando e sendo engolidas pelo oceano, tornando-se uma das primeiras nações do mundo a enfrentar esse destino devido às alterações climáticas.
Para aqueles que vêm ao mundo e residem durante toda a existência em localidades de pequeno porte, familiarizar-se com praticamente todos os habitantes parece transformar-se em uma espécie de anedota interna. Entretanto, como seria vivenciar a experiência de residir em um país cujo tamanho é equivalente, ou até menor, que o de uma cidade? Tuvalu, por exemplo, ostenta a posição de segundo menor país do mundo, ficando atrás apenas do Vaticano nesse ranking.
O ponto mais elevado de Tuvalu, localizado no sul da Oceania, está a apenas cinco metros acima do nível do mar. Nas próximas décadas, toda a região corre o risco de ser submersa pela água. Diante desse desafio, os cerca de 11 mil habitantes de Tuvalu estão empenhados em continuar existindo como povo. Em uma tentativa única, buscam o título de “primeira nação digital do mundo”, com planos de digitalizar desde a configuração física das ilhas até as danças tradicionais dos moradores. A intenção é que, digitalmente, a população possa participar inclusive de eleições.
O ministro Simon Kofe, responsável pelas pastas de Justiça, Comunicação e Relações Exteriores, afirmou que “a ‘nação digital’ de Tuvalu proporcionará uma presença online que substituirá a presença física e permitirá que o país continue a funcionar como um Estado”. Esta iniciativa é uma resposta direta à iminente perda do território físico devido às mudanças climáticas.
Além dos desafios climáticos, Tuvalu enfrenta o cenário de receber refugiados climáticos em outros países, como parte de um acordo com a Austrália. As autoridades tuvaluanas têm alertado há anos sobre a urgência de ações para combater a crise climática, com representantes emocionalmente apelando por compromissos na redução de emissões.
Metaverso
Diante da falta de ações globais efetivas, o governo de Tuvalu anunciou, no final de 2022, um projeto chamado “Future Now” (Futuro Agora), que busca transferir o país para o metaverso. Isso envolve mapear tridimensionalmente as 124 ilhas e ilhotas, criar um passaporte digital para atividades como casamentos e eleições online, e investir em infraestrutura nacional de comunicações. Um cabo submarino fornecerá a largura de banda necessária para essa mudança para o mundo digital.
Para preservar aspectos culturais e emocionais, as autoridades estão solicitando ao povo tuvaluano sugestões sobre o que desejam “salvar”. Essas respostas, que podem incluir artefatos, sons da linguagem, sabedoria de histórias e danças tradicionais, serão digitalizadas e incorporadas a uma “arca digital”.
Apesar desses esforços significativos, questões sobre a soberania de um país que existe apenas no mundo digital surgem. Tuvalu alterou sua Constituição em setembro deste ano para refletir a nova realidade, afirmando que o país continuará existindo “apesar dos impactos das alterações climáticas ou de outras causas que resultem na perda do território físico”. Essa mudança já foi reconhecida por doze nações, como as Bahamas e o Gabão.
O primeiro-ministro de Tuvalu, Kausea Natano, reforçou que o país continuará existindo e que sua soberania não está sujeita a negociações. Essa jornada única de Tuvalu representa uma resposta extraordinária e inovadora diante dos desafios sem precedentes impostos pelas mudanças climáticas.