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13 de agosto de 2024

Ser ou não ser, eis a questão! 😇⏲🙏

Por:
Psicóloga Clarice Vilar
Teresina, 12.08.2024

Essa frase do famoso livro “Hamlet”, de Shakespeare, nunca esteve tão atual nos dias de hoje. Desde que ingressei no mercado de trabalho, me perguntei: eu poderia ser a melhor? Afinal de contas, isso existiria? Em quantas dimensões? Com qual sentido maior?

Me identifiquei muito com o pensamento do filósofo Byung-Chul Han, em seu livro “A Sociedade do Cansaço”. Estudei a sociedade disciplinar de Foucault no mestrado e fiquei surpresa com como ele mostra que estamos na sociedade do desempenho, presas em shoppings, bancos e academias. Ao invés de sujeitos de obediência, somos empresários de nós mesmos (Han, 2017, p. 23).

No lugar de proibição, mandamento ou lei vindos das guerras, presídios ou da fase negra da saúde mental, entram projeto, iniciativa e motivação.

A sociedade da disciplina gerava loucos; a do desempenho gera depressivos (Han, 2017, p. 24). Há, no inconsciente social de uma pirâmide capitalista, o desejo de maximizar a produção, substituindo o paradigma da disciplina pelo esquema positivo de poder (Han, 2017, p. 25). A depressão é a expressão patológica do fracasso do homem pós-moderno em ser ele mesmo (Han, 2017, p. 27).

E é nessa crise existencial, nesse encontro consigo mesmo, que o indivíduo não escapa das verdades que o cercam. E as mais dolorosas, mal sabe ele, são as que vão libertá-lo.

A expressão "infartos psíquicos" sugere um desajuste do aparelho biopsíquico em obedecer a si mesmo e à pressão do desempenho. O burnout representa, assim, o si-mesmo esgotado, mas antes, a alma consumida (Han, 2017, p. 28).

A inteligência espiritual fala da inteligência que trata questões de sentido, valor e significado. Danah Zohar afirma que Jung se preocupou com as doenças espirituais e afirmou que todas as psiconeuroses "terão de ser compreendidas, em última análise, como uma alma sofredora que não descobriu seu sentido".

“A lamúria do indivíduo depressivo de que nada é possível só se torna possível numa sociedade que crê que nada é impossível. Não mais poder — poder — leva à uma autoacusação destrutiva e à autoagressão. O sujeito de desempenho encontra-se em guerra consigo mesmo (…) A depressão é o adoecimento de uma sociedade que sofre sob o excesso de positividade” (Han, 2017, p. 29).

Sim, a terapeuta Louise Hay falava disso. Esse ódio contra si mesmo, essa vingança pessoal, metafisicamente destrói seu campo energético e atrai o que você não quer.

Quando nossas escolas ensinarão o amor-próprio que não depende de medalhas e concursos?

Eu lembro de um livro que me marcou na adolescência chamado “O Ócio Criativo”, de Domenico De Masi. Lembro que a direção da escola não dava muita bola para isso. Estávamos todos ocupados, achando vantagem em ter muitas matérias e pouco tempo, para alimentar a vaidade alheia. O ócio, o tédio que nossa alma precisava em um cotidiano que fomentava a genialidade forçada em tudo — primeiro lugar sempre, produzindo algo que, se não fosse extraordinário, não teria valor — era subvalorizado.

Por isso essa positividade tóxica de hoje, esses discursos motivacionais baratos, esse veneno que espalharam que você é 100% responsável por sua vida, que só depende de você. Shows de pisar em cacos de vidro e fogo, em dinâmicas rasas que simulam vitória na vida. Triste.

Me chamou a atenção a parte em que ele fala que, na vida selvagem, o animal está obrigado a dividir sua atenção em diversas atividades. A multitarefa não é "cool", não é coisa de avanço pós-moderno, mas um retrocesso. Está no nível da vida selvagem.

É assim nossa atenção hoje em dia, dizimada pelo algoritmo, pelas mídias, pelos tablets, pelas novas telas que surgem incontroláveis.

A solução? Repensar, desapegar, desacelerar. Humanizar ao extremo um cotidiano e uma mentalidade dentro de um sistema sufocante. Deveríamos ser a sociedade da alma.

Mas pena que a maioria acredita que não temos mais uma alma para salvar.

12/06/2024

Clarissa Vilar

26 de julho de 2024

Reflexões sobre o mal cotidiano: “Zona de interesse” e a memória do holocausto em tempos de guerra

Por Constance Jacob

No contexto das tensões atuais no Oriente Médio, em que Israel enfrenta mais uma vez um cenário de guerra, a memória do Holocausto ressurge com força e nos convida a refletir sobre as atrocidades passadas e presentes. Muito já se falou e escreveu sobre o Holocausto, mas no filme "Zona de Interesse", dirigido por Jonathan Glazer, o enfoque traz uma perspectiva profundamente perturbadora e necessária sobre a vida dos nazistas que administravam Auschwitz. O filme nos mostra como o mal pode se infiltrar na vida cotidiana de indivíduos aparentemente normais, um conceito introduzido por Hannah Arendt.
 
"Zona de Interesse" foca na vida de Rudolf Höss, o comandante de Auschwitz, e sua esposa Hedwig, destacando como eles viviam uma existência quase idílica ao lado de um dos maiores horrores da humanidade. O filme revela como os alemães, sem culpa e com naturalidade se envolviam em atividades triviais, como jardinagem e festas de aniversário, enquanto atrocidades indescritíveis aconteciam a poucos metros de distância. Essa desconexão moral é apresentada de forma crua e realista, mostrando que a indiferença e a conformidade podem transformar seres humanos comuns em executores de atos monstruosos.
 
Glazer utiliza técnicas cinematográficas específicas para enfatizar essa indiferença perturbadora. O posicionamento estratégico das câmeras, por exemplo, revela a proximidade do horror de maneira constante e inescapável, colocando os ambientes domésticos dos Höss ao lado dos elementos do campo de concentração. O som, igualmente, desempenha um papel crucial, com ruídos de Auschwitz permeando o fundo das cenas domésticas, lembrando-nos continuamente da violência ao redor.
 
A trivialização dos fatos e a indiferença dos personagens são evidenciadas de maneira sutil, mas poderosa. As conversas casuais sobre a eficiência dos fornos crematórios e a quantidade de gás necessária para matar pessoas são tratadas com uma “normalidade” que choca e repugna. Esta abordagem não apenas humaniza os perpetradores, mas também nos força a confrontar a capacidade humana para a indiferença moral e a violência.
 
"Zona de Interesse" é mais do que um filme sobre o Holocausto; é um estudo profundo sobre a natureza humana e a facilidade com que podemos nos desviar para a crueldade quando a moralidade é banalizada. Em tempos em que a intolerância ainda ressurge, o filme serve como um poderoso lembrete da importância de lembrar e entender o passado para evitar a repetição dos mesmos erros. Além de ser um chamado à vigilância, "Zona de Interesse" é uma advertência sobre o potencial humano para a indiferença e a necessidade de resistir à complacência diante do mal. Em última análise, nos desafia a reconhecer nossa própria vulnerabilidade à insensibilidade e a grande importância de cultivar a empatia e a consciência moral em nossas vidas diárias.

15 de julho de 2024

LÍDERES: Como superar a falta de comprometimento nas equipes?

Por Betina Costa

Das pesquisas que leio sobre liderança, das escutas que faço de líderes, gestores e equipes, durante treinamentos e mediações, sempre ouço que a expectativa deles é que a equipe pudesse ter maior autonomia para resolver problemas, inclusive conflitos, e não ficassem esperando por ordens e direcionamentos. Segundo eles, "pessoas preparadas" estão em falta no mercado.

Por sua vez, as equipes manifestam a expectativa de receber mais orientação dos gestores, sem tanta cobrança e pressão quando eles não sabem o que fazer, e menos críticas ao cometerem erros, para entender mais sobre o que podem melhorar.

Observo também, em contexto de redes sociais, soluções mirabolantes, inclusive uma recentemente me chamou muito a atenção e foi aplaudida por muitos em um grupo ao qual faço parte. O produtor de conteúdo sobre liderança disse numa postura de tolerância zero: “todo empresário precisa demitir o seguinte perfil de funcionário: negativo (nada presta, tudo é difícil), coitadinho (terceiriza a culpa e tudo acontece com ele, tudo com ele é mais difícil), lento (lesma, preguiçoso, soneca)”.

Vi este corte na fala do profissional, não sei se estava descontextualizada do trabalho que realiza. No entanto, como tal solução rodou muitos grupos empresariais de WhatsApp e foi elogiada por alguns, trouxe para refletirmos juntos.

Esta “solução” trazida tem efetividade e sustentabilidade?

Os ambientes de trabalho estão permeados pela complexidade do ser humano moderno, inconstante e com poder de vocalização cada vez maior, no entanto, inserido em um contexto com pouca educação formal e em competências socioemocionais, ainda mais no Brasil. Pensei: “com esta solução, o empresário não estaria terceirizando a culpa neste cenário de improdutividade, ao atribuir o problema ao funcionário? Resolveria a situação diante de um mercado desafiador?”

É fato indiscutível do quanto é raro empresas encontrarem pessoas prontas, talentos lapidados, perfis proativos, com autonomia, engajados nos resultados, envolvidos na missão da empresa, responsabilizando-se pelos resultados positivos e negativos.

Então, primeiramente, vamos analisar a forma de comunicação utilizada na mensagem, o significado das palavras usadas pelo produtor de conteúdo: os adjetivos. Adjetivar pessoas não resolve o problema da falta de iniciativa. Enquadrá-las em perfis negativos não trará soluções ao negócio. Você já foi chamado de preguiçoso, descuidado, esquecido etc.? Como se sentiu? Mudou sua postura diante da crítica?

A crítica voltada a identidade das pessoas não fará com que haja transformação das atitudes, pois o próprio julgamento acerca dos tais “perfis” inviabiliza processos de transformação e autorresponsabilidade.

Segundo. Se nós, como líderes, queremos pensar em soluções reais, devemos fazer parte da mudança que queremos ver, tomar as rédeas da condução dos resultados, juntamente com as equipes, criando as condições necessárias para superar o cenário de lentidão, falta de motivação e autorresponsabilidade. Nem tudo é culpa do liderado, como nem tudo é culpa do líder. Nem se trata de quem é a culpa, e sim de assumir responsabilidade e protagonismo nas soluções, ampliando a percepção sobre o contexto e ambiente organizacional.

O que realmente está acontecendo nesta organização para que as equipes entrem numa lentidão dos processos? Qual o ambiente em que os funcionários estão moldados a não assumirem suas responsabilidades? Qual comunicação não está sendo clara?

Vou além... Em um ambiente de trabalho inseguro, com julgamentos, constantes críticas, reclamações e atribuições de culpa, quem teria coragem de assumir um erro? Não é mais fácil terceirizar a culpa na sociedade em que nos inserimos repleto de críticos de plantão? Não é mais cômodo reclamar? Quantas pessoas no mercado estão maduras para assumir erros e fracassos, e ter autonomia para corrigi-los com proatividade e mente positiva? É mais fácil se omitir, reduzir a produtividade, diminuir a dedicação e o foco...

São os líderes os responsáveis a preparar e acompanhar suas equipes para garantir que o trabalho seja produtivo, eficiente e bem performado. São os líderes o termômetro de suas equipes.

O problema é que gestores querem gerir pessoas como se fossem ativos simples e previsíveis, colocando, movendo e tirando constantemente das empresas como se fossem peões em um jogo sem estratégia. Isso se chama rotatividade e tem um custo alto para as empresas. Então, cuidado com essas soluções mirabolantes.

E como resolvemos essa equação? Não há uma única resposta, ou fórmula mágica. No entanto, há ações e estratégias que podem ser implementadas para a criação das condições favoráveis ao desenvolvimento do líder e de sua equipe, de forma customizada e levando em consideração as especificidades do modelo de negócio.

O caminho começa pela educação contínua em competências socioemocionais, também conhecidas como “soft skills”, por meio de treinamentos para a viabilização de um ambiente aberto ao diálogo, com ritos e procedimentos adequados ao contexto empresarial. A mudança de mentalidade acontece através da sensibilização constante num processo de aprendizado contínuo e diálogo dirigido por facilitadores capacitados.

 Voltando ao início do texto, líderes esperam autonomia de suas equipes. Como promover, então, essa autonomia? Como engajar seu colaborador a ser protagonista de soluções? O líder direciona as ações, com orientação e direção, comunicação assertiva, apoio e suporte, empatia e escuta, feedback e acompanhamento. Enquanto a liderança fornece os meios para que sua equipe alcance uma performance estratégica, os liderados devem assumir o papel e a responsabilidade de realizar aquilo que é esperado deles.

Cada membro, a partir do papel que ocupa, quando compreende seu lugar, pode se engajar a dar o seu melhor dentro das equipes. Ainda assim, mesmo que as condições de clareza dos papéis estejam presentes, o engajamento não ocorre plenamente, é preciso que o líder acompanhe de perto e ofereça feedback para essa melhoria, monitorando os comportamentos, as relações interpessoais e resultados.

Agora, se o líder fornece as condições para o desenvolvimento de sua equipe, e um colaborador não toma para si a responsabilidade e continua no padrão de terceirizar culpas e culpados, cometendo erros, com atitudes de lentidão e antiéticas, o líder não poderá mantê-lo na equipe, sob pena de contaminar todos os demais membros. Aí sim, a demissão se torna viável.

Parece fácil descrever a solução de demitir. Mas, pessoas não são recursos descartáveis. Líder que é líder entende sua responsabilidade nesse processo.

E, você, caro leitor, quais opções pensou para lidar com esta situação? Compartilha comigo em meu instagram @betinadcosta ou deixe sua mensagem aqui!

08 de julho de 2024

IA e as Relações Humanas

Por Cláudia Claudino

Participando de um evento recentemente, a Pós-NRF Ásia Pacífico (National Retail Federation), não tive como deixar de refletir sobre como será o mundo logo, logo, pois a velocidade em que se encontra o avanço tecnológico, não me permite dizer daqui uns anos. Diante de tudo que vi nas apresentações, hoje tudo gira em torno da tecnologia, redes sociais, e-commerce, impactando diretamente nas nossas vidas.

Mas até que ponto, as relações humanas estão comprometidas? Hoje é normal observarmos casais, amigos, famílias, numa mesa de restaurante, embora pertos, mas ao mesmo tempo distantes, já que entre eles estão os smartphones e tablets. O romantismo é uma boa conversa parece que perderam espaço.

Tem crescido o número de pessoas desenvolvendo ansiedade, já que a vida tem se tornado muito imediatista e cheia de cobranças por respostas rápidas. Temos que estar atentos as notícias até para saber se são verdadeiras ou não. O comércio tem evoluído a cada dia, seja em produtos, preços, entrega etc.

Hoje tudo está ao alcance de todos. Mas e as relações humanas, como estão? Será que estão evoluindo também? Até que ponto a IA está impactando positivamente nas relações humanas? Temos crescido enquanto seres humanos? Até que ponto a IA está impactando positivamente a sua vida e da sua família? Até que ponto a nossa cultura está preparada para tantas transformações?

Penso que a IA nos proporciona evoluções e transformações de ambiente e cenários, mas nada substitui o olho no olho, tão importante para as relações humanas. O toque humano, o calor de um abraço, a profundidade de um olhar, são insubstituíveis e lembram-nos da essência do que nos tornam verdadeiramente humanos.

26 de maio de 2024

Um dia na vida de uma mãe empreendedora

Os desafios da mulher para conciliar carreira, trabalho e filhos

Por Betina Costa

Empreendedor, você já vivenciou este cenário em sua vida?

Mal dormiu, pensando nos resultados da empresa, na reforma tributária, nos prazos que tem no dia seguinte, e tarefas que estão pendentes. Acorda cedo, e a primeira tarefa é arrumar as crianças e o lanche para a escola e, também, se arrumar para mais um dia de trabalho e reuniões. Na mesa do café, a filha do meio comunica que tem um trabalho na escola que precisa de alguns materiais. O problema é que o trabalho é para ser realizado ainda hoje pela manhã. O marido olha para você, e você já entende que não poderá contar com a ajuda dele, segue e vai deixar as crianças na escola.

Você corre pra chegar cedo na sua empresa, e, assim, adiantar alguns serviços mais urgentes, antes daquela reunião com a equipe e encontrar uma brecha para correr numa loja e comprar o tal material, deixar na escola e retornar. Daí, você lembra de uma outra solução, contactar o grupo de mães na escola e propor uma compra coletiva, enquanto se preocupa com as propostas e contratos que precisa enviar.

No meio da manhã, ligam da escola, da enfermaria, e seu coração já acelera. A enfermeira informa que seu filho caçula torceu o pé, mas não tem luxação. Ligou apenas para informar o ocorrido, mas não precisa pegá-lo. Coração volta ao batimento normal.

No almoço, o filho que torceu o pé está mais enjoado e não quer comer, então, você fica mais um tempo na mesa com ele para garantir que ele se alimente melhor. Todos já se levantaram. Seu marido já está assistindo o jornal. Você lembra que tem alguns avisos da escola para ler, tenta se atualizar com um número infindável de informações, responder alguns grupos de WhatsApp e, ainda, suspira aliviada porque seus filhos estudam numa escola integral, apenas almoçando em casa. Lembra do tempo que sua mãe corria pra lá e pra cá para deixar as filhas nas atividades à tarde fora da escola. Pelo menos, você tem como organizar a sua jornada profissional de forma mais eficiente à tarde.

Descansa 10 minutos e já retoma o movimento de ajeitar as crianças para o segundo turno, preparar lancheiras novamente, mediar a briga entre os irmãos, enquanto isso, o marido toma banho para levar as crianças na escola. À tarde, você lembra da lista do “tem que”: tem que passar no supermercado para comprar alguns itens que estão faltando, definir o agendamento da fono do caçula, pesquisar uma psicóloga pro mais velho, a inscrição da filha numa competição, confirmar a nova diarista para vir no dia seguinte, providenciar fardas extras para as crianças, além dos prazos que tem para a entrega dos projetos que ainda estão pendentes, uma reunião no final da tarde, a academia etc.

De repente, ligam da enfermaria da escola novamente, e informam que o seu filho não quer permanecer para as atividades esportivas porque está sentindo dor no pé. Você liga pro marido para ver se ele pega o menino, mas seu marido está numa reunião. Você para tudo e pega o filho na escola, leva ele pra empresa, sob protestos. Cria uma atividade para ele se distrair. Finaliza algumas pendências, deixa outras para o dia seguinte. Remarca a sua reunião para mais tarde, virtualmente. Adia a academia.

Enquanto isso, o grupo de WhatsApp das mães do filho mais velho está bombando, porque aconteceu um problema na apresentação das crianças, e as mães estão agendando reunião com a escola para conversar a respeito da situação, e querem a sua presença amanhã pela manhã. Logo amanhã, no dia em que tem a diarista nova, que precisa de algumas orientações sobre o funcionamento da casa e atribuições das tarefas a serem executadas, que somente você pode explicar.

À noite, prepara o jantar dos meninos, arruma os itens do supermercado. Pouco antes de colocar os filhos para dormir, você realiza aquela reunião virtual inadiável com sua assessoria e seu filho mais velho reclama que você não sai do celular. Você percebe que ele está ansioso com alguma atividade, e quer atenção, diz que vão já conversar. Termina a reunião, escuta com atenção o filho, conversa e orienta, acalmando suas preocupações. Faz um leite pros filhos, enquanto auxilia os filhos a arrumarem as mochilas para o dia seguinte e coloca todo mundo para escovar os dentes. Deita na cama com eles, e acaba dormindo de exaustão.

Queria saber se em algum momento um empreendedor já passou por tudo isso em um único dia?

Essa é uma jornada “normal” de uma mãe e profissional, que não configura nem 1% dos maiores desafios que as mulheres enfrentam na caminhada de vida. Os imprevistos fazem parte da nossa rotina, assim como os grupos de WhatsApp de mães, acompanhando a agenda e as novidades, os aniversários da turminha, os encontros e saídas, trabalhos e necessidades. Quiçá imaginar tantas outras histórias bem mais complexas do que esse simples relato de um dia na vida de mãe.

Quem fica com os filhos na fase de adaptação na escola? Quem passa noites em branco cuidando do filho? Quem contrata babá, orienta e acompanha constantemente o trabalho? Quem leva o filho na aula extra, no aniversário do amigo, para comprar roupa? Quem se preocupa com o desempenho escolar do filho, a briga na escola, a ocorrência? Quem leva o filho no pediatra? (Aqui em casa, eu e meu marido vamos juntos ou nos alternamos na escola, na saúde, nas atividades). Em quantos lares isso acontece? Quantos pais participam do grupo de mães? Quantos se informam sobre a comunicação da escola? Quantos pais são chamados primeiro para comparecer na escola?

Desenvolvemos flexibilidade, resiliência e criatividade para alinhar trabalho com os cuidados dos filhos, além dos afazeres de casa, e não cair na ansiedade (ou não). Por mais que compartilhemos atribuições com o companheiro, somos as mais demandadas pela escola dos filhos, quando há esquecimento de uma farda, intercorrência de saúde, comunicações em geral. Somos constantemente cobradas para estarmos atentas aos boletins e outras demandas escolares, e os pais são tratados como coadjuvantes.

Não digo que não há homens que assumam essas tarefas, está cada vez mais comum nas novas gerações. Só afirmo que, em sua grande maioria, somos nós mães que acumulamos vários papéis simultaneamente e somos “aplaudidas” (no Dia das Mães) por termos essa capacidade de sermos múltiplas.

Sou casada e meu marido é companheiro, no significado real da palavra, compartilhando a maior parte das atividades do lar. Isso me possibilita oportunidades, atuo com consultoria em gestão de conflitos, sou fundadora do Instituto Consensum, curso um mestrado, sendo mãe de três, um adolescente e duas crianças. Hoje, numa relação a dois, com filhos, quem não se compromete com responsabilidade pela criação e cuidado, age de forma imatura perante a vida. Não consigo mensurar a complexidade do cenário de uma mãe solo.

Daí questiono: será que isso é saudável? Quantas mulheres estão em burnout e são criticadas por serem “fracas”, “frágeis”, “sensíveis demais”?!

Dizer que não há diferenças e disparidades no ambiente de negócios e de trabalho, é desconhecer a realidade da esposa, da amiga, da colega de trabalho, da gerente de sua empresa, da irmã, da cunhada, até mesmo, da própria mãe. A falta de percepção acerca da realidade da grande maioria das mulheres não se configura em mera falta de empatia. Essa constatação simplesmente retrata o preconceito estrutural, que está arraigado na sociedade de maneira tão “normal”, em que é natural haver cegueira.

Escuto histórias de mulheres em vários ambientes e me nutro com a força de seus repertórios, repletos de superação, dores, escolhas difíceis, para estarem firmes em seus papéis profissionais. São reconhecidas profissionalmente nas empresas, mas será que os gestores e líderes conhecem suas histórias?

Precisamos conhecer as histórias por trás dos papéis, para nos conscientizarmos que a responsabilidade pelos cuidados com os filhos não cabe exclusivamente às mulheres. Para compreendermos que se existem políticas de equidade, elas têm uma razão pela falta de educação da sociedade para lidar de forma responsável e respeitosa perante a vida em seus múltiplos lugares e posições.

A nossa sociedade evoluiu em tantos progressos tecnológicos, estamos constantemente nos adaptando a novas realidades no mundo da tecnologia, no entanto, permanecemos analfabetos sociais e emocionais.

A maioria não compreendeu que estamos vivenciando tempos de mudanças inevitáveis não apenas quanto à tecnologia. Nós, mulheres, não vamos retroceder, porque sabemos dos nossos talentos e potencialidades, contribuindo na criação de novas soluções a antigos problemas. Entendo que não há uma resposta certa a cada situação, é impossível gerar satisfação a tantos interesses divergentes com algo determinado por lei, pois cada contexto requer diálogo e negociação.

Podemos colaborar, cada um em seu papel, com percepções diferentes, contribuindo a partir de repertórios de vida singulares. Nós, mulheres, não somos melhores ou piores, e nem devemos impor superioridade a nenhum outro grupo. Somos diferentes, sim.

É a diversidade que propicia inovação.

Você, leitor, leitora, que tem uma história real para contar de um dia na sua vida de pai/mãe, e os desafios em conciliar carreira e trabalho, entra em contato e partilha um pouco comigo pelo Instagram @betinadcosta.

19 de maio de 2024

CasaCor Piauí e o convite à reflexão

Por Betina Costa

A CasaCor é a maior e mais completa mostra de arquitetura, arte, design de interiores e paisagismo das Américas. Está acontecendo em Teresina, Piauí, até o dia 30/06, na Av. Zequinha Freire, n 225, a casa dos meus pais, onde morei por quase 30 anos.

Com o tema “De Presente o Agora”, o evento convidou arquitetos, engenheiros, designers e empresas a criarem soluções mais sustentáveis, em convivência harmônica com a natureza. O evento nos questiona profundamente com uma pequena pergunta: “Que ancestrais queremos ser?”.

Deixo essa pergunta ressoar em mim, escutando “Wind of Change”, do Scorpions. Reflito sobre a complexidade desta simples provocação, a partir das palavras-chaves: querer, ser e ancestralidade.

Querer significa manifestar a nossa vontade, com autonomia, direcionando nossos pensamentos, emoções e atitudes na busca pelos resultados almejados. Ela envolve a capacidade de realizar escolhas entre diferentes objetos de desejo, quais ações, motivações e opções para alcançar objetivos.   

Então, adiciono uma camada à pergunta inicial, que acredito que é a proposta da CasaCor: quando pensamos em nosso querer, o quanto incluímos o outro, o todo?

Estamos tão automatizados, normalizados a estabelecer metas de alta performance e sucesso, que esquecemos o quanto somos todos conectados pela teia da vida. Ignoramos nossa interdependência e vivemos o cotidiano rodeado de satisfação do nosso próprio prazer. Algumas vezes, ficamos anestesiados da dor do mundo, buscando saciar nossas próprias vontades.

A vontade é uma força que nos guia, consciente ou inconscientemente, no caminho da vida. Nossos impulsos manifestam automaticamente crenças arraigadas em nossas mentes, influenciadas pelo nosso repertório, o conjunto de experiências, aprendizados, traumas, dores, alegrias, conquistas. Nossos desejos revelam, por vezes, o apego do ego.

No entanto, nosso querer não se restringe às motivações de ter ou poder. Vai além, quando almejamos simplesmente ser, nesta complexidade que é o ser humano.

Ser humano, que pensa, que sente, que argumenta, inventa e, também, mente.

Ser humano que ama, que tenta, erra e aprende.

Ser humano que transforma, transborda, transgride, transmuta e transcende.

Ser humano que destrói, constrói e reconstrói.

Ser humano que tem essa incrível capacidade de criar e inovar, motivado pelas mais variadas razões de existir.

Temos esse sentimento interno de autorrealização guiando nossa força de vontade a em favor de objetivos a longo prazo, desenvolvendo o autocontrole e a resiliência para resistir a tudo aquilo que nos tira do foco. Podemos moldar nosso futuro, então, direcionando nossos desejos de sermos melhores como humanos que somos.

Quem realmente somos? Quem queremos ser? Como não ver o que está diante de nossos olhos? O resultado do passado? Os sonhos do futuro?

O presente se mostra aqui e agora. Precisamos abrir os olhos da alma deste ser que habita a nossa matéria. Precisamos nos conectar na teia da vida que nos convida a pisar na terra, sentir nossos passos ancestrais e perceber que nossa criatividade pode nos levar além e elevar nossa existência no planeta Terra.

Somos o resultado dos nossos antepassados e, logo em breve, seremos nós os antepassados. Somos a soma de tantos, que cresceram, sofreram, aprenderam, celebraram, conquistaram, adoeceram, sobreviveram, viveram, morreram.

Quando olhamos pro passado, podemos compreender tudo como foi e aprender com os erros e acertos das gerações que já se foram. O passado nos ajuda a perceber o que podemos fazer de diferente no presente, criando e inovando em soluções para as futuras gerações.

Não precisamos ir tão longe no tempo, se observarmos tantos afetados neste momento pelas guerras, fome, doenças, secas e enchentes. Muitos de nós mobilizamos a força da compaixão e da doação, mas eis a questão: o que podemos fazer de diferente pro futuro do todo?

Que legado iremos deixar? Que legado escolhemos deixar? Uma terra arrasada, um clima afetado, guerras concretizadas, concreto esvaziado? Árvores plantadas, inovações geradas, diversidade preservada, biomas conservados?

Que ancestrais queremos ser?

Os ventos da mudança já nos alcançam, e se não os escutarmos, o que pode acontecer? Quando iremos pensar como irmãos que somos neste grande tecido social? Que inovações podemos gerar para sermos esperança para as novas gerações? Quantos de nós realmente se lançam a essas profundas reflexões?

Se você chegou até aqui, neste texto, e sentiu o chamado para pensar, vamos juntos ousar realizar pequenos passos em direção a um futuro melhor.

14 de abril de 2024

Conexões com Sentido

Por Betina Costa

Esta semana trouxe para mim a oportunidade de aprofundar uma perspectiva que venho adotando em minha vida e tem me conduzido a caminhar com mais consciência. Recebemos em Teresina, a empresária e ex-atleta de alta performance Luciana Barbosa, para lançamento de seu livro, numa parceria incrível com Ricardo Masstalerz, o Instituto Consensum e a PDL – Consultoria e Treinamento Empresarial, comandada por Cláudia Claudino.

Ouvi em palestras da professora Lúcia Helena Galvão, da Nova Acrópole, uma máxima filosófica que diz o seguinte: “um mau orador é aquele que todo mundo sai pensando nele. Um bom orador é aquele em que todo mundo sai pensando em si próprio”, com reflexões que nos trazem conteúdos edificantes para a vida.

Assim, finalizo a semana com reflexões profundas a partir da escuta de Luciana em dois momentos significativos, um primeiro momento na palestra que aconteceu no restaurante Grand Cru, e um encontro exclusivo no Instituto Consensum no dia 12 de abril. E quero partilhar com vocês esses insights. afinal de contas.

Existem conexões que nos inspiram com autenticidade e congruência, com vulnerabilidade e sem perfeição. Essas interações significativas ficam mais evidentes quando estamos em sintonia com nosso caminho, tomando decisões com sentido. Esta consciência acontece quando estamos presentes no aqui e agora, compreendendo quem somos e o que queremos, com base em nossos valores.

Um dos meus valores, que reflete como pilar no Instituto Consensum, é a transparência, em que podemos manifestar com espontaneidade nossos sentimentos, necessidades e interesses, para dialogar sobre como podemos colaborar na construção de projetos com objetivos comuns. Cria-se um ambiente de diálogos abertos, em que nós nos sentimos seguros para expor divergências e ampliar nossas percepções sobre diferentes pontos de vista, chegando a um consenso. Não é preciso que todos concordemos sobre tudo, mas podemos encontrar elos que motivem a colaborar mutuamente. 

Neste ambiente, cada pessoa pode manifestar sua verdade, e contribuir com colaboração, compondo um grande quebra-cabeça (analogia trazida por Luciana na palestra). Não é necessário competir pelos mesmos espaços e papeis, quando compreendemos o nosso lugar. Estes conceitos se comunicam com os preceitos da gestão de conflitos e da segurança psicológica, conduzidos no Instituto Consensum.

Para mim, encontrar pessoas que estão na mesma frequência é tão significativo, porque nós nos sentimos pertencentes e plenos. Nesse contexto, emergem engajamento, motivação e resultados extraordinários para todos os envolvidos, algo fundamental nas equipes.

Não se trata de perfeição e harmonia constante nas relações, mas equilíbrio para lidar com as adversidades inerentes aos relacionamentos. Afinal de contas, paz não é a ausência de conflitos e divergências, mas a sabedoria para lidarmos de forma assertiva com eles.

Essa compreensão me auxiliou a aplicar em minha vida estes conceitos, sem perfeccionismo, e replicar isso em treinamentos e consultorias. E sinto de reforçar o quanto aprendi, há um tempo atrás, com Ricardo Masstalerz, sobre o perfeccionismo que me impedia de enxergar meus potenciais. Tirar essas máscaras de perfeição e idealização vem me auxiliando a transpor fronteiras ilusórias, existentes só em minha mente limitante. São sabotadores internos que não correspondem a nossa verdade e tudo o que podemos realmente construir.

Esta semana, aprendi com Luciana Barbosa sobre a força das histórias que nós nos contamos constantemente, e que podem causar resistência para expressarmos o que está vivo em nós, nossa vontade e talentos. Já venho na caminhada de olhar para o passado e ressignificar, desapegando dos remorsos e ruminações que provocam sofrimento. E o incrível é que cada vez que estamos no caminho com humildade, sempre há algo novo a ser descoberto sobre nós mesmos, para ser reconhecido e transformado quando nos colocamos no papel de aprendiz.

Assim, agradeço essas conexões que inspiram aprendizados, auxiliam a revelar nossas potencialidades e transformar positivamente a realidade.

E o que é real? O presente da presença, aqui e agora. O instante em que escolhemos com consciência. A sabedoria que emerge ao estarmos conectados com nossos corações.

Todos temos desafios, adversidades, imprevistos, dores, em momentos diversos, em diferentes intensidades. A diferença está em como lidamos com aquilo que nos acontece e podemos traçar um caminho diferente. Quando estamos imersos na dor, em sofrimento, esse ensinamento pode ser complexo e incompreensível. Somente quando mudamos nossa percepção em relação às situações, podemos mudar a mentalidade e enxergar possibilidades ao invés de dificuldade.

Esse é um exercício constante de perseverança e auto-observação, com compaixão e curiosidade. Neste caminho, todos temos a possibilidade de prosperar mesmo diante desses obstáculos, quando nos deixamos guiar por perguntas profundas, como o título do livro de Luciana: “O que você quer de verdade?”

@betinadcosta @institutoconsesum @claummc @sou.pdl @ricardomasstalerz @eu.lucianabarbosa

17 de março de 2024

Vale Quem Tem

Por: Cláudia Claudino

Sentada na recepção de uma clínica, aguardando a minha vez de ser chamada a fazer meu cadastro, e posteriormente exames, ouvi uma outra paciente falar seu endereço e o bairro era “Vale quem tem”. Não sei explicar porque aquilo me chamou atenção, mas ao mesmo tempo processei a escuta e fui refletir sobre. 

Sei que se trata de um bairro de Teresina, mas porque este nome? Pesquisei sobre a origem do nome e encontrei a seguinte explicação: “Área da antiga fazenda Vale Quem Tem, hoje parcialmente loteada (com o mesmo nome). Diz-se que o proprietário da fazenda, Geovane Prado, nomeou a Fazenda Vale Quem Tem Vergonha, porém, não oficializou a denominação” (acessepiaui - 17/07/2018).

Continuei a minha reflexão tentando compreender porque esta expressão havia chamado a minha atenção. E me perguntava, vale quem tem o que?

Dinheiro? Bens materiais? Vergonha? Caráter? Coragem? Prestígio? Influência? Conhecimento? Cultura? Inteligência? Espiritualidade? Generosidade? Educação? Gentileza? Compaixão? Empatia? Amorosidade? Fé?

Certa vez ouvi uma pessoa falar que “todo homem tem seu preço” e isto me tocou profundamente, pois ali estava a concretização de um pensamento onde o ter se sobrepõe ao ser e onde mostra que as pessoas valem conforme a sua utilidade, sendo comparados a objetos, fugindo da sua verdadeira essência. Diante de tantas possibilidades, cabe a cada um, dentro dos seus princípios e valores, enumerar o que realmente vale.

10 de março de 2024

Protagonismo em tempos de sociedade em rede

Editorial por Betina Costa

Reprodução: As Meninas, de Diego Velázquez

Mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, e muito se fala em empoderamento e protagonismo. Será que compreendem o real significado de ser protagonista? As redes sociais têm desvirtuado a percepção de si mesmo e do outro, confundindo a compreensão do termo “protagonismo”.  

Diante da sociedade em rede, esse protagonismo vem sendo creditado ao público com maiores likes, aqueles que conquistam as multidões de seguidores, ávidos por um entretenimento. Assim, conduzidos (ou manipulados) pelo algoritmo, o número de seguidores, curtidas e visualizações parecem balizar pessoas como protagonistas.  

Seria mesmo este o termômetro para indicar a relevância de um papel na sociedade e na própria vida? Estaríamos esvaziados de referências de protagonismo? Essas questões não possuem resposta certa ou errada, apenas representam um quadro do atual ambiente social. Longe de querer fazer qualquer juízo de valor acerca da nossa sociedade contemporânea, percebi uma controvérsia se formando em mim diante do significado de protagonismo com o qual eu trabalho na mediação.  

Há palavras grávidas, que comportam mais de um significado dentro de uma cultura. Eu precisava rever o conceito original de protagonismo, e perceber que protagonismo pode ser visto a partir de algumas perspectivas. A primeira dela figura a de “ator/atriz principal de um filme, roteiro, livro…”. Segundo o dicionário, protagonista é: 

[Artes] Ator ou atriz que representa o papel mais importante numa peça, novela, filme. 

[Literatura] Personagem principal de um livro. 

[Por extensão] Pessoa que possui um papel relevante ou de destaque numa situação, acontecimento. 

Nas artes, ser protagonista é ter destaque e relevância em um contexto. O protagonista de uma história traz essa ideia de um ator no centro do mundo, foco das atenções gerais, em torno do qual circulam os coadjuvantes. E neste contexto de redes sociais, pessoas têm se iludido com a suposta fama das curtidas, enquanto os desavisados também entram na onda viciante de views e likes.  

Muitos não estão conscientes de suas narrativas. São tantos que acreditam ser fonte de um saber inesgotável, ou uma beleza incomparável, ou um modelo de vida inigualável, sensação amplificada pela quantidade de interações superficiais. Basta uma pequena discordância com algum posicionamento do protagonista, e a fama é arranhada, pois a expectativa dos fãs é a perfeição e o heroísmo constante. Quanto peso para esse protagonista?!  

Outros tantos acreditam piamente na ilusão superficial da rede social, criando uma massa de pessoas que não reflete coletivamente, apenas consome passivamente conteúdos dirigidos pelo algoritmo. Desculpa, mas se tornam massa de manipulação do algoritmo.  

A sociedade em rede se ilude com o mundo virtual, acreditando em tudo o que é veiculado e validando o protagonismo nos números de seguidores, sem refletir necessariamente sobre a pertinência e coerência das informações veiculadas. Aí o papel da fake News toma uma dimensão ainda mais destrutiva.  

Ninguém questiona a autenticidade dos pensamentos e a relevância da comunicação. A rede social virou uma vitrine da ilusão. Os protagonistas de tiktok estão tão focados em si mesmos, que não mais conseguem ter interações reais, vivenciando cenas públicas que revelam a dependência psicológica e o adoecimento mental. Perdem uma habilidade essencialmente humana, a empatia, e agem como se todos devessem adorá-lo e servi-lo, como se fosse ator principal do mundo.  

Isso não é protagonismo. Então, o que seria protagonismo à luz da mediação? 

Para quem não sabe, mediação é um meio consensual de resolução de conflitos, em que um terceiro neutro (mediador), facilita o diálogo entre os envolvidos em uma disputa, por meio de técnicas e competências, para que consigam encontrar uma solução mais satisfatória para ambos.  

A mediação é um processo em que se promove o protagonismo dos envolvidos no conflito. E como isso acontece? 

Quando estamos imersos nos conflitos, perdemos nossa capacidade de compreender o outro, passamos a não escutar nosso opositor e entramos, algumas vezes, em embate. Deixamos com que as fortes emoções inebriem nosso racional.  

Diante dos desafios nas relações, podemos entrar na espiral do conflito, acumulando estresse, rancor, raiva, tristeza. Acabamos perdendo o protagonismo na tomada de decisão, ou seja, a capacidade de atuar com autonomia de vontade naquela circunstância conflitiva e escolher com clareza gerando bons resultados.  

Somos protagonistas quando temos informações e capacidade para decidir o que é melhor para nós, exercendo nossa liberdade e assumindo a responsabilidade diante dos riscos de nossas escolhas. 

Ter poder de decisão em nossa vida é o verdadeiro empoderamento. A nossa vontade se expressa com autonomia quando compreendemos quem somos, nossas atitudes no mundo e como elas impactam outras pessoas, que até podem ser coadjuvantes em nossas vidas ou outros protagonistas nas suas vidas.  

Protagonista não compete porque ele está consciente da própria vida e do que realmente quer. Você deseja construir a versão “próspera, poderosa e livre”? Esteja consciente de suas forças e fraquezas, seja mais humana. Pratique a empatia, tenha referências e não comparações e menosprezo. Encare a liberdade de ser com vulnerabilidade e responsabilidade. Sinta-se plena em sua autêntica maneira de ser. 

Por Betina Costa 

25 de fevereiro de 2024

Clarissa Vilar: Que tipo de paz disfuncional conservamos para tentarmos ser felizes?

Damos início hoje(25), o nosso primeiro “Benditas Mulheres Convida” uma série de textos escritos por algumas personalidades convidadas pelas integrantes desta coluna. Hoje iniciamos com Betina Costa convidando a Clarissa Vilar.

“Clarissa é escritora piauiense, com quatro livros publicados, e muitas crônicas escritas. Seu olhar revela a reflexão madura sobre o cotidiano contemporâneo. Com seu jeito próprio, provoca em nós questões sobre as particularidades da vida moderna e seus valores. Em mim, suas palavras já chegam me inspirando a refletir junto e escrever, neste dinamismo e pluralidade de percepções que é a vida”, pontua Betina Costa.

Então, deliciem-se com o texto assinado por Clarissa Vilar:

Olhares raros

Pois, paz sem voz, paz sem voz

Não é paz, é medo!

(Medo! Medo! Medo! Medo!)

Às vezes eu falo com a vida

Às vezes é ela quem diz

Qual a paz que eu não quero conservar Para tentar ser feliz?

(O Rappa)

Lembro da professora de literatura no colégio dizer que quando lemos um texto de novo, sempre iríamos ver detalhes antes não vistos. Escutei essa música e fiz a conexão. Que tipo de paz disfuncional conservamos para tentarmos ser felizes ou mascarar uma suposta felicidade?

No filme “Flores raras”, a poetisa Elizabeth Bishop observa da sacada do apartamento de sua amada, a arquiteta Lota, amigos jogando futebol normalmente na praia, como se nada tivesse acontecido. Só tinha um problema: era o dia do golpe militar. Ela não entendeu que paz era aquela. Disse mais tarde em um jantar com políticos:

“Eu gostaria de entender essa alegria insuportável que os brasileiros sentem. Essa urgência constante de celebrar. E então, há a melancolia, o drama, é extravagância, é abandono. Para uma norte-americana como eu, é excessivo.

Quando Kennedy morreu foi tão grande a manifestação de dor? Porteiros, taxistas, faxineiras, por quê? O que vocês perderam? Mas quando o golpe militar aconteceu e vocês perderam a liberdade, eu estava lá, vocês foram jogar futebol na praia”

Lembrei desse diálogo. Quando estava eu indo para uma consulta em uma torre empresarial quando vejo dois funcionários discutindo quem ia ou não para a copa do mundo.

Enquanto isso o governo fechava 2023 com déficit histórico de 230 bilhões. E ninguém nas ruas. Dos tipos de paz que se tem na prateleira da mente, há paz do comodismo, da cegueira política, da cidadania com lacunas. O brasileiro próprio se derrota. Quando um motoqueiro atravessa o sinal vermelho, pois acha que não vai ser pego. Quando um convidado na festa paga extra o garçom para ser melhor atendido.

Quando um funcionário não quer emitir nota fiscal.

Essa anestesia política e moral é um vírus que atinge a muito e tem potencial de contaminar outros. O futuro não é mais como era antigamente, disse o cantor Renato Russo.

Antigamente tínhamos revoluções, balaiadas, canudos, independência ou morte. Hoje temos um carnaval anual sem sentido, em meio ao caos, uma alegria anestesiante.“Panis et circenses”, o eterno pão e circo, é uma paz perigosa, pois mascara a realidade. É melhor ser alegre que ser triste? Sim. Mas positividade também pode ser tóxica. Renato Russo e Elizabeth Bishop não se encontraram. Mas se eu pudesse dizer a Elizabeth, mostraria esse trecho da música “Perfeição”, que também critica esse desespero por celebrar do brasileiro:

“Vamos celebrar nossa bandeira

Nosso passado de absurdos gloriosos

Tudo que é gratuito e feio

Tudo o que é normal

Vamos cantar juntos o hino nacional

A lágrima é verdadeira

Vamos celebrar nossa saudade

Comemorar a nossa solidão”

Sim, há celebrações tristes e inúteis no Brasil, que só olhares raros conseguem ver. O resto é míope, não consegue ver de longe o poço de melancolia que nossa realidade problemática nos insere. Por fim, finalizo esse artigo com a última estrofe, que creio, nos representa também:

“Venha

Meu coração está com pressa

Quando a esperança está dispersa

Só a verdade me liberta

Chega de maldade e ilusão

Venha

O amor tem sempre a porta aberta

E vem chegando a primavera

Nosso futuro recomeça

Venha, que o que vem é perfeição”                                                        

Por Clarissa Vilar@psiclarissavilar

19 de fevereiro de 2024

Trilhando Caminhos na Arquitetura e no Urbanismo: Uma Perspectiva Feminina

Com profunda gratidão, gostaria de iniciar esse diálogo no Benditas Mulheres falando um pouco sobre minha jornada no mundo da Arquitetura e Urbanismo, trazendo para o centro da conversa o papel fundamental das mulheres no desenho do espaço urbano e como suas experiências enriquecem a dinâmica das cidades. Desde os primeiros passos na universidade, dediquei-me a compreender como as mulheres deixam suas marcas na identidade urbana e transformam tanto esferas domésticas quanto públicas. Estudar a forma como as mulheres habitam, interagem e moldam os ambientes urbanos se tornou uma paixão, levando-me a reconhecer que os lugares são dotados de significados pelas histórias que elas tecem. Em minha trajetória como arquiteta e urbanista, tenho me dedicado a entender e aplicar princípios que tornem as cidades mais inclusivas e acolhedoras, especialmente para as mulheres. Afinal, uma cidade que responde às necessidades das mulheres é uma cidade que atende bem a todos os seus habitantes.

Ao considerar a presença feminina nos centros urbanos, percebi a urgência em repensar nossas cidades para que se tornem refúgios de inclusão e acolhimento para elas. A vivência feminina, muitas vezes marcada por desafios únicos, é um elemento transformador que não pode ser ignorado na formação de metrópoles contemporâneas.

Através desta coluna, pretendo fomentar discussões que valorizem a influência feminina no urbanismo, sublinhando por que cidades que são boas para as mulheres são, de fato, melhores para todos. Uma cidade planejada com sensibilidade às necessidades das mulheres é uma cidade que atende melhor a seus cidadãos em todas as dimensões - segurança, acessibilidade e oportunidade. Cidades que ouvem suas mulheres crescem em empatia e prosperidade, tornando-se lugares onde todos, independentemente do gênero, podem prosperar.

Um exemplo emblemático dessa abordagem foi o projeto de revitalização do centro de Teresina, onde participei ativamente do redesenho do espaço urbano. Neste projeto, desafiou-se o status quo ao remover o asfalto de oito ruas centrais, substituindo-o por bloquetes de cimento, com calçadas alargadas e uma série de mobiliários urbanos convidativos, como bancos e lixeiras, e integrando o verde da vegetação ao cinza do concreto.

O projeto não foi apenas uma renovação estética; ele representou uma profunda transformação social e ambiental. Alargando as calçadas, proporcionou-se mais espaço para a circulação segura de pedestres, o que é especialmente importante para mulheres que, muitas vezes, transitam com crianças ou fazem mais uso do espaço público como pedestres. A instalação de bancos e lixeiras trouxe conveniência e conforto, incentivando as pessoas a pararem, descansarem e interagirem, o que nutre o tecido social e fomenta uma sensação de comunidade.

A introdução de vegetação, por sua vez, foi mais do que estética; foi uma injeção de vida. Árvores e canteiros não só embelezam, mas também melhoram a qualidade do ar e mitigam as ilhas de calor, tornando o ambiente urbano mais agradável e saudável para todos.

Essas mudanças também trouxeram um impacto ambiental significativo. A redução da velocidade dos automóveis nessas vias aumentou a sensação de segurança para o pedestre. O projeto de Teresina exemplifica como a arquitetura e o urbanismo podem contribuir para uma cidade mais humana e mais feminina, considerando e respeitando as experiências das mulheres em seu design.

Ao repensar as cidades com um olhar feminino, estamos, na verdade, atendendo a uma gama mais ampla de necessidades humanas. Uma cidade desenhada para ser segura para as mulheres é uma cidade segura para todos. Espaços que são confortáveis para mães com carrinhos de bebê são confortáveis para todos os pedestres. E áreas que permitem que as mulheres se sintam proprietárias do espaço público são áreas que promovem a cidadania e o pertencimento para todos.

Nossa intervenção no centro de Teresina é apenas um exemplo, mas é um modelo poderoso do que pode ser alcançado quando arquitetos e planejadores urbanos se propõem a construir não apenas estruturas e espaços, mas também a tecer as redes de inclusão e igualdade que são o verdadeiro alicerce de qualquer metrópole próspera. Em cada rua que revitalizamos e cada praça que tornamos mais verde, estamos reconstruindo a cidade não só em termos físicos, mas também sociais e culturais.

Assim, com cada projeto que abraço e cada espaço que reimagino, levo comigo a convicção de que a arquitetura e o urbanismo têm o poder e a responsabilidade de criar cidades que não apenas existam, mas que verdadeiramente vivam e respirem pela igualdade e pelo respeito à diversidade de todos que as chamam de lar.

21 de janeiro de 2024

Por que planejar?

Por Cláudia Claudino

Estamos iniciando mais um ano, e se você ainda não fez seu planejamento, avalie a possibilidades de fazer agora. Por que planejar?

O planejamento faz parte da boa administração. Através dele, reduzimos o tempo de execução das tarefas, gerando redução de custo, e proporcionando oportunidade para que outras demandas sejam feitas. Quando não se planeja, corre-se o risco de acontecer um retrabalho, que pode ser gerado por equívocos, falha na comunicação, mas principalmente pela falta de planejamento, onerando valores de produção, além de gerar desperdício de material, tempo e prejudicar a qualidade final do serviço ou produto.

Tais observações referem-se ao ambiente de trabalho, mas não é apenas nesse aspecto que vemos a falta de organização nos impedir de crescer, o planejamento pessoal e tão importante quanto. Assim sendo, já iniciou a atividade física? E aquele livro que iria iniciar? A viagem tão sonhada? A dieta após as festas de final de ano? O que realmente se concretizou? Esperar a próxima semana? A próxima segunda-feira? Não, o momento é agora. Dar o primeiro passo na direção da realização das metas desejadas, após serem planejadas, é seguir rumo a ação, enfrentando os obstáculos ao longo da caminhada, edificando nossa construção com cada pedra encontrada.

Sempre gostei de planejar, e era até de uma forma exagerada, que me tornava uma pessoa estressada, intransigente e impaciente. O tempo, as experiências vividas e a maturidade mostraram-me que não precisava tanto, e que meu planejamento poderia acontecer, mas entendendo que nem tudo sairia como planejado e que o inesperado poderia acontecer, que o tempo de Deus não é o tempo do homem.

Os atrasos acontecem, e o resultado poderia ser até melhor do que o planejado, onde a comunicação é de extrema importância para a realização das tarefas e êxito do planejado, que devemos identificar as habilidade de cada pessoa e colocá-la na função adequada, onde desempenhará melhor seu talento e que se seu planejamento não saiu exatamente conforme desejava, é porque não era para ser, que o que deveria ter acontecido não aconteceu porque você não foi organizado ou seguiu as diretrizes necessários, mas simplesmente porque não era assim que devia ter sido, nos dando a certeza de que fez o melhor dentro daquilo que era possível ser realizado.

Cresci e evolui neste quesito. Continuo planejando, mas já não me estresso com as intercorrências. Aprendi que problemas são oportunidades de crescimento e que os planos de Deus para nossas vidas são superiores aos nossos. Aprendi que o que deve ocorrer, será no tempo certo. Meu nível de ansiedade diminuiu e eu aprendi a apreciar cada segundo da minha vida, aqui e agora. Este foi o caminho que me levou a felicidade.

Que tal escrever agora as metas de 2024? Que sejam aquelas que realmente possam ser realizadas e alcançadas, sem que tenha que mover céus e terra, pois o mais importante é dar o primeiro passo em direção à mudança que deseja para a sua vida, principalmente aquelas que te levarão a um ser humano melhor, um passo de cada vez e criando novos desejos à medida que se torna mais confiante de que pode realizar algo imenso aos seus olhos, desenvolvendo suas capacidades de planejar e a partir disso, conquistar. Feliz 2024!

07 de janeiro de 2024

Trilhas na natureza

Por Betina Costa

Todas as férias de dezembro, temos feito o mesmo destino com os filhos: Campos do Jordão. Desde que Joaquim tinha quatro anos, hoje com 13, e Catarina era uma bebê (hoje ela tem 8 anos), Campos é nossa escolha para passarmos dias desbravando este destino.

Toda vez, fugimos dos caminhos turísticos para nos aventurar em trilhas na natureza e aproveitar os dias de frio com sol, e, às vezes, chuva, comum nesta época de dezembro e janeiro. O principal local que amamos ir com os filhos pequenos é o Parque Municipal de Campos do Jordão.

É seguro em termos de aventura, porque os riscos que apresenta estão sob controle, inclusive com avisos de cobras e pequenos animais, além da consciência ecológica, com os cuidados que devemos ter com o meio ambiente. O parque apresenta uma linda flora, com araucárias e plantas da mata atlântica, abrigando várias espécies de animais. Constantemente, vemos pássaros, como beija-flor, quero-quero, aves, como o Jacu, papagaio do peito roxo, macacos.  

Em todos estes anos, nunca encontramos cobras, o que realmente nos frustrava, porque a expectativa sempre é descobrir a natureza viva. E não é que, dessa vez, nós encontramos na trilha uma cobra, da espécie da Jararaca?! Simmm!! Era uma urutu, e ela é venenosa. Os guardas foram super zelosos e atenderam com rapidez ao nosso grito de susto. Eu dei um grito inesperado (kkkk)!! A cobra até se assustou, e foi na direção contrária a nós.

Nenhum problema ocorreu além do susto, e rimos muito apreciando a nova descoberta. Na verdade, já tínhamos aprendido em outras circunstâncias que não precisamos temer as cobras, e sim, saber como lidar ao topar com uma.

A cobra somente ataca se houver risco a sua segurança, se pisarmos em cima ou interagirmos inadvertidamente com elas. São poucos os incidentes com cobras no parque. Ao adotar atitudes com atenção, cuidado e conhecimento, podemos prevenir situações de risco.

Para mim, essa é a gestão de risco na prática. Empreender é ter coragem de enfrentar as adversidades, mapeando os perigos e se preparando com competências e conhecimentos que nos auxiliem a superar os obstáculos.

Enfrentamos sol e chuva, areia, lama, musgos, pisos escorregadios, pedras, matas mais fechada. Algumas trilhas possuem, inclusive, subidas e descidas íngremes, que desafiam, em certo grau, até nós adultos.

Nosso filho mais velho, Joaquim, já está com preparo físico, autonomia e confiança. Mas, Catarina, 8 anos, e Benício, com 6, estão se habituando na caminhada, no entanto, já demonstram engajamento com a jornada, partilhando inclusive as informações sobre cuidados na trilha.

Para a aventura, vamos devidamente preparados com as vestimentas e calçados adequados, e um inventário nas mochilas, carregadas por nós, os pais e Joaquim. Ele já colabora com a equipe, auxiliando a carregar algumas necessidades, como capas de chuva e água.

Eles sabem o que precisa ser feito na caminhada no meio da mata, sabem as razões de adotarem determinadas ações, porque dialogamos repetidas vezes com eles. Por vezes, eu até já disse ao Celso o quanto ele é repetitivo, no entanto, entendi a necessidade de repassarmos com eles os conhecimentos. Dessa forma, não precisamos o tempo todo dizer “não faça isso, senão…” Assim, eles descobrem por si mesmos os valores e motivações dos cuidados na trilha.

É fundamental que conheçamos as razões para adotar determinadas condutas, e o diálogo aberto e empático contribui para a comunicação eficiente nas equipes. Isso não serve apenas para a relação familiar, e sim, toda relação, inclusive no ambiente de trabalho.

Como amo contemplar a natureza, eu aproveito para ensiná-los a apreciar, inspirar o ar profundo, meditar enquanto caminhamos, silenciar e ouvir o canto dos pássaros. Eis uma fonte de bem-estar, recomendada hoje até por médicos para tratar a ansiedade.

Dessa vez, decidimos conhecer a mais simples das trilhas, Trilha das Quatro Pontes, e completar uma outra, a da Cachoeira, em que desistimos algumas vezes no meio do caminho diante das circunstâncias. A trilha das pontes é de curta duração (30 minutos), indicada para realizar com crianças, devido ao nível de dificuldade ser baixo. Algumas, no entanto, possui pontes instáveis que oscilam com nossa passagem.

Esse fato causou medo na Catarina, ao andar logo na primeira ponte de madeira sobre uma forte correnteza. Houve certa irritação, porque o irmão mais velho fez o papel de provocar a irmã. Mas, contornamos a situação, lembrando as razões dos cuidados que devemos ter e o respeito ao receio do outro na equipe.

Ela superou o medo, dando pequenos passos, e descobriu um passeio incrível. Ficamos orgulhosos ao ver ela mesma explicar a si mesma o que deveria fazer, como não olhar para baixo e apoiar na lateral da ponte.

Percebo que a desenvoltura deles foi impulsionada por tantas outras vezes em que “fracassamos”. Uma vez, não completamos a trilha da Cachoeira, retornando no meio, pois verificamos que as crianças não teriam condições de aguentar os restantes quinze minutos somente de ida, com um retorno de 40 minutos.

Para elas, que não compreendem essa análise de riscos, foi uma enorme frustração. Por mais que explicássemos, elas não conseguiam compreender a nossa decisão. Como sempre acontece em situações que precisamos dizer não aos pequenos, houve birra, negação, choro, acusação, implicâncias. E sabemos como essas situações de birra são desafiadoras para nós pais em condições “normais”, imaginem no meio da floresta?! Então, nem tudo são flores.

Dessa vez, completamos dois circuitos: das quatro pontes e da cachoeira. Eles amaram, e, claro, eu os lembrei da situação em que não conseguimos atingir nossa meta de chegar na cachoeira. A felicidade estava estampada no rostinho deles, o encantamento com as quedas d’água e a natureza exuberante. Voltaram com as energias recarregadas, precisando de poucas paradas para aguentar o retorno. E o mais importante: compreenderam a importância de perseverar e de retroceder quando necessário.  

Por mais que eles ainda resistam a algumas explicações ou não compreendam em sua totalidade a profundidade desses ensinamentos, percebo que eles acabam assimilando ao revelarem os aprendizados em algum momento posterior. Eu me surpreendo como fica registrado em suas mentes. Por isso, como pais, precisamos ser persistentes, falar o quanto for preciso, mesmo depois de perdermos a paciência.

Quem vê os registros, não imagina as manobras e preparos físicos e emocionais para este caminho. Prepará-los é a maior aventura de nossas vidas. Tenho convicção que eles levarão esses ensinamentos para a vida real, porque a caminhada na natureza traz a metáfora de nossas existências. Motivações, planos e metas, preparo, gestão de riscos, coragem, cautela, competências, conhecimentos, monitoramento, contenção de recursos, trabalho em equipe, paciência, resiliência, decisões conscientes, com algumas reflexões filosóficas.

Como pais, indicamos os caminhos, as trilhas, as jornadas. Como líderes, inspiramos atitudes de confiança em si mesmo e na equipe, dialogamos e escutamos pontos de vista diversos, tomamos decisões que desagradam, explicamos as razões e não criamos expectativas de que concordem, pelo menos, aceitem.

Como pais, ensinamos os conhecimentos, aprendemos com os outros e compartilhamos as experiências. Para um dia, eles mesmos tomarem as próprias decisões com autonomia. Por enquanto, eles têm optado por nos acompanhar com entusiasmo e envolvimento. Isso que esperamos de nossas equipes. 

São essas experiências em família que me fazem profundamente bem, nutrem minha’alma, fortalecem meu cardio. São essas experiências que me fazem refletir o quanto a filosofia e a mediação trazem saberes para uma vida com sentido e empatia.

Precisamos aprender a reconhecer nossa essência e sabedoria nessas simples experiências, encontrar momentos de completude, estar presentes no aqui e agora, para seguir diante dos desafios modernos, rememorando os dias únicos vividos intensamente na vida real, longe do virtual.

24 de dezembro de 2023

Hora do balanço?

Por Cláudia Claudino

Chegamos a mais um Natal e virada de ano. Nesta época do ano, escuto muito as pessoas falarem em avaliar os pontos positivos e negativos, os ganhos e as perdas, enfim fazerem o balanço do ano. Bem, eu penso que se não decidirmos realmente buscar o diferente, após esta reflexão, para que o próximo resultado seja melhor, nada vai mudar. Anos e anos passarão e tudo continuará no mesmo jeito, altera-se apenas a nossa idade.

Sair da zona de conforto dói, assusta e dá trabalho, mas não tem jeito pois se não dermos o “sim” para a mudança que precisamos fazer na nossa vida, não evoluiremos enquanto seres humanos. Ao longo deste ano, tive oportunidade de conhecer e fazer amizade com muitas pessoas e com cada uma compartilhei experiências que impactaram no meu processo de crescimento. Em algumas, percebi o quanto este processo de mudança é difícil, embora haja um desejo para que aconteça. As crenças limitantes que nos são colocadas, sejam pela nossa criação ou pelo meio em que vivemos, e os julgamentos, representam as maiores barreiras para dar o primeiro passo rumo ao encontro consigo mesmo, o autoconhecimento.

Acredito que fazer um balanço do ano seja positivo, desde que ele possibilite melhorias. Que tal ao longo do ano, refletir diariamente e não somente esperar terminar o ano? Assim, podemos já promover as mudanças necessárias e novos hábitos vão sendo praticados. Quando chegarmos ao final do ano, perceberemos que a transformação aconteceu e sem dúvida, o resultado será muito melhor.

Promessas para o ano seguinte? Não! Faça agora. Plante a semente hoje. Abrace hoje. Fale hoje. Agradeça hoje. Peça hoje. Todo dia recebemos de presente aquele dia a mais na nossa vida, e esse tempo não podemos economizar ou guardar para ser usado em outro momento. Assim, use-o da melhor forma possível, pois passa e a cada novo dia das nossas vidas, ficamos com menos tempo a viver.

Trazendo para o campo empresarial, quando o balanço da sua empresa for realizado, avalie não somente os números que resultarão em lucro ou prejuízo, mas avalie a parte humana, os colaboradores que estão no dia a dia, representando sua marca. Ética, justiça e felicidade estão presentes dentro da sua empresa

Dia a dia fui fazendo meu balanço e aconteceu de uma forma onde a pergunta feita foi: isto me trará “paz na consciência e alegria no coração”? Assim, fui seguindo a minha caminhada de 2023, vivendo cada momento com presença e intensidade, pautados nos meus princípios e valores, fortalecidos na minha fé em Deus.

Sementes foram plantadas, outras já crescidas sendo regadas e frutos colhidos.

E você? Como foi o seu balanço?

17 de dezembro de 2023

TRANSFORMAÇÃO EM TEMPOS COMPLEXOS

Por Betina Costa

“Venho fazer um convite a vocês: aproveitar a oportunidade deste tempo e explorar a possibilidade de crescer com as mudanças, aprender o novo, florescer e transformar a si mesmos e suas relações.”

Eis uma época do ano em que mais somos chamados à renovação, com a reflexão sobre metas, reestruturar planos, realizando balanços. Mais do que o período natalino e de ano novo, precisamos perceber que estamos vivenciando uma verdadeira mudança de era, novos paradigmas diante da intensa conectividade e interdependência global.

A velocidade das mudanças está exponencial diante da escalada da tecnologia, da inteligência artificial e da conectividade mundial, encurtando distâncias, aproximando culturas e acelerando processos. O que antes levava-se décadas para mudar, hoje a volatilidade e a impermanência de contextos impactam numa velocidade desconcertante, por vezes, angustiante.

Essa grande velocidade de interação social aumenta ainda mais as instabilidades sociais, políticas e econômicas, gerando um contexto complexo. Muitos reclamam, criticam, descortinando cenários caóticos. No entanto, é preciso ir além das críticas, é essencial refletir sobre esse contexto e como ele nos impacta, na vida e no futuro da nossa humanidade, do trabalho e das empresas. Pois, é a partir deste processo reflexivo que as soluções criativas surgem.

A realidade influencia a forma como pensamentos, sentimos e nos comportamos. Muitas vezes, vivenciamos a manipulação da realidade, que impacta de forma ainda mais considerável as relações e as reações da humanidade.

Que tempos são esses?! Tempos em que as mudanças se sobrepõem nessa velocidade surpreendente, desafiando nossa necessidade humana de controle e segurança. A insegurança gerada por este contexto é gatilho para muitos outros desgastes (além dos econômicos, sociais e políticos), ocasionando deteriorações emocionais, psíquicas, físicas, relacionais.

Os desafios enfrentados são os mesmos dentro do ambiente corporativo. Empresas são feitas de pessoas e suas relações. Parece óbvio falar isso, mas é preciso reforçar, pois há uma naturalização do automatismo e da super produtividade, como se fôssemos máquinas a gerar contínuos resultados.

A complexidade do cenário vem sendo objeto de estudos, análises de grandes pensadores, sendo descritos através de acrônimos como mundo VUCA e mundo BANI. VUCA é a sigla em inglês para as palavras: volátil, incerto, complexo e ambíguo; enquanto BANI traduz as ideias de fragilidade, ansiedade, não linear e incompreensível.

Até poucos anos atrás, nem estávamos familiarizados com este termo, mundo VUCA, que representa o período histórico pós-guerra fria, descrito de forma a explicar como o que acontecia no mundo impactava a vida das pessoas. Mas, um episódio descortinou um cenário de filme de ficção científica. Em março de 2020, tivemos a declaração oficial de pandemia pela ONU. A partir deste momento, este mundo incerto, complexo, volátil, e ambíguo, invadiu nossas casas e trabalhos, impactando todos globalmente.

Não obstante as inúmeras descrições do cenário atual, o fundamental é aprender a lidar com este quadro descrito, que nos causa, no início uma reação de incredulidade e negacionismo, diante dos sentimentos de impotência, medo e frustração. No entanto, os efeitos e impactos desses gatilhos de desconforto e incerteza dependem de como cada pessoa, organização, estado, empresa lida com essas adversidades. Cada um lida com problemas a partir do repertório de vida que possui, com crenças, culturas, experiências, inteligência emocional etc.

A transformação, então, depende do nosso desenvolvimento como seres humanos, da aprendizagem de competências e capacidades que nos tornem protagonistas das transformações, e não vítimas das crises. Nas empresas, não é diferente, são pessoas que determinam o sucesso ou insucesso do negócio diante desses complexos desafios.

É preciso, então, pensar fora da caixa, sair dos encaixes de velhos padrões para pensar coletivamente em soluções criativas e inovadoras, a partir das habilidades humanas. É preciso olhar de forma mais ampla para a realidade do que essas explicações lógicas (e ilógicas) do mundo. Racionalizar simplesmente sobre todos esses aspectos de imprevisibilidade, caos, insegurança, não trará as ações eficazes a transformar essa realidade.

Repito, de uma outra perspectiva: precisamos ampliar nossa percepção de forma a não apenas racionalizar, para compreender esse mundo para além dessas lentes racionais, analíticas e objetivas. Precisamos agregar o conhecimento do sentir, da subjetividade de cada indivíduo.

Pensar e sentir o mundo para percebê-lo com nossas sensações, sentimentos e como esta complexidade nos afeta. Essa compreensão irá definir como enfrentar esses desafios, desenvolver recursos pessoais (competências e habilidades) para tomar decisões conscientes e assertivas, a partir dos aprendizados a colher, errando e acertando, evoluindo.

Você, leitor, pode estar pensando: “Ah Betina, vamos sofrer diante de tudo isso. Se pararmos para sentir, o mar revolto das emoções vai invadir nossa mente. Vamos ficar mais ansiosos e nos sentiremos impotentes. Não dá para parar e sentir. Temos que calar as emoções e seguir em frente. Emoção é fraqueza.”

Esses são padrões de pensar e racionalizar a realidade que não nos trazem benefícios, e, muitas vezes, causam adoecimentos. São padrões que nos dizem a ser super-humanos, heróis, livres de emoção, máquinas de alta performance e resultados extraordinários. ‘Homens’ racionais.

Até que, uma hora, tudo o que pensamos que controlamos, implode e/ou explode, porque o problema foi empurrado para debaixo do tapete, foi negado, negligenciado. Ora, os cenários mundial, nacional, local, não estão sob nosso controle, a vida não é um movimento certo e previsível que podemos controlar. Devemos ter consciência disso.

Então, precisamos encarar o fato de que não somos somente animais racionais, somos humanos. E como humanos, não somente pensamos. Como humanos, pensamos e sentimos, percebemos este mundo e damos significados a tudo o que vemos.

Olhar para esse sentir não é fraqueza, é fortaleza. Somos seres racionais e emocionais.

Não há respostas certas para estes tempos incertos. Talvez haja respostas possíveis para as perguntas certas. Tenhamos compromisso em permanecer tentando achar as respostas simples para as perguntas mais difíceis, a partir do desenvolvimento de nossas capacidades humanas: pensar e sentir.

A resistência para as mudanças vem de uma guerra que não é externa, mas interna. O homem contra ele mesmo, contra seus instintos, sombras, defeitos, inércia. Precisamos querer autenticamente mudar para evoluir, com coragem, resiliência e constância. Assim, canalizamos a vontade de crescer, mantendo foco, encontrando aliados que queiram evoluir conosco, criando hábitos, reinventando nossa realidade.

Módulo sobre "Protagonismo nas relações" no PDLF - Programa de Desenvolvimento de Liderança Feminina na AMNE
Betina Costa conduzindo o módulo "Protagonismo nas relações" no PDLF - Programa de Desenvolvimento de Liderança Feminina na AMNE - Associação Mulheres d'Negócios do Piauí

Do lado de fora, as transformações acontecem independente de nosso querer. Do lado de dentro, prevalece o poder da decisão e do autorreconhecimento dos recursos internos para lidar com essas mudanças. Temos as capacidades biológicas para nos adaptarmos, desenvolvermos competências e fazermos o melhor para o enfrentamento necessário das adversidades, sem heroísmo, mas com protagonismo.

12 de novembro de 2023

Histórias transformadas

Por Cláudia Claudino

Durante toda minha vivência dentro do Armazém Paraíba, conheci histórias que me inspiraram, motivaram e ensinaram. Histórias de luta, dor, superação e conquistas.

Em outubro, concluímos mais uma turma do PDL (Programa de Desenvolvimento de Liderança) do Armazém Paraíba. Nesta edição, foram 28 vidas impactadas e transformadas, de maneiras diferentes e singulares.

Ao longo desses últimos seis anos, tenho aprendido e crescido muito com cada história que a mim tem sido confiada por meio de uma escuta empática e respeitosa. Histórias que acolhemos, cuidamos e ressignificamos, pois só assim podemos nos tornar seres humanos melhores. Precisamos aprender a olhar para frente, tratando nossas dores do passado e desbravar um futuro diferente. Sem isso, ficaremos estagnados, presos a este passado, nos impedindo de progredir, evoluirmos e exercitarmos a nossa liderança.

Veja, a liderança começa em si mesmo, e entender esse passado para construir algo novo é o primeiro passo para criar futuros melhores e com resultados com mais sentido. A partir do momento que nos tornamos líderes de nós mesmo, poderemos liderar os demais com maior conexão.

Podemos destacar relatos de histórias em que o passado exercia uma influência significativa sobre o desenvolvimento individual, agindo como um obstáculo para o progresso de cada pessoa (nestes relatos os nomes dos participantes são fictícios). Maria relata que desde a separação da sua mãe (há 20 anos) perdeu o contato com a mesma. João não conheceu o pai, pois ainda no ventre da mãe, foi abandonado. José saiu de casa, pois o pai não aceitava a sua escolha de gênero. Carla foi trancada numa sala de aula por outros colegas ainda pequenas, desenvolvendo traumas de permanecer em ambientes fechados. Pedro viu sua mãe ser agredida durante anos pelo seu pai. Enfim, histórias que se repetem com muitos, mas, poucos conseguem virar a página.

Traumas carregados por anos e anos, impactando diretamente no crescimento pessoal e profissional.

Outro dia ouvi de um gestor uma queixa de que “agora temos que ser até psicólogo para ouvir os problemas dos colaboradores”. Daí eu disse, sim, ouvir é hoje a mais importante habilidade de uma liderança, e em certos momentos precisamos agir como psicólogos e compreender as dores de cada um. Daí poderemos avaliar o desempenho de cada colaborador e fazer as correções necessárias.

Exercer a escuta ativa, não nos torna psicólogos, mas nos torna líderes humanizados para compreender quais são as necessidades dos colaboradores naquele momento e direcionar melhor as soluções.

Em cada profissional, existe um ser humano, com todas as suas dores e emoções. O Líder precisa saber ouvir para entender.

05 de novembro de 2023

Gestão adequada de conflitos nas empresas: viabilizando um ambiente de segurança psicológica

Por Betina Costa

Este artigo é dedicado a líderes e gestores que entendem que nas relações corporativas podem naturalmente ocorrer controvérsias, pontos de vista diferentes, erros e fracassos, frustrações de expectativas entre as partes, e que tudo isso pode ser resolvido de forma criativa e positiva.

É possível lidar positivamente com os conflitos? É possível superar os obstáculos nas relações interpessoais dentro do ambiente de trabalho? É possível aprender com os conflitos? Como conviver dentro dos ambientes de trabalho de maneira a fomentar melhores relacionamentos em equipes e o efetivo engajamento de seus membros?

Essas são algumas questões importantes a guiar nossa percepção sobre a importância de lidar de forma adequada com as disputas no ambiente de trabalho e as vantagens à corporação, em âmbito econômico, social e psicológico.

Quando pensamos em conflitos, logo imaginamos situações de agressões mútuas, violência verbal e física, embates concretos, disputas estabelecidas. No entanto, ao entendermos as raízes dos conflitos, reconhecemos que esses eventos descritos são, na verdade, escalas de desentendimentos que se originaram muito antes. Antes de escalonar, os conflitos já se manifestam como falhas na comunicação, diferenças entre percepções e opiniões, interrupções de falas, erros de interpretação, exclusões e outras atitudes que indicam pequenas discórdias, situações que, se geridas podem criar oportunidades de transformações.

Os conflitos não são necessariamente negativos. O que todos podemos concordar é que os efeitos dos conflitos são negativos, pois impactam as relações e contaminam o ambiente: desconforto, rompimentos, fofocas, desrespeitos, vinganças, boicotes, fraudes, discriminações, insubordinação, desobediência, e sentimentos como frustração, raiva, medo, apatia etc. Quando não geridos os conflitos na fase inicial, o seu escalonamento compromete as relações com os diversos públicos com os quais a empresa interage (stakeholders), afeta o atendimento ao cliente, a longevidade dos contratos e sustentabilidade da organização como um todo. 

Um clima organizacional conflituoso causa impactos significativos no psicológico das pessoas, ocasionam um ambiente organizacional insalubre a nível psicológico, propiciando uma combinação de emoções mais intensas e desequilibradas, como ameaça, constrangimento, pressão, rejeição, incompreensão, medo e ansiedade. Esses efeitos causam muitos custos invisíveis por serem de difícil mensuração, mas possíveis de serem diagnosticados como fatores de riscos para as organizações, a partir de um mapeamento adequado com indicadores.

Existem hoje práticas, técnicas, procedimentos e competências que auxiliam na prevenção e gestão adequada dos conflitos nas empresas, que irão auxiliar com estratégias para a superação dos problemas interrelacionais e fomentar o real engajamento das equipes, potencializando os resultados almejados pelas organizações. Empresa depende de resultados concretos, melhoria constante dos produtos ou serviços e do lucro.

Muitos gestores tentam evitar conflitos, fingindo não ver ou acreditando que o tempo cura, ou que são discordâncias pessoais e não irão interferir no trabalho. Outros gestores incentivam os conflitos como forma de criar concorrência em busca de melhores resultados, entretanto, não possuem habilidade para gerir as disputas e acabam por minar a confiança mútua entre os membros de uma equipe. Há aqueles, com intenção positiva, que investem em várias experiências de aprendizagem e comemorações de resultados, mas que não auxiliam na compreensão dos desafios relacionais, apenas maquiam a realidade por meio de trilhas e jornadas de celebração.

Não quero dizer que as celebrações não sejam importantes, são fundamentais para comemorar os avanços das equipes, as conquistas e os resultados alcançados pelo grupo, firmando a motivação necessária e a confiança do grupo. Não que treinamentos em outras áreas não sejam importantes, pois elas desenvolvem habilidades necessárias para motivação e realização dos papeis de cada colaborador. Não que a concorrência seja condenável, ela faz parte de nossa natureza e deve ser bem conduzida a ponto de motivar pessoas a alcançar suas melhores versões. Não que a atitude de silenciar seja imprópria, pois o silêncio pode sim ser uma boa estratégia para lidar com conflitos.

O essencial é compreender que a resolução de conflitos deve preceder trilhas de motivação, de forma a viabilizar um ambiente favorável à aprendizagem e à mudança, como o preparo do terreno para receber novos conhecimentos. Se o clima organizacional demonstra uma comunicação falha entre líderes e suas equipes, relacionamentos sem conexão, colaboradores sem engajamento e motivação, é preciso trazer um alinhamento da equipe de forma estratégica.

Importante também entender que lidar com conflitos não é algo apenas intuitivo, sem estrutura, procedimento ou ordem. Existem técnicas, conhecimentos e competências que podem ser desenvolvidos de forma sistemática, auxiliando as equipes a criarem oportunidades e soluções adequadas diante dos conflitos.

A gestão adequada de conflitos auxilia a tratar antigos problemas com novas soluções, que abrangem criatividade e, inclusive, inovação, na medida em que propicia com que o público interno debata ativamente sobre os problemas, realize a escuta ativa, facilite o pertencimento e a colaboração de cada membro, para dialogar sobre as soluções mais eficazes ao contexto.

Quando gestores e suas equipes, líderes e colaboradores, desaprendem antigas crenças e comportamentos disfuncionais acerca dos conflitos, e aprendem esses novos conhecimentos, conseguem criar um ambiente de diálogos abertos, além de lidar com erros e fracassos como processos de aprendizagem. Diante de controvérsias e diferentes pontos de vista, encontram oportunidades de inovação e criatividade, no respeito à diversidade e na valorização da voz de cada um que integra a organização. 

Dessa forma, as empresas podem superar problemas com novas soluções, a partir de um ambiente psicologicamente seguro, onde todos sintam que podem contribuir com maior autonomia e protagonismo, pertencendo a organização e sentindo-se essencial na busca dos resultados da corporação.

23 de outubro de 2023

Acreditação em saúde, o Piauí precisa

Por Francimaura Leitão

Sou do tempo em que o resultado do vestibular era divulgado no rádio. A universidade era a federal, e a expectativa e ansiedade preenchiam os dias intermináveis após a maratona de provas.

Bem, foi exatamente assim que me senti durante pouco mais de trinta dias, tempo de espera do resultado da auditoria realizada na Clínica Gastros para certificação.

Nestes dias, minha primeira atividade era buscar no site da ONA a lista das empresas acreditadas no Estado do Piauí. Em 28 de agosto de 2023, senti a mesma emoção do resultado da minha entrada na graduação: muita alegria, fomos aprovados, passamos no vestibular da ONA!

Para a graduação, o esforço foi meu, com apoio da minha família. Na acreditação, o esforço é de toda a empresa, colaboradores, médicos, prestadores de serviço, sob a batuta da diretoria e suas lideranças. Semana passada chegou o lindo certificado, prova de nossa busca diária da melhoria contínua.

No início dessa jornada, esperávamos ser acreditados no Nível I, mas para nossa surpresa antecipamos três ciclos de melhoria e recebemos o Nível ll, Acreditado Pleno, um salto de dois anos no planejamento estratégico.

Mas afinal, o que é essa acreditação e para que ela serve? A acreditação é um processo voluntário pelo qual uma organização de saúde é avaliada por um órgão independente para verificar se ela atende a padrões de qualidade e segurança estabelecidos internacionalmente.

No brasil, a acreditação é realizada pela Organização Nacional De Acreditação (ONA) e cumpre três etapas a seguir:

  • Autoavaliação: a organização avalia seus próprios processos e procedimentos para verificar se eles atendem aos padrões da ONA.
  • Visita de avaliação: uma equipe de avaliadores da ONA visita a organização para verificar se ela atende aos padrões da ONA.
  • Avaliação final: a ONA emite um relatório de avaliação, no qual recomenda ou não a acreditação da organização.

A cada oito meses, a empresa passa por manutenções que podem qualificá-la para o próximo nível ou mesmo desacreditá-la.

Por que uma empresa de saúde deve buscar a certificação ONA, seja ela privada ou pública?

No final do ano de 1999, foi publicado pelo Institute Of Medicine (IOM) o relatório "To Err Is Human: Buildin A Safer Health Care Sistem", demonstrando que de 44.000 a 98.000 americanos morriam a cada ano em função de erros relacionados à assistência à saúde. Esses dados foram transformados numa expressão interessante: "unidades jumbo", morriam um jumbo por dia de pessoas por erros cometidos na assistência.

Como escreve Robert Wachter em seu livro "Internal Bleeding": "a maioria dos erros na saúde são cometidos por pessoas boas, mas falíveis, trabalhando em sistemas que não funcionam. Isso significa que tornar a assistência segura depende de reforçar o sistema para prevenir ou interceptar lapsos dos mortais."

Identificada a necessidade de mudança desse cenário no mundo inteiro, padrões internacionais foram criados, utilizando-se de estratégias da indústria, aeronáutica e outros setores na construção de sistemas que antecipem, previnam ou interceptem o erro antes que causem dano.

O primeiro passo na trilha da acreditação é conhecer o seu processo assistencial profundamente a ponto de encontrar os riscos que o seu paciente está sujeito, determinar barreiras para esses riscos e assim poder eliminá-los ou mitigá-los.

Nas empresas acreditadas, todos os processos têm como fundamento a segurança do paciente. Vejam alguns exemplos:

  • Na assistência, o cumprimento das boas práticas estabelecidas por órgãos de fiscalização, como ANVISA e VIGILÂNCIA SANITÁRIA;
  • A utilização de protocolos no tratamento de doenças e realização de exames;
  • O teste de qualidade da água realizado nos pontos onde é utilizada para lavagem de materiais e equipamentos, garantindo a eficiência da desinfecção e esterilização;
  • Avaliação de fornecedores, materiais e medicamentos para garantir o uso de produtos de qualidade, com vigilância extrema de  toda a cadeia medicamentosa;
  • A promoção de um estudo de custos para disponibilizar ao mercado a execução de procedimentos seguros ao menor preço, prezando a perenidade do negócio, garantindo emprego e renda a todos que dependem deste sistema.

O acompanhamento dos padrões estabelecidos se faz por meio de indicadores, avaliados mensalmente através do núcleo de segurança do paciente. É lindo ver todas as lideranças da empresa discutindo problemas baseada em dados, utilizando as ferramentas da qualidade, como o diagrama de Ishikawa e a matriz GUT, desenhando fluxos no BISAGE e propondo soluções intersetoriais para promover a qualidade da assistência prestada e consequentemente a segurança do paciente.

Uma vez que a segurança se estabelece como pilar empresarial, a alta liderança promove o engajamento através da educação continuada dos colaboradores e corpo clínico. Este, sem dúvida, é o principal custo que, no final do processo, se transforma em lucro com a redução do desperdício, através da implantação de processos enxutos e ágeis, aumento da satisfação dos clientes, melhorando a imagem da empresa. Em um ano, nossas avaliações do google mais que triplicaram e elevaram a nota da empresa de 3,0 para 4,6.

O cliente dos serviços de saúde já mudou, tornou-se mais exigente, não aceita mais nenhum tratamento sem antes fazer uma pesquisa em busca de informações.

O processo para acreditação pode ser longo ou curto, isso vai depender do nível de organização da empresa, mas, com certeza, é apaixonante. Traz junto com a mudança de cultura o profissionalismo de toda equipe. Inúmeros são os benefícios da acreditação na melhoria das organizações e desenvolvimento da empresa.

Está na hora do Piauí fortalecer sua vocação para prestação de serviços na área da saúde e mostrar ao Brasil o valor de sua medicina. Quanto maior o número de empresas acreditadas, melhor ela será. A exemplo do nosso vizinho Ceará, que já possui 36 serviços de saúde privados e públicos acreditados, também nós, piauienses, devemos adotar os padrões ONA para certificação de nossas empresas. Assim, demonstraremos todo o nosso cuidado com a segurança do paciente, restaurando nossa imagem de eficiência e qualidade.

15 de outubro de 2023

Comunicação e Felicidade

Por Cláudia Claudino

Recentemente, duas matérias me inspiraram na escolha do tema a ser abordado no meu artigo para a coluna benditas mulheres. Um foi a entrevista do Silvio Leite no podcast do Move (26 de setembro de 2023), e outra foi o artigo do Douglas Ferreira sobre a bola do Paraíba, também no Move notícias.

Silvio Leite grande profissional e exemplo da comunicação, falou da sua trajetória de vida e profissional, parte dela dentro do Grupo Claudino, onde tivemos a oportunidade de trabalhar juntos e aprendi muito sobre a arte da comunicação. Hoje, exercitá-la, não somente através das mídias e redes sociais, mas acima de tudo dentro das empresas e nas relações pessoais, é de extrema importância.

A empresa precisa expor a sua missão, visão e valores, pois assim diante do seu propósito poderá despertar o sentimento de pertencimento, nos seus colaboradores. Ter uma cultura organizacional onde os colaboradores participem e se sintam parte da empresa, gera felicidade e consequentemente impacta nos resultados.

Cresci vendo meu pai exercer a comunicação junto aos colaboradores, fornecedores e clientes. Ele se comunicava de diversas formas, e até com um simples olhar sua mensagem podia ser compreendida.

Ele procurava meios, a exemplo da bola do Paraíba, de se comunicar com os clientes e dizer, com este singelo presente, que ele era importante. Um mimo, entregue com carinho e gentileza.

Com os colaboradores, o seu “tapinha nas costa”, era um ato de acolhimento. Até hoje escuto sobre o quanto ele sabia cativar, acolher, mesmo após uma advertência. Aprendi com ele a ter o contato direto com os colaboradores, fosse para um feedback negativo ou positivo. Em cada atitude, nos mais distintos momentos, temos uma grande oportunidade de ensinar e ajudar o colaborador a crescer.

Em toda minha trajetória profissional, procurei exercer a comunicação direta e assertiva, sem intermediários. Isto evita ruídos e mal-entendidos e ouvir atentamente os membros da equipe é igualmente importante para entender suas necessidades e preocupações.

No período entre Outubro de 2008 e Fevereiro de 2022, quando estive ocupando o cargo de presidente da Guadalajara indústria de roupas, desenvolvemos práticas de liderança onde os colaboradores tinham conhecimento do desempenho da empresa, eram ouvidos e assim podíamos buscar as melhorias, práticas foram implantadas no dia a dia, objetivando o bem-estar organizacional.

Entre as ações desenvolvidas, a comunicação simples e direta foi de suma importância, pois todos os colaboradores tinham a liberdade para expressar o que acreditava ser importante para o desenvolvimento do seu trabalho e desta forma, o nível de confiança crescia a cada dia e naturalmente, a empresa crescia também, e feliz. A comunicação aberta e honesta promove um ambiente de trabalho saudável e fortalece o relacionamento entre líderes e equipe.

Em 2019 o professor Sávio Normando, quando fazia análises para sua dissertação do mestrado em Administração, pela Fundação Pedro Leopoldo (Pedro Leopoldo - MG), na área da felicidade, aplicou uma pesquisa onde ele buscava mensurar o índice Felicidade Interna Bruta – FIB na Guadalajara e demonstrou que ela apresentou índice amplamente feliz com o patamar geral de 75%.

Ter um clima organizacional de felicidade, gera mais produtividade, diminui o absenteísmo e turnover, melhora a saúde física e mental, reduzindo casos de depressão e burnout, aumenta o engajamento e criatividade, fazendo com que os colaboradores contribuam positivamente para o ambiente de trabalho e gerando maior lucro para ele mesmo, a família, a sociedade e a empresa.

Deixo aqui a minha reflexão, o seu modelo de liderança promove a felicidade?

08 de outubro de 2023

Como falar de paz em um mundo de conflito?

Por Betina Costa

Este início do mês de outubro é bem significativo para mim. Primeiramente, hoje, domingo, dia 08 de outubro, é meu aniversário. Eu, particularmente, amo a data e as mudanças de ciclos, envelhecer ou acumular experiências, aprendizados e vivências.

Mas, não somente pela data do meu aniversário eu trago como significante estes primeiros dias de outubro. Duas pessoas que muito me inspiram na construção dos meus ideais nasceram nestes dias. Gandhi que foi um grande líder, advogado e ativista da paz e nasceu em um dia 02 de outubro. E São Francisco de Assis, que foi um frade católico, que pregou valores de humildade, extrema pobreza, amor aos animais e valor à paz e à fraternidade. Sua festa litúrgica na Igreja Católica é comemorada no dia 04 de outubro.   

E é sobre a paz que quero conversar hoje. Inspirada por estes grandes homens, quando criança sonhava em ver um mundo com paz, fraternidade e harmonia. Venho aqui hoje falar de paz, que muitas vezes parece ideal demais, inalcançável, uma ideia romântica e, por isso, inocente e inconcebível.

Por muito tempo, acreditei nesta crença coletiva, abafando em mim os ideais de justiça, equilíbrio, fraternidade e paz. Então, o que me fez amadurecer e retomar o tal sonho de criança por um “mundo melhor”?

O que expressa a paz? O que inspira a pensar e promover a paz? Qual o significado?

A compreensão da paz acontece a partir da compreensão do conflito. Nesta suposta dualidade, hipotética contraposição, percebemos os dois contextos, paz e conflito. A paz não acontece sem uma adversidade, que se mostra como sintoma a ser observado, compreendido, vivenciado para ser transformado. Por meio e no meio da adversidade que se chega ao estado de paz, de equilíbrio.

E novos conflitos acontecem como novas oportunidades de reequilíbrio das forças opositoras, das opiniões divergentes, das visões incongruentes, das necessidades constantes de ajustes para a evolução. O movimento da vida é constante e os conflitos e desafios são inerentes a nossa condição humana.

Os conflitos apontam os desequilíbrios nas relações, os desencontros de posições, as diferenças temporária e aparentemente inconciliáveis entre o que queremos e não temos e que o outro tem. Conflitos são desacordos, choques ou confrontos entre duas ou mais pessoas que têm interesses, objetivos ou opiniões divergentes.

No entanto, o conflito pode ser uma oportunidade de transformação. Mas, enquanto não assimilamos a ideia do conflito como oportunidade, entramos em uma espiral negativa, arrebatando os envolvidos em consequências inimagináveis, próprias do combate.

Se tomamos consciência da oportunidade de aprendizado, de encontro, de convergência, a paz acontece, por meio da assunção das responsabilidades e reconhecimentos das necessidades mútuas. Todos nós humanos temos necessidades e, quando não atendidas, as consequências são insatisfação, manifestada por vezes pela apatia, por vezes pela busca de satisfação.

A forma como satisfazemos nossas necessidades podem ser negociadas, dialogadas ou disputadas, a depender da forma como nos posicionamos. Paz não é passividade diante das controvérsias e, sim, a inteligência para protagonizar soluções, ter autonomia com competências adequadas e técnicas consensuais para resolver divergências. Novas divergências e contradições ocorrerão para reajustar outra vez o equilíbrio nas relações. Novos aprendizados são gerados.

Quais as dificuldades, então, na construção da paz?

Alguns dizem: “não posso ser pacífico em um mundo tão competitivo, agressivo.”

Outros dizem: “mas não fui eu quem gerei o conflito? A culpa é do outro.”

Os que dizem isso esperam que o mundo seja pacífico para eles, então, serem; esperam que o outro reconheça sua culpa, para assumirem a sua própria responsabilidade. Os que se aferram a tais crenças pretendem simplesmente mostrar sua razão e superioridade, mas não compreendem as consequências de suas ações egoístas. Os que dizem isso não querem assumir suas próprias responsabilidades.

Poucos são os que fazem e reconhecem a possibilidade de construção da paz por meio da transformação das adversidades, dos seus próprios conflitos e com os quais convive. Eu me inspiro nessas pessoas que um dia acreditaram ser possível o discurso da paz, como Gandhi e São Francisco de Assis, atualizando um pouco para o contexto atual que vem avançando na compreensão da PAZ POSITIVA.

A paz consiste em agir pacificamente, por meio de uma congruência interna, diante de um mundo rival, adverso, complexo, compreendendo a própria humanidade e a do seu próximo. Gandhi defendia o princípio de “não causar dano, não machucar, não ferir conscientemente a si ou aos outros seres vivos”.

Ousadia a minha tentar ser menos passiva, ser menos agressiva, para ser assertiva, e me posicionar para protagonizar soluções. Gandhi uma vez disse: “Os fracos nunca podem perdoar.” E fazendo um paralelo, talvez eu esteja no caminho de me fortalecer. Então, a paz não é tarefa para fracos, e, contraditoriamente não me vejo forte ou fraca, talvez esteja mais para corajosa, aquela que enfrenta uma mudança de paradigmas apesar do medo de não ser entendida.

Sigo criando esperança em mim e no outro, inspirada por pessoas atuais, como a professora Lucia Helena Galvão, que disse numa palestra: “O grande mérito do homem é ser o que é independente do meio, das circunstâncias. A construção é de dentro para fora. A mudança surge de dentro de nós.”