Por Douglas Ferreira
O acordo entre o MERCOSUL e a UE vai além do aspecto comercial, embora esse seja o foco principal discutido. Além do livre-comércio, o acordo também abrange os pilares de diálogo político e cooperação. Para o Mercosul, o maior benefício é o fim de uma política comercial isolacionista.
Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria – CNI, defendeu nesta quinta-feira (28 de março) a assinatura do acordo comercial atual entre o Mercosul e a União Europeia. A declaração veio em resposta às críticas feitas pelo presidente francês, Emmanuel Macron, que classificou o tratado atual como “péssimo”, desatualizado e necessitando de renovação.
Macron afirmou na quarta-feira (27 de março) que “o acordo atual não é defensável, uma vez que foi negociado há 20 anos”. Ele destacou que “a vida diplomática e empresarial não pode ser regida por regras antigas” e que o acordo “precisa ser reformulado”, durante um evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – Fiesp.
Alban argumentou que reiniciar as negociações, como sugerido pelo presidente francês, “representaria um retrocesso”. Apesar dos 20 anos decorridos desde o início do processo, “um novo acordo exigiria mais tempo e novos ciclos de ajustes”. Ele destacou que a indústria “enxerga este acordo como um marco institucional moderno e responsável para conduzir as relações econômico-comerciais no século 21, levando em consideração a importância das questões ambientais e sociais junto aos objetivos econômicos”.
A CNI defende que o acordo está atualizado, “visto que passou por processos contínuos de modernização, como as intensas rodadas de renegociações desde 2023, que reforçam o compromisso de ambos os blocos de alinhar o texto a valores e expectativas contemporâneos”.
Em relação às preocupações da França, Macron expressou repetidamente que “o acordo não atende aos interesses franceses”. As divergências entre o líder francês e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), já foram objeto de diversos embates sobre o tema.
O posicionamento de Macron pode, potencialmente, encerrar as negociações entre os dois blocos econômicos, uma vez que o acordo requer a aprovação dos 27 países da UE. Os europeus, especialmente a França, demonstram preocupação com as práticas ambientais no setor agrícola brasileiro, alegando que prejudicam o meio ambiente em busca de maior produtividade.
Por outro lado, as demandas europeias foram interpretadas como “ameaças” pelo lado brasileiro. O presidente Lula também destacou que o acordo não foi fechado porque o Brasil não concordou em abrir as compras governamentais para empresas estrangeiras, argumentando que são essenciais para o crescimento das pequenas e médias empresas.