Como especialista em planejamento urbano e com a minha experiência em gestão municipal, observo com preocupação a situação atual do Parque Lagoas do Norte, que foi amplamente divulgado nas redes sócias, em Teresina. Este cenário de abandono e deterioração, infelizmente, não é um caso isolado, mas um reflexo de um fenômeno mais amplo, que pode ser analisado sob a perspectiva da “Teoria das Janelas Quebradas”.
Proposta na década de 1980 por James Q. Wilson e George Kelling, esta teoria sugere que o estado do ambiente urbano exerce uma influência significativa sobre o comportamento dos indivíduos. Segundo a teoria, áreas mal conservadas, exibindo sinais claros de descuido – como janelas quebradas, pichações, ou acúmulo de lixo – não apenas refletem, mas também podem provocar a desordem e incentivar comportamentos anti-sociais, incluindo atividades criminosas.
No contexto de Teresina, a ausência contínua de manutenção e cuidado tem contribuído para uma deterioração progressiva em parques e também, em ruas de bairros mais distantes. Este estado de negligência transmite a mensagem perigosa de que as normas sociais e as leis não são respeitadas ou aplicadas naquele local. Essa percepção pode levar a um ciclo vicioso, onde o descuido promove mais desrespeito e, consequentemente, mais degradação.
É fundamental ressaltar que a manutenção e a ordem em espaços urbanos são essenciais não apenas para a estética ou funcionalidade destes locais, mas são cruciais na prevenção da criminalidade e do vandalismo. Espaços urbanos bem cuidados refletem e reforçam a ordem social, incentivando o respeito e a responsabilidade cívica.
Portanto, para reverter a situação de áreas descuidadas em Teresina, é imprescindível adotar uma abordagem proativa. Isso envolve não apenas a reparação dos danos já existentes, mas também a implementação de uma gestão contínua e atenciosa, que previna o surgimento de novos problemas. Ações como limpeza regular, reparos imediatos, segurança reforçada, e o envolvimento da comunidade local podem ser medidas eficazes.
Além disso, é importante que a gestão municipal reconheça a importância de espaços públicos bem mantidos, não apenas como locais de lazer, mas como elementos fundamentais na construção de uma sociedade mais ordenada e segura. A reabilitação de praças e Parques pode servir como um modelo para outros espaços urbanos, demonstrando o poder positivo de uma gestão urbana eficaz e responsável.
A manutenção urbana passa a ser uma questão não só de estética, mas de segurança e bem-estar social. Como planejadores urbanos e gestores municipais, temos a responsabilidade de assegurar que nossos espaços públicos sejam reflexos do respeito e cuidado que temos pela nossa comunidade e pelas normas que nos regem. A teoria das janelas quebradas não é apenas uma teoria, mas um apelo à ação para a preservação da ordem e dignidade em nossos espaços urbanos.
Além da importância da manutenção e da ordem urbana, os espaços públicos desempenham um papel crucial na promoção da inclusão social e no desenvolvimento econômico urbano, pois são, por sua natureza, democráticos e acessíveis, oferecendo um local de encontro e interação para todos os membros da comunidade, independentemente de sua classe social, idade ou origem. Estes locais fomentam a coesão social, permitindo que pessoas de diferentes esferas da vida compartilhem experiências comuns. Parques, praças e áreas de lazer atuam como “salas de estar” da cidade, onde a diversidade é celebrada e a inclusão é praticada.
A inclusão social em espaços urbanos vai além do acesso físico e deve envolver a criação de ambientes acolhedores e seguros para todos. Isso inclui instalações adequadas para pessoas com deficiência, áreas de lazer para crianças, espaços para práticas esportivas e áreas de descanso para idosos. Essa abordagem integradora fortalece o tecido social e promove um senso de pertencimento e de comunidade entre os cidadãos.
Do ponto de vista econômico, espaços públicos bem mantidos e inclusivos são ativos valiosos. Eles atraem turistas e visitantes, o que, por sua vez, gera receita para negócios locais e aumenta a empregabilidade. Parques vibrantes e ativos podem impulsionar o desenvolvimento de cafés, restaurantes, e lojas nas proximidades, gerando um ciclo virtuoso de atividade econômica e investimento.
A presença de áreas verdes e espaços de lazer bem cuidados tem um impacto direto no valor imobiliário circundante. Propriedades próximas a parques e espaços recreativos tendem a ter um valor mais elevado, o que pode ser um incentivo para investimentos privados na área. Este aumento do valor imobiliário pode, por sua vez, gerar mais receita tributária para a cidade, permitindo mais investimentos em serviços públicos e infraestrutura.
Portanto, a revitalização e a manutenção adequada de espaços públicos supera questões de estética ou segurança, mas são fundamentais para a inclusão social e o desenvolvimento econômico em Teresina. Investir em espaços públicos é investir nas pessoas e na economia da cidade, criando um ambiente urbano mais próspero, coeso e vibrante. Devemos reconhecer e aproveitar o poder transformador que esses espaços têm em melhorar a qualidade de vida de todos os cidadãos.