Por Wagner Albuquerque
A desaceleração econômica da China está sob análise por parte de especialistas, sendo considerada uma fonte de preocupação a longo prazo para os exportadores brasileiros, dada a posição da China como maior comprador de produtos do Brasil. Prevê-se que a economia chinesa alcance entre 2,5% e 4,5% de crescimento ao ano até 2030, segundo avaliações de especialistas, o que levou o Fundo Monetário Internacional a incluir a redução do ritmo da produção chinesa entre os cinco principais riscos para a economia global.
A desaceleração chinesa é resultado de mudanças estruturais, como a transição de um modelo manufatureiro global para um foco em inovação, e esforços do governo para corrigir desequilíbrios na economia. O agravamento da crise imobiliária a partir do segundo trimestre deste ano intensificou a situação, afetando construtoras endividadas e contaminando as expectativas sobre o país.
Margaret Myers, diretora para Ásia e América Latina no think tank Inter-American Dialogue, destaca que embora a China reconheça a necessidade de reformas para garantir um crescimento sustentável, o progresso em sua agenda de reformas tem sido limitado.
A pesquisadora Alicia García-Herrero compara a situação atual da China com a experiência de Coreia do Sul, Japão e Taiwan quando seus PIB per capita ultrapassaram os 10 mil dólares. Ela estima que a China terá desafios para manter o crescimento, mas provavelmente se sairá melhor que outros países, apesar dos riscos financeiros associados à alavancagem na economia e à conexão entre o setor imobiliário e os governos locais.
No contexto brasileiro, a China é um parceiro crucial, representando 27% das exportações em 2022 e contribuindo significativamente para o superávit comercial brasileiro. Especialistas indicam que o perfil das exportações brasileiras, centrado em alimentos e energia, oferece relativa proteção ao Brasil, pois atende a necessidades fundamentais da China, como segurança alimentar e energética. O setor privado brasileiro acompanha de perto o desempenho econômico chinês, mas a transição de crescimento chinês não deve impactar significativamente o Brasil a médio prazo. O peso dos produtos agropecuários nas exportações brasileiras para a China aumentou consideravelmente, e a prioridade de Pequim à segurança alimentar é vista como um fator que resguarda o Brasil de impactos mais severos.