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Publicado em: 21 fevereiro 2024 às 08:13 | Atualizado em: 21 fevereiro 2024 às 08:21

Piauí e Ceará disputam área onde estão mais de 380 ‘bens’, incluindo escolas e sítios arqueológicos

Por Wagner Albuquerque

Há uma briga antiga entre Ceará e Piauí por um pedaço de terra que tem 13 cidades. Nesse pedaço, existem muitos equipamentos públicos do Ceará, como escolas, postos de saúde e lugares para votar. Se o Ceará perder a briga, pode perder esses equipamentos também.

O Ipece, Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará, que estuda o estado do Ceará, fez um mapa desses equipamentos e mostrou para as pessoas na terça-feira (20), em um museu em Fortaleza. No mapa, há 383 equipamentos do Ceará que estão na área da briga. Alguns deles são parques, áreas de proteção e sítios arqueológicos.

Cleyber Nascimento, que trabalha no Ipece, diz que eles também vão estudar quanto dinheiro esses equipamentos valem para o Ceará. Ele diz que as 13 cidades da briga geraram, em 2020, cerca de R$ 6,5 bilhões ou 4% de tudo que o Ceará produziu.

Mapa de litígio entre o Piauí e Ceará. O que está em jogo: 4 distritos, 136 localidades, 5 assentamentos rurais e quilombolas, 18 sítios arqueológicos, 2 UCs estaduais, 1 UC federal, 4 terras indígenas, 589,3 km de estradas. Imagem: Reprodução IPECE/DN.

Cleyber diz também que as pessoas que moram lá usam os serviços de saúde do Ceará, como um hospital em Sobral. O Supremo Tribunal Federal vai decidir quem fica com a área da briga e como fica a situação dos equipamentos e dos serviços do Ceará.

Cleyber diz ainda que o mapa ajuda a saber quem cuida dos equipamentos e dos serviços para as pessoas que moram lá.

Serviços básicos

O Ipece também perguntou para as pessoas que moram na área da briga sobre os serviços que elas usam. A maioria usa os serviços do Ceará, como saúde, educação e segurança.

Quase todos que estudam em escola pública estudam no Ceará. Quase todos que usam posto de saúde usam os do Ceará. Água, energia e polícia também são do Ceará.

Preferência pelo Ceará

O Ipece também perguntou para as pessoas que moram na área da briga se elas preferem ficar no Ceará ou no Piauí. A maioria (87,5%) prefere ficar no Ceará.

A maioria (81,8%) nasceu no Ceará e mais da metade mora lá há mais de 30 anos. A maioria (90%) diz que a casa onde mora é registrada no Ceará.

A pesquisa com 417 famílias aponta que:

97,2% têm escritura de propriedade registrada no Ceará
95,9% recebem energia pela distribuidora Enel (CE)
92,7% estudam em escolas públicas no lado cearense
81,8% nasceram no Ceará
76% usam serviço de saúde pública só do Ceará
50,1% moram no mesmo local há mais de 30 anos
Divisa entre o Piauí e Ceará, cidade de São João da Fronteira. Foto: Wagner Albuquerque

A briga

Ceará e Piauí brigam por esse pedaço de terra desde os anos 1800, quando os mapas eram diferentes. A briga foi para a justiça em 2011, quando o Piauí recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para decidir sobre o impasse.

A área em litígio é de aproximadamente 3 mil km², abrangendo parte dos municípios de Poranga, Croatá, Tianguá, Guaraciaba do Norte, Ipueiras, Carnaubal, Ubajara, Ibiapina, São Benedito, Ipaporanga, Crateús, Viçosa do Ceará e Granja.

Atualmente, de acordo com o procurador geral do Estado, Rafael Machado, “a ação está em fase de perícia pelo Exército Brasileiro, que vai se ater a documentos históricos e cartográficos”.