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Publicado em: 13 dezembro 2023 às 18:05 | Atualizado em: 13 dezembro 2023 às 18:39

O Porto de Luís Correia: do Sonho piauiense à realidade inicial com o terminal pesqueiro"

Por Douglas Ferreira

Navio de Apoio Oceânico Iguatemi, da Marinha do Brasil – Foto: Reprodução

Indiscutivelmente, a aspiração de um porto no litoral do Piauí é um desejo acalentado desde os tempos do Império. Por mais de um século, os sucessivos governos do Estado têm recebido recursos para a construção do Porto de Luís Correia. E o Piauí continua a ostentar o triste título de único Estado do Noredeste sem porto marítimo.

No entanto, uma quantia praticamente incalculável de recursos públicos foi literalmente desperdiçada nas águas da amarração, resultando até o momento apenas em uma barragem de proteção e alguns pilares cuja ferragem foi corroída pela maresia.

Atualmente, o governo do Piauí retoma os investimentos no ‘porto’ com a construção de um terminal pesqueiro, motivo de grande orgulho não apenas para os habitantes da planície litorânea, mas para todo os piauienses. No entanto, surge a pergunta: o que exatamente é esse terminal pesqueiro e qual será sua finalidade?

Os dois navios navegando na entrada para o canal do terminal pesqueiro de Luís Correia – Foto: Reprodução

O governo estadual divulgou a informação de que dragou o canal que leva ao porto, alcançando um calado de sete metros na maré baixa e nove na alta. Durante toda esta terça-feira, 13, circulou nos bastidores e nas redes sociais um suposto encalhe das embarcações no entorno do ‘porto’. Que teriam sido utilizados dois rebocadores para desencalhar os navios. Um deles, seria o Navio de Apoio Oceânico Iguatemi, da Marinha do Brasil, que possui calado de 5,5 metro e teria encalhado no suposto canal de 7 metros de profundidade.

Contudo, conseguimos falar com a Capitania dos Portos de Parnaíba e o sargento Diego, desmentiu a notícia. O encalhe das embarcações não passou de fake news.

Segundo o marinheiro, o Iguatemi navegou no canal e permanece na área fundeado, ou seja, pela inexistência de um atracadouro o navio está ancorado em frente ao terminal pesqueiro, amparado por bóias.

É de conhecimento geral que navios de médio porte requerem um canal com pelo menos 11 metros de profundidade. Comparativamente, o Porto de Pecém, no Ceará, opera com um calado de 15,30 metros, enquanto o Porto de Itaqui, em São Luís, no Maranhão, atinge a profundidade de 16 metros de calado.

Em primeiro plano o que restou de quase um século de investimentos no ‘porto de Luís Correia’ – Foto: Reprodução

A indagação sobre a produção de pescados do Piauí levanta questões pertinentes em relação ao terminal pesqueiro que, eventualmente, será parte do ‘Porto de Luís Correia’. Surge a incerteza sobre se o referido terminal será utilizado por embarcações de pesca de pequeno, médio ou grande porte, e qual seria o propósito dessa utilização. Qual a origem desses barcos? Tais questionamentos ganham relevância diante do investimento de recursos públicos, aparentemente provenientes do tesouro estadual.

Embora seja consenso que o Estado necessita de um porto, especialmente considerando a planície litorânea, que atualmente ostenta não apenas uma produção razoável de pescados, mas também de frutas e cera de carnaúba, é válido questionar se o Porto de Luís Correia seria o destino adequado para a soja piauiense, produzida nos Cerrados, já que a região é conhecida pela exportação de diversos produtos através de portos regionais. Seria comercialmente viável?

Rebocador ao lado do Navio Iguatemi da Marinha do Brasil – Foto: Reprodução

É evidente que o governo tem demonstrado esforços, e a entrega do terminal pesqueiro parece apresentar resultados positivos. Contudo, diante do investimento realizado até o momento, surge a necessidade de um estudo aprofundado sobre a produção piauiense nas áreas da pecuária, agricultura, extrativismo, mineração, piscicultura.

A usina de produção de hidrogênio verde em grande escala no litoral, com fins de exportação, poderia encabeçar a lista de justificativas para esse investimento? Além disso, torna-se pertinente questionar o custo total até o momento do referido terminal pesqueiro. Uma questão de transparência.