Por Douglas Ferreira
As práticas exemplares, o manejo adequado, a eficácia da legislação aliadas a uma ampla campanha ade conscientização, culminaram na preservação de uma espécie de peixe ameaçada de extinção e símbolo icônico da Amazônia brasileira: o pirarucu. O peixe outrora listado como em risco de extinção, encontra-se agora removido dessa lista, marcando uma conquista notável. A batalha envolveu diversas instâncias do Estado brasileiro e instituições dedicadas à preservação da fauna e da flora.
O pirarucu (Arapaima gigas) personifica a grandiosidade e o potencial econômico da Amazônia. Ao ser incluído na lista de espécies ameaçadas em 1996, a pesca extrativa foi proibida, dando início a pesquisas do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Após quase 25 anos da implementação do primeiro plano de manejo sustentável em 1999, a unidade vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) destaca-se como um exemplo de sucesso em desenvolvimento sustentável.
O manejo sustentável do pirarucu contribuiu significativamente para a recuperação da população na região do médio Solimões. Desde a adoção dessa prática, a população da espécie cresceu impressionantes 620%, com uma média anual de crescimento de cerca de 25%. Apesar de ainda constar na lista internacional de espécies ameaçadas, devido à ausência de projetos de manejo em toda a bacia amazônica, na região do médio Solimões, o sucesso é evidente.
O Instituto Mamirauá, por meio de capacitações e apoio na elaboração de planos de manejo, assessora 41 comunidades e quatro organizações de pescadores, beneficiando 1.176 pessoas. O pirarucu manejado tornou-se uma fonte vital de renda para as comunidades, representando até 40% da renda proveniente da pesca e 15% da renda total. Com um faturamento que superou R$ 4,3 milhões em 2022, a perspectiva é de crescimento em 2023.
A cota de pesca autorizada para as localidades assessoradas pelo Mamirauá é de 14.983 peixes ou 749 toneladas, representando um aumento de aproximadamente 15% em relação ao ano anterior. O valor médio de comercialização do pirarucu nas comunidades assessoradas, R$6,68/kg, é quase 50% superior à média do Amazonas em 2023 (R$4,50/kg). Esse aumento é resultado de estratégias que incluem a articulação de arranjos comerciais diretos com frigoríficos, minimizando intermediários.
Além da preocupação com a quantidade, as análises indicam um aumento no tamanho médio do pirarucu, passando de 1,27 metro em 1998 para 1,80 metro em 2022. O projeto iniciou com uma localidade adotando a técnica do manejo sustentável e agora abrange 12 áreas de produção manejada.
Investimentos, como a construção de um entreposto de beneficiamento do pirarucu pelo MCTI, utilizando energia solar para o pré-beneficiamento, evidenciam o compromisso com boas práticas e a melhoria na qualidade do produto final. A seca na Amazônia, um desafio, não impediu o Mamirauá de continuar suas ações de assessoramento, garantindo a manutenção da produção pesqueira mesmo em anos de seca extrema.
Em suma, a gestão sustentável do pirarucu, unindo conhecimento tradicional e tecnologia, é um modelo inspirador de preservação ambiental e prosperidade econômica na região amazônica. O sucesso alcançado destaca a importância de práticas cuidadosas para a preservação das riquezas naturais.