Por Douglas Ferreira
Os corpos encontrados em uma pequena embarcação à deriva no litoral do Pará, no último sábado, dia 13 de abril, ainda não foram devidamente identificados. Mas sabe-se que se trata de africanos oriundos do Mali e da Mauritânia.
Suspeita-se ainda que a embarcação tenha chegado ao Brasil por acaso, e seus ocupantes possivelmente eram migrantes em busca de alcançar a Europa através das Ilhas Canárias, na Espanha. Considerando que essa travessia marítima é comparada a uma rota suicida, é plausível que a embarcação tenha perdido o rumo e sido arrastada por correntes até o litoral brasileiro.
Presumivelmente, os passageiros e tripulação, sem acesso a água e comida, podem ter sucumbido à inanição. Estima-se que o número de mortos seja pelo menos 25, com base na quantidade de coletes salva-vidas e celulares encontrados a bordo. Este incidente não é o primeiro envolvendo uma embarcação perdida tentando deixar a África e alcançando a costa brasileira.
Esse imigrantes fogem de conflitos tribais e guerras civis. Muitos também procuram escapar da fome e da miséria imposta por líderes autoritários que vez por outra ascendem ao poder através de golpes.
O arquipélago espanhol das Ilhas Canárias, que provavelmente era o destino esperado da embarcação encontrada com 9 corpos no Pará, testemunhou uma explosão no número de migrantes. De acordo com dados oficiais do Ministério do Interior da Espanha, mais de 14 mil imigrantes chegaram às Ilhas Canárias até o dia 15 de abril, representando um aumento de 490% em relação ao mesmo período de 2023.
Nos últimos anos, três fluxos migratórios da África em direção à Europa se intensificaram. Além das rotas terrestres através dos enclaves espanhóis de Ceuta e Melilla e do Mar Mediterrâneo em direção a países como Itália e Grécia, a rota do Atlântico, via Ilhas Canárias, também se tornou mais comum. Isso se deve, em parte, ao aumento da vigilância e das políticas migratórias mais rígidas na Europa, bem como ao caos na Líbia, que tornou a travessia pelo Mar Mediterrâneo ainda mais perigosa.
O trajeto da África em direção à Europa pelo Atlântico é considerado a segunda rota mais mortal do mundo, perdendo apenas para a rota pelo Mar Mediterrâneo, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM). Muitas embarcações, geralmente pequenas e precárias, como a encontrada no Pará, acabam se afastando da costa e se perdendo no mar, correndo o risco de cair em correntes marítimas e chegar a destinos inesperados.
Até o momento, nenhum dos corpos encontrados na embarcação no Pará foi identificado, mas documentos indicam que eram originários do Mali e da Mauritânia. A Mauritânia, em particular, tornou-se um ponto de passagem e fuga para muitos africanos, devido aos conflitos étnicos internos, à insegurança alimentar, ao terrorismo e à economia predominantemente agrícola e extrativista.
Esses fatores têm motivado muitos moradores a buscar uma vida melhor em outros países, incluindo a tentativa de chegar à Europa através do oceano Atlântico.