Por Wagner Albuquerque
Luana Costa, autônoma de 26 anos, não esconde a emoção ao falar sobre a expectativa com a chegada do segundo filho, Matteo. Grávida de 38 semanas, ela e sua esposa, Daniela Gutierrez, de 30 anos, já são mães da pequena Maitê, de 2 anos. Sem conseguir arcar com os altos custos dos procedimentos oficiais de reprodução assistida, como fertilização in vitro (FIV) e inseminação artificial, elas recorreram ao Facebook para realizar o sonho da maternidade.
Na rede social, uma busca por termos como “doação de esperma” ou “inseminação caseira” revela dezenas de grupos dedicados a conectar mulheres a doadores de sêmen em todo o Brasil. Foi em um desses grupos que Luana conheceu o homem que aceitou doar seu material genético para que ela pudesse engravidar por meio de inseminação caseira. O método consiste em ejacular dentro de uma seringa e injetar o sêmen no canal vaginal durante o pico de ovulação, mapeado por testes específicos ou pelo método da tabelinha.
“Buscava por uma pessoa com as mesmas características físicas que minha esposa e eu: branco, loiro e de olhos claros. Foram duas tentativas para ter a Maitê e somente uma para o Matteo”, contou Luana. Após calcular a data da ovulação, Luana e Daniela marcaram de encontrar o doador em um hotel, uma opção comum entre as tentantes para preservar a privacidade. “Assim que ele entregou a amostra dentro da seringa para minha esposa, já saiu do quarto nos desejando boa sorte. Foram dois minutos entre a entrega da amostra e a inseminação em mim. Fiquei incrédula que daria certo.”
Enquanto nos casos de inseminação artificial realizados em clínicas médicas os doadores precisam ser anônimos, não há essa obrigatoriedade na inseminação caseira, o que facilita o procedimento, mas também traz riscos. O Conselho Federal de Medicina (CFM) não recomenda a prática caseira devido à possibilidade de transmissão de infecções e à falta de garantias sobre a qualidade do sêmen. No entanto, os grupos no Facebook se tornaram uma brecha para as mulheres que buscam realizar o procedimento de forma mais rápida e barata, evitando os custos elevados da FIV.
A jornalista Angélica*, de 33 anos, também recorreu ao Facebook para realizar a inseminação caseira. Ela e sua esposa cogitaram pagar pela inseminação artificial, mas decidiram economizar para os gastos com o filho. “Nosso filho tem dois anos e mudou totalmente nossas vidas. Para muito melhor, claro! Costumo dizer que ele me salvou de inúmeras formas”, afirmou. Foram quatro tentativas, sendo três feitas por sua mulher e uma, a que deu certo, por ela mesma. “Ao todo, gastamos uma média de R$ 1 mil”, disse Angélica, destacando que o valor foi distribuído entre locomoção do doador, hotel e material de coleta.
*Alguns nomes foram mudados.