Por Wagner Albuquerque
Os Marubos, uma comunidade que há tempos habita malocas ao longo do rio Ituí, distantes centenas de quilômetros umas das outras, viram sua rotina mudar drasticamente com a chegada da Starlink, serviço de internet de alta velocidade, em setembro de 2023. Antes, uma jornada de 7 dias era necessária para alcançar essa região remota.
Essa tribo, que preserva há séculos seus próprios costumes, como o uso da ayahuasca para contato espiritual e a criação de macacos-aranha como animais de estimação, agora se depara com desafios similares aos enfrentados pela sociedade moderna.
Os jovens Marubos se veem cada vez mais imersos na cultura digital: colados aos seus smartphones, participando de grupos de bate-papo cheios de fofocas, envolvidos em redes sociais viciantes, interagindo com estranhos online e até mesmo consumindo conteúdo inadequado, como videogames violentos e pornografia.
Essa mudança não passa despercebida pelos mais velhos, como Tsainama Marubo, de 73 anos, que observa uma perda dos valores tradicionais da tribo. Os jovens, antes engajados em práticas como a produção de tinturas e joias, caça e pesca, agora demonstram menos interesse e concentração, tornando-se facilmente distraídos.
Apesar das críticas, Tsainama reconhece os benefícios trazidos pela internet, como a facilidade de comunicação com pessoas distantes e acesso rápido à informação em casos de emergência.
A chegada da Starlink, parte da empreitada de Elon Musk para fornecer internet via satélite em áreas remotas, não apenas impactou os Marubos, mas também comunidades ao redor do mundo. Com mais de três milhões de clientes em 99 países, a Starlink se tornou uma peça central na vida de muitos, apesar das questões culturais que sua adoção traz consigo.
À medida que a tecnologia se torna essencial, cabe às comunidades como os Marubos encontrar maneiras de conciliá-la com sua identidade e tradições culturais, uma decisão que pertence somente a eles.