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Publicado em: 22 agosto 2023 às 13:55 | Atualizado em: 22 agosto 2023 às 14:03

Impacto do "Risco FIES" preocupa empresas de Educação, mas analistas mantêm otimismo

Os repasses para o FG-FIES foram iniciados em 2015 como parte de mudanças nas regras do FIES para abordar altos índices de inadimplência – Foto: Reprodução

Os resultados do segundo trimestre de 2023 (2T23) para as empresas do setor de Educação, que ganharam destaque na Bolsa brasileira pelo bom desempenho ao longo do ano, foram em sua maioria positivos. As empresas experimentaram melhorias operacionais, incluindo aumento nos tíquetes, melhor controle de custos, aumento do lucro líquido e redução da dívida.

Contudo, durante a temporada de resultados, algumas notícias com potencial de impacto negativo no setor surgiram, em parte obscurecendo os números divulgados pelas companhias. As notícias se referem ao “risco FIES” (Programa de Financiamento Estudantil), que anteriormente era visto como uma oportunidade e havia impulsionado a valorização das ações do setor na Bolsa.

Isso ficou evidente no dia 14 de agosto, quando os resultados da Ânima (ANIM3) foram divulgados, resultando em uma queda de 19% nas ações. No mesmo dia, ações de outras empresas do setor, como a Yduqs (YDUQ3), também apresentaram forte queda.

Durante esse período, a dinâmica dos repasses para o FG-FIES (Fundo Garantidor do FIES) atraiu a atenção do mercado. O FG-FIES é um fundo ao qual empresas do setor contribuem para cobrir inadimplências do programa, e essas notícias pressionaram os ativos.

Durante a teleconferência de resultados, a Ânima destacou que a comunicação do governo em relação ao assunto estava confusa. E que isso terminava por prejudicar a visibilidade sobre a inadimplência associada ao programa.

Os repasses para o FG-FIES foram iniciados em 2015 como parte de mudanças nas regras do FIES para abordar altos índices de inadimplência. As empresas que recrutavam alunos usando financiamento do FIES eram obrigadas a contribuir para o fundo, que tinha a exigência de R$ 1 para cada R$ 10 de financiamento concedido. Esse valor permaneceu constante até o final de 2022, e a partir de 2023, o montante de contribuição passou a ser baseado em contratos de cada empresa.

Nesse ano, o limite foi removido. Entretanto, a inadimplência aumentou significativamente, possivelmente devido a novos alunos que se graduaram por meio do novo FIES.

Embora essa questão afete todos os cursos, os de medicina são os mais afetados. As empresas que divulgaram seus resultados do 2T23 confirmaram impactos palpáveis apenas nos cursos de medicina.

Frente a essa situação, analistas avaliaram os possíveis impactos nas empresas do setor de Educação e se cursos da área de Saúde, anteriormente considerados pontos fortes para empresas mais expostas, e até mesmo o FIES, poderiam se tornar pontos fracos para essas empresas.

O Morgan Stanley prevê um impacto potencial entre 0% e 10% nos preços-alvo das empresas de Educação cobertas por seus analistas. No entanto, eles esperam que essa influência seja revertida à medida que a regulamentação mude.

Os analistas destacaram que houve uma reação exagerada ao risco de inadimplência do FIES. Nos relatórios do 2T23, Yduqs e Ânima relataram uma desaceleração nos preços médios no segmento de medicina, atribuída ao aumento das contribuições para o fundo garantidor.

O risco aumentou, passando de um limite de retenção de 25% no ano anterior para 100% este ano. Um risco que as empresas não controlam e não têm visibilidade no cálculo.

Apesar de o impacto ter surpreendido o mercado, análises quantitativas sugerem que a queda nos preços das ações foi exagerada. Isso, considerando que o setor já não considerava uma potencial recuperação do FIES nos próximos meses.

Os efeitos negativos incluem a redução retroativa dos recebíveis do FIES e o risco de maiores deduções da receita no futuro. O primeiro já se ajustou ao novo nível de retenção e é limitado, representando apenas de 3 a 6 meses de receitas. O segundo, por outro lado, representa uma desvantagem em relação às previsões do banco.

Apesar de o cenário impactar os resultados no curto prazo, os analistas acreditam que os reguladores devem propor uma mudança no modelo atual, visto que desincentiva as instituições a oferecerem o FIES. O Congresso também apresentou projetos de lei para estabelecer um limite de retenção de 25% e permitir aporte público de R$ 500 milhões ao FG-FIES.

Dessa forma, embora o fator continue a afetar os resultados das empresas nos próximos trimestres, não é razoável considerar esse impacto de forma permanente.

Redação Move Notícias