Por Douglas Ferreira
Além do impacto causado por sua morte em circunstâncias incomuns, uma vez que ocorreu na prisão no Ártico, o advogado e ativista dos direitos humanos, Alexei Navalny, o único opositor declarado de Putin na Rússia, enfrenta agora dificuldades para ser sepultado. Isso ocorre porque as agências funerárias russas estão se recusando a transportar o corpo de Navalny, conforme denunciou um porta-voz.
Os funerais do líder opositor russo está agendado para esta sexta-feira, 1º. As empresas funerárias alegam estar recebendo ameaças para não realizarem o traslado do corpo de Navalny.
Segundo Kira Yarmysh, porta-voz do opositor de Putin que faleceu há duas semanas, as funerárias em Moscou estão recebendo chamadas anônimas com ameaças “caso aceitem transportar o corpo de Navalny”. Navalny morreu em uma prisão na Rússia, enquanto estava sob a tutela do Estado Russo.
“No começo, não conseguimos alugar uma sala funerária para nos despedirmos de Alexei. Agora, os agentes funerários nos informam que nenhum carro funerário concorda em levar o corpo até lá. Desconhecidos estão ligando para todas as equipes e ameaçando não levar o corpo de Alexei para lugar nenhum”, disse Yarmysh.
Principal opositor de Vladimir Putin durante todo o seu mandato como líder da Rússia, Navalny faleceu durante uma transferência no complexo penitenciário de Yamalo-Nenets, na região ártica da Rússia, onde cumpria pena.
O Serviço Penitenciário Federal russo informou em um comunicado que Navalny perdeu a consciência e passou mal. De acordo com a agência russa Tass, o hospital que o atendeu tentou reanimá-lo por 30 minutos, sem sucesso.
Os Estados Unidos e a União Europeia responsabilizaram o governo Putin pela morte. O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, expressou estar “profundamente entristecido e perturbado” com o falecimento e exigiu que a Rússia esclareça as circunstâncias do ocorrido.
Quem era Alexei Navalny?
Navalny, de 47 anos, era um ex-advogado que ganhou notoriedade ao fazer denúncias de corrupção contra o governo do presidente Vladimir Putin. Ele se apresentava como um político liberal e oponente principal do presidente atual.
Em 2010, liderou um movimento contra Putin que levou milhares de pessoas às ruas do país. Navalny ficou conhecido nas redes sociais por ridicularizar e ironizar Putin.
Seis anos depois, chegou a anunciar sua candidatura à presidência. No entanto, a Comissão Eleitoral Central da Rússia informou que ele não poderia concorrer devido a uma condenação judicial. Na época, Navalny estava sendo investigado em vários processos.
Ele foi condenado na Rússia por dois crimes. No primeiro caso, por desvio de recursos em uma empresa estatal de madeira – o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou, em 2016, que o processo foi conduzido de maneira arbitrária.
No segundo caso, ele e seu irmão Oleg foram acusados de fraudar a subsidiária russa da empresa francesa de cosméticos Yves Roche em 26 milhões de rublos (cerca de R$ 1,46 milhão).
Em 2018, após a proibição de sua candidatura, milhares de pessoas protestaram em toda a Rússia contra a eleição na qual o atual presidente, Vladimir Putin, foi eleito pela quarta vez. O protesto, denominado “greve de eleitores”, foi convocado por Navalny.
Envenenamento
Em 20 de agosto de 2020, o líder da oposição e ativista russo Alexei Navalny foi envenenado com um agente nervoso Novichok e hospitalizado em estado grave. Durante um voo de Tomsk para Moscou, ele adoeceu e foi levado em coma para um hospital em Omsk.
Conduzido para tratamento na Alemanha, Navalny se recuperou e decidiu retornar à Rússia onde foi preso e enviado para uma prisão no ártico russo. Em 16 de fevereiro ele foi declaro morto em situação ainda não devidamente esclarecida.