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Publicado em: 5 março 2024 às 14:28 | Atualizado em: 5 março 2024 às 14:39

Fuga em massa: Gangues libertam 4 mil prisioneiros em ataque à prisão no Haiti

Por Wagner Albuquerque com informações de BBC

Cerca de 4 mil presos foram resgatados de presídios na capital Porto Príncipe. Foto: Reprodução.

O governo do Haiti declarou estado de emergência por 72 horas no domingo (03/03), depois que integrantes armados de facções criminosas invadiram um importante presídio de Porto Príncipe, provocando a morte de pelo menos 12 pessoas e permitindo a fuga de cerca de 4 mil presos.

Os líderes das gangues dizem que querem forçar a renúncia do primeiro-ministro, Ariel Henry, que está em viagem ao exterior. Os grupos que pretendem derrubá-lo controlam cerca de 80% de Porto Príncipe.

As guerras de gangues ultraviolentas mataram milhares de pessoas no país desde 2020. Um comunicado do governo informou que duas prisões — uma na capital e outra em Croix des Bouquets — haviam sido invadidas no fim de semana.

O governo disse que os atos de “desobediência” eram uma ameaça à segurança nacional e anunciou que estava instituindo imediatamente um toque de recolher noturno, que começou às 20h (horário local).

Situação de caos no Haiti. Gangues dominam diversas regiões de cidades importantes. Foto: Reprodução.

Entre os detidos no presídio em Porto Príncipe, estavam membros de gangues acusados de ligação com o assassinato do presidente Jovenel Moïse em 2021.

A recente escalada da violência começou na quinta-feira (29/02), quando o primeiro-ministro viajou para Nairobi para discutir o envio de uma força de segurança multinacional liderada pelo Quênia para o Haiti.

O líder de gangue Jimmy Chérizier, conhecido como “Barbecue”, convocou um ataque coordenado para derrubá-lo. “Todos nós, os grupos armados nas cidades das províncias e os grupos armados na capital, estamos unidos”, declarou o ex-policial, que acredita-se estar por trás de vários massacres em Porto Príncipe.

O sindicato dos policiais do Haiti havia pedido ajuda aos militares para reforçar a segurança na principal prisão da capital, mas o complexo foi invadido na noite de sábado (02/03).

No domingo, as portas do presídio ainda estavam abertas, e não havia sinais de agentes penitenciários, informou a agência de notícias Reuters. Três presos que tentaram fugir estavam mortos no pátio, acrescentou a reportagem.

Um jornalista da agência de notícias AFP que visitou a prisão viu cerca de 10 corpos, alguns com sinais de ferimentos causados por balas.

Um funcionário penitenciário voluntário disse à Reuters que 99 prisioneiros —incluindo ex-soldados colombianos presos pelo assassinato do presidente Moïse — haviam optado por permanecer em suas celas por medo de serem mortos em meio ao fogo cruzado.

A violência tem sido frequente desde o assassinato do presidente Moïse, morto dentro de sua residência, em 2021. Ele ainda não foi substituído, e eleições não são realizadas no país desde 2016.

Por um acordo, Henry deveria ter deixado o cargo de primeiro-ministro em 7 de fevereiro. Mas as eleições planejadas não foram realizadas, e ele permanece no poder.

O Haiti não tem um único membro do governo eleito desde que o mandato dos últimos senadores expirou em janeiro de 2023.

Em conversa com a BBC, Claude Joseph — que era o primeiro-ministro em exercício quando o presidente Moïse foi assassinado, e que agora é líder do partido da oposição Comprometidos com o Desenvolvimento — disse que o Haiti estava vivendo um “pesadelo”.

Segundo ele, Henry queria “permanecer no cargo o maior tempo possível”.

“Ele concordou em sair em 7 de fevereiro. Agora ele decide ficar, apesar do fato de haver enormes protestos em todo o país pedindo a saída dele, mas é lamentável que agora esses criminosos estejam usando meios violentos para forçá-lo a renunciar”, declarou.

Em janeiro, a Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou que no ano passado mais de 8,4 mil pessoas no Haiti foram vítimas da violência de facções, incluindo assassinatos, ferimentos e sequestros — mais do que o dobro do número registrado em 2022.

A indignação diante dos níveis chocantes de violência, aliada ao vazio político, levou a vários protestos contra o governo, com os manifestantes exigindo a renúncia do primeiro-ministro.