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Publicado em: 28 março 2024 às 11:14

Fuga de capital faz 'bolsa brasileira' perder R$ 21 bilhões; motivo é intervenção do governo

Por Wagner Albuquerque

A Bolsa de Valores do Brasil enfrenta uma saída significativa de capital estrangeiro no primeiro trimestre deste ano (2024), com investidores retirando cerca de R$ 21,2 bilhões desde o início de 2024. Este trimestre pode registrar o pior desempenho para o período desde 2020, quando a crise global desencadeada pela pandemia resultou em uma retirada de recursos de R$ 64,3 bilhões.

O contexto internacional e as incertezas domésticas contribuem para esse cenário desafiador. A mudança nas expectativas em relação às taxas de juros nos Estados Unidos e as tentativas de intervenção do governo Lula na economia são os principais fatores por trás desse comportamento dos investidores estrangeiros.

A incerteza em relação à política econômica local também contribui para a saída de capitais do mercado acionário brasileiro. As recentes intervenções do governo Lula em empresas como Vale e Petrobras geraram preocupações entre os investidores sobre a possibilidade de um maior intervencionismo estatal na economia.

Dilma, Lula e Haddad. Foto: Reprodução.

Economia dos EUA

No início do ano, os investidores previam uma série de cortes nas taxas de juros nos EUA, mas essas expectativas foram alteradas à medida que os indicadores econômicos mostravam uma economia mais robusta do que o esperado. O Federal Reserve dos EUA sinalizou uma postura mais moderada em relação aos cortes de juros, o que aumenta o atrativo dos mercados norte-americanos e desestimula investimentos em mercados emergentes, como o Brasil.

“Observamos uma mudança significativa nas expectativas em relação aos juros nos EUA, impulsionada pelo otimismo em torno da economia americana”, afirma Marcela Rocha, economista-chefe da Principal Claritas.

Efeito China

Além disso, a desaceleração econômica na China também influencia o desempenho dos investidores estrangeiros na Bolsa brasileira. Como a China é um grande importador de commodities brasileiras, a crise econômica no país asiático impacta diretamente os preços desses produtos, afetando o mercado acionário brasileiro.

Essas incertezas, presentes desde o início do terceiro mandato do presidente Lula, alimentam dúvidas sobre a direção futura da política econômica do Brasil, levando os investidores estrangeiros a adotarem uma postura mais cautelosa em relação ao mercado brasileiro.

“O que a gente vê é um cenário de Bolsa capengando, sem ímpeto e sem fôlego”, aponta Silvio Campos Neto, sócio e economista-sênior da Tendências e Mestre em Economia pela FGV-SP. “E, olhando o comportamento de capitais estrangeiros, há uma saída bastante forte. Talvez tenha um pouco de realização de lucro, depois dos ganhos do ano passado, mas, talvez, os investidores comecem a farejar alguns sinais mais problemáticas da agenda econômica interna.”, complementou.