Por Wagner Albuquerque
A Bolsa de Valores do Brasil enfrenta uma saída significativa de capital estrangeiro no primeiro trimestre deste ano (2024), com investidores retirando cerca de R$ 21,2 bilhões desde o início de 2024. Este trimestre pode registrar o pior desempenho para o período desde 2020, quando a crise global desencadeada pela pandemia resultou em uma retirada de recursos de R$ 64,3 bilhões.
O contexto internacional e as incertezas domésticas contribuem para esse cenário desafiador. A mudança nas expectativas em relação às taxas de juros nos Estados Unidos e as tentativas de intervenção do governo Lula na economia são os principais fatores por trás desse comportamento dos investidores estrangeiros.
A incerteza em relação à política econômica local também contribui para a saída de capitais do mercado acionário brasileiro. As recentes intervenções do governo Lula em empresas como Vale e Petrobras geraram preocupações entre os investidores sobre a possibilidade de um maior intervencionismo estatal na economia.
Economia dos EUA
No início do ano, os investidores previam uma série de cortes nas taxas de juros nos EUA, mas essas expectativas foram alteradas à medida que os indicadores econômicos mostravam uma economia mais robusta do que o esperado. O Federal Reserve dos EUA sinalizou uma postura mais moderada em relação aos cortes de juros, o que aumenta o atrativo dos mercados norte-americanos e desestimula investimentos em mercados emergentes, como o Brasil.
“Observamos uma mudança significativa nas expectativas em relação aos juros nos EUA, impulsionada pelo otimismo em torno da economia americana”, afirma Marcela Rocha, economista-chefe da Principal Claritas.
Efeito China
Além disso, a desaceleração econômica na China também influencia o desempenho dos investidores estrangeiros na Bolsa brasileira. Como a China é um grande importador de commodities brasileiras, a crise econômica no país asiático impacta diretamente os preços desses produtos, afetando o mercado acionário brasileiro.
Essas incertezas, presentes desde o início do terceiro mandato do presidente Lula, alimentam dúvidas sobre a direção futura da política econômica do Brasil, levando os investidores estrangeiros a adotarem uma postura mais cautelosa em relação ao mercado brasileiro.
“O que a gente vê é um cenário de Bolsa capengando, sem ímpeto e sem fôlego”, aponta Silvio Campos Neto, sócio e economista-sênior da Tendências e Mestre em Economia pela FGV-SP. “E, olhando o comportamento de capitais estrangeiros, há uma saída bastante forte. Talvez tenha um pouco de realização de lucro, depois dos ganhos do ano passado, mas, talvez, os investidores comecem a farejar alguns sinais mais problemáticas da agenda econômica interna.”, complementou.