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Publicado em: 9 julho 2024 às 20:46 | Atualizado em: 10 julho 2024 às 06:37

Escassez de soja brasileira preocupa produtores europeus com nova legislação da União Europeia

Por Douglas Ferreira com informações CompreRural

Produtores europeus estão alarmados com a possível escassez de soja brasileira devido à nova legislação anti-desmatamento da União Europeia (UE), que entrará em vigor em 2025. Essa medida ameaça cerca de um terço das exportações brasileiras de soja para o bloco europeu, gerando incertezas entre agricultores e fabricantes de ração.

Nova regulamentação da UE visa proibir importação de proteína animal, café, cacau, borra, madeira e soja de áreas associadas ao desmatamento – Foto: Reprodução

David Saelens, pecuarista na região de Somme, ao norte da França, e responsável pela nutrição animal em uma cooperativa agrícola, expressou suas preocupações: “Sem uma previsão clara dos preços da soja para 2025, fica difícil para os compradores planejarem. Isso cria problemas logísticos para as fábricas de ração e aumenta o risco de interrupções no fornecimento, além de possíveis tarifas mais altas.”

A nova regulamentação da UE visa proibir a importação de alimentos como café, cacau, borracha, óleo de palma, carne bovina, madeira e soja provenientes de áreas associadas ao desmatamento. Essa política, visa combater o desmatamento global, mas tem gerado apreensão entre os pecuarisbaltas europeus, especialmente aqueles que dependem da soja brasileira para a alimentação de seus rebanhos.

A falta de transparência sobre a implementação da nova lei está causando incertezas tanto entre importadores quanto exportadores. Os fabricantes de ração animal, por exemplo, estão enfrentando desafios operacionais devido à suspensão de cotações e à falta de informações claras sobre a disponibilidade de soja. Isso pode resultar em interrupções no fornecimento e aumentos de tarifas.

Impacto na Indústria do aço e agricultura europeia

Além do setor agroalimentar, a indústria do aço no Brasil também está preocupada com as novas regulamentações da UE, temendo um aumento nas importações devido às restrições destinadas a reduzir a pegada de carbono. Esse cenário afeta não apenas a França, um dos maiores produtores de carne e leite da UE, mas também países vizinhos como a Espanha, grande produtora de carne suína.

A associação espanhola do setor, Unistock, recentemente expressou suas preocupações sobre a medida. Apesar dos esforços para aumentar a produção local, a França continua importando mais de 90% da soja utilizada na alimentação animal, principalmente do Brasil, conforme apontado pela cooperativa agrícola.

Esforços e desafios dos importadores de soja

A Solteam, uma das principais importadoras de soja na França, afirma estar preparada para cumprir a nova regulamentação, embora reconheça enfrentar desafios operacionais, segundo seu gerente Laurent Houis. Enquanto aguardam mais detalhes da Comissão Europeia sobre a implementação da diretiva, a empresa optou por não divulgar publicamente os preços de mercado além de dezembro de 2024.

O grupo Louis-Dreyfus, outro grande importador de soja, está coletando dados e certificações de origem da soja, mas também depende de mais informações da Comissão Europeia para implementar plenamente as novas exigências. Claude Soudé, subdiretor da federação de produtores de sementes oleaginosas e proteínas da França, alerta que empresas que não cumprirem as novas regras poderão enfrentar sanções severas, incluindo multas de até 4% do faturamento ou até mesmo a proibição de acesso ao mercado.

Preocupações no Brasil e medidas de adaptação

No Brasil, empresas do setor garantem estar preparadas para atender às novas exigências. Azael Pizzolato Neto, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja do Estado de São Paulo, declarou que os comerciantes estão focados na logística para assegurar a rastreabilidade exigida. Ele enfatizou que o Brasil já possui uma legislação rigorosa contra o desmatamento e que qualquer escassez de soja no mercado europeu não será por falta de produtos que atendam aos requisitos, mas sim devido a eventuais ineficiências europeias.

Carolina Teodoro, da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná, que representa cerca de 168.000 agricultores, confirma que os produtores estão interessados em manter relações comerciais com os clientes europeus. “Esperamos que as certificações ambientais existentes sejam suficientes”, afirmou à Agência France Presse – AFP.

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serciços solicita que a União Europeia leve em consideração os dados e sistemas brasileiros para determinar as políticas de combate ao desmatamento. Entretanto, a Confederação Nacional da Agricultura do Brasil – CNA, expressa preocupação de que os requisitos europeus possam penalizar os pequenos produtores, que têm menos recursos para fornecer dados, especialmente por satélite, para comprovar que suas plantações não contribuem para o desmatamento.

Nossa equipe entrou em contato com o diretor executivo da Associação dos Produtores de Soja do Piauí, Rafael Maschio, para saber a posição da Aprosoja/PI sobre essa questão. Ele deu a seguinte levantou os seguintes pontos:

  • O produtor piauiense respeita a legislação brasileira;
  • Entende que o Código Florestal brasileiro é uma das legislações ambientais mais rígidas do mundo, pois prevê a destinação de 20% a 80% da área a título de reserva legal mais as áreas de proteção permante;
  • Também é contra essa imposição de não poder utilizar nada, não poder abrir nenhuma área após 2020, que é o que diz o regulamento da União Europeia. Isso é tolher o direito do produtor que tem área que pode ser aberta respeitando o Código Florestal. Então essa exigência é vista como um ataque à soberania nacional;
  • E tem ainda a burocracia para comprovar a produção de quem já produzia antes de 2020, que aquela soja advém de uma condição assim;
  • Hoje o próprio INPE, o MapBiomas Brasil, uma rede de ONGs que faz esse serviço, você tem imagem de satélite que tem como ver quando a área foi aberta sem muita dificuldade. Mas, tudo isso vai ter um custo muito grande para segregar essa produção aberta antes de 2020;

Por fim, Rafael Maschio disse que, “não entendo como uma imposição de fora pode ferir a norma nacional. Então não é muito coerente”.

Em resumo, a nova legislação antidesmatamento da UE está criando um cenário de incerteza e desafios tanto para os agricultores europeus quanto para os exportadores brasileiros, destacando a complexidade de equilibrar sustentabilidade ambiental com necessidades comerciais.AprosojaEm resumo, a nova legislação antidesmatamento da UE está criando um cenário de incerteza e desafios tanto para os agricultores europeus quanto para os exportadores brasileiros, destacando a complexidade de equilibrar sustentabilidade ambiental com necessidades comerciais.