Por Douglas Ferreira
O Brasil nunca perdeu tanto investimento estrangeiro como em 2024. A cada mês, bilhões de reais deixam o país. Só da Bolsa de Valores de São Paulo, nos seis primeiros meses do ano, foram mais de R$ 40 bilhões. Quais os principais motivos? Isso já caracteriza uma tendência do mercado? Quais os impactos dessa evasão na economia brasileira?
Recorde de saída de investimentos estrangeiros
Investidores estrangeiros retiraram recursos da Bolsa de São Paulo – B3, em todos os meses do primeiro semestre de 2024. Este movimento não ocorria desde 2020, quando houve uma retirada contínua de valores por oito meses consecutivos, entre outubro de 2019 e maio do ano seguinte.
Apesar do aporte de R$ 606,7 milhões em ações já listadas na última sexta-feira (28), o déficit mensal ficou em R$ 4,23 bilhões em junho. No mesmo dia, o Ibovespa fechou em queda de 0,32%, aos 123.906,55 pontos.
No acumulado do ano, o saldo negativo atingiu R$ 40,12 bilhões.
Os investidores institucionais sacaram, também na sexta passada, R$ 1,30 bilhão. Neste caso, o déficit mensal chegou a R$ 1,51 bilhão, mas o superávit anual soma R$ 1,60 bilhão, informou o Valor Econômico.
Já o investidor individual aportou R$ 361,6 milhões na sexta (28). Com isso, o superávit bateu R$ 3,57 bilhões em junho. O superávit de 2024 nesta categoria foi de R$ 22,76 bilhões.
Principais motivos para a evasão
Além da tensão com o cenário internacional, os investidores seguem cautelosos com o risco fiscal brasileiro. Na semana passada, o Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, sinalizou que os cortes de juros devem ocorrer apenas em setembro deste ano.
O temor com o cumprimento das metas fiscais no Brasil foi aprofundado com as declarações recorrentes do presidente Lula (PT) contra o Banco Central. O presidente também questionou o corte de gastos.
Lula intensificou as críticas ao presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, após o Comitê de Política Monetária (Copom) interromper o ciclo de cortes na taxa básica de juros no último dia 19. O colegiado manteve, por unanimidade, a Selic em 10,50%.
Impactos na economia brasileira
As falas de Lula também impactaram o dólar, que vem registrando altas consecutivas nos últimos dias. A moeda norte-americana subiu 1,15% nesta segunda (1º), cotada a R$ 5,65, maior valor em dois anos e meio.
Nesta terça (2), Lula afirmou que o Brasil está vivendo um “jogo de especulação” com as sucessivas altas do dólar. Após as novas declarações do presidente, o dólar atingiu R$ 5,70 na máxima do dia.
A tendência do mercado
A retirada contínua de investimentos estrangeiros pode indicar uma tendência preocupante para o mercado brasileiro. A saída de capitais não só afeta o valor das ações e a confiança dos investidores, mas também pode ter consequências mais amplas para a economia do país, incluindo a inflação, a taxa de câmbio e o crescimento econômico.
Com o cenário atual, é crucial que o governo brasileiro trabalhe para estabilizar a economia e restaurar a confiança dos investidores para evitar maiores danos econômicos no futuro.