Por Wagner Albuquerque
O Brasil enfrenta uma ameaça climática que complica os esforços para combater a inflação e impulsionar a economia. As preocupações sobre os efeitos do El Niño na agricultura, responsável por um quarto do PIB, levam a revisões nas estimativas para 2024, após uma safra robusta no ano anterior. O aumento nos preços dos alimentos preocupa economistas, especialmente em meio a uma economia desacelerando e ao ciclo de corte de juros do Banco Central.
“O El Niño está pior que o esperado”, disse Adriano Valladão, economista do Santander Brasil. “Esperamos números piores para a inflação de janeiro por conta do El Niño, impactando os produtos mais voláteis de alimentação.”
Dados globais sugerem que, até o momento, é improvável que o fenômeno climático tenha a mesma gravidade do evento que atingiu a Ásia, a Austrália e as Américas entre 2014 e 2016. Mas o aquecimento das águas no leste do Oceano Pacífico já teve um impacto na economia global, contribuindo para problemas da Índia até a África e provocando o aumento dos preços do arroz, do café e de outros produtos.
Itens básicos como batata, feijão, arroz e frutas ficaram mais caros em meio a altas temperaturas e fortes chuvas.
O El Niño mais intenso pode impactar severamente, adicionando 0,8 ponto percentual à inflação acumulada para 2023 e 2024, segundo pesquisa do Banco Central. O Brasil já enfrenta sinais de alerta, com a inflação medida pelo IPCA acelerando em dezembro devido a custos crescentes de alimentos. Itens básicos como batata, feijão, arroz e frutas ficaram mais caros devido a altas temperaturas e chuvas intensas, resultando em aumento de 1,34% nos custos de alimentação em casa.
O El Niño afeta a América do Sul, com Peru e Colômbia enfrentando grandes riscos, enquanto a Argentina pode se beneficiar. No Brasil, tempestades extremas no sul causam inundações e atrasam o plantio de arroz. Os preços do arroz sobem quase 6%, impactando os consumidores. A produção mais cara é esperada nos próximos meses, afetando tubérculos, leguminosas e trigo. Regiões agrícolas do norte e centro enfrentam escassez de chuvas, prejudicando previsões para a soja.
A produção deverá ficar mais cara nos próximos meses, disse Margarete Boteon, professora de economia da Universidade de São Paulo. O tempo chuvoso também prejudicou as colheitas de trigo e deverá resultar num aumento dos preços da farinha, de acordo com a Abitrigo.
Os efeitos moderados na América Latina indicam riscos crescentes para economias dependentes da agricultura. Embora a Colômbia tenha conseguido cortar taxas em dezembro, a Ásia adia flexibilizações devido ao aumento da inflação. O El Niño destaca o risco crescente de condições meteorológicas extremas, tornando o clima crucial para inflação e desempenho econômico, com impactos de longo prazo previstos.