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Publicado em: 13 fevereiro 2024 às 11:11 | Atualizado em: 13 fevereiro 2024 às 11:24

Economia do Piauí sofrerá com temporada de chuvas irregulares e abaixo do esperado em janeiro

Por Wagner Albuquerque

“A temporada de chuvas irregular terá impactos significativos na economia”, prevê o climatologista Werton Costa, diretor de prevenção da defesa civil do Piauí.

O especialista realizou uma análise das chuvas abaixo da média que ocorreram em Teresina durante o mês de janeiro e antecipa dificuldades para os agricultores familiares do estado devido à imprevisibilidade do período chuvoso no Piauí.

Zona leste de Teresina. Foto: Wagner Albuquerque

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), em janeiro, o total de chuva na estação meteorológica automática de Teresina (PI) foi de 101,4 milímetros, aproximadamente 51% abaixo da média da estação convencional medida nos últimos 30 anos, que é de 205,9 mm.

Ao longo do mês, foram registrados 10 dias com chuva igual ou superior a 1,0 milímetro, sendo o maior total diário de chuva de 30,2 mm no dia 03 de janeiro.

A temperatura mínima média na capital foi de 24,2°C, 1,4°C acima da média da estação convencional, que é de 22,8°C. Essa temperatura mínima média é considerada a quarta maior desde a instalação da estação automática.

Se janeiro foi marcado pela escassez de chuvas, fevereiro começou com fortes pancadas de chuva em várias regiões do estado, indicando a instabilidade climática, conforme apontado por Werton Costa.

“Uma palavra que define as condições atmosféricas e pluviométricas do estado do Piauí nesta temporada é irregularidade. Isso significa que a distribuição da carga de chuva durante nossa estação chuvosa é profundamente desigual sobre o território do Piauí, beneficiando poucas áreas em detrimento de muitas que dependem da chuva”, afirmou.

Imagens de tempestades no sul do estado, uma região historicamente mais seca, ilustram a instabilidade da temporada chuvosa.

“A irregularidade também se manifesta nos volumes de chuva, com precipitações abaixo da média. Observamos esse cenário na pré-temporada, em novembro e dezembro, quando todos os municípios tiveram chuvas abaixo da média na pré-estação. Com a estação chuvosa entre janeiro e abril, a condição de irregularidade persistiu, desta vez com um contraste profundo na distribuição entre o sul e o norte do estado”, acrescentou.

O fenômeno do El Niño é apontado pelo climatologista como responsável por essa situação, restringindo a entrada de umidade no nordeste e atrasando o início do período chuvoso.

“Já enfrentamos vários episódios no Piauí, como em 96 e 97, e em 2015 e 2016, que foram dramáticos para a economia e segurança hídrica e alimentar piauienses. O El Niño de 2023, que persiste até abril de 2024, foi mapeado como forte, mas está perdendo força rapidamente, um sintoma claro das mudanças climáticas”, destacou.

O El Niño é um evento climático caracterizado pelo aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico Tropical. Esse fenômeno, de periodicidade irregular, geralmente ocorre a cada 2 a 7 anos e pode durar até 18 meses, frequentemente associado a mudanças nos padrões climáticos em várias regiões do globo.

Sul do estado do Piauí recebeu chuvas a cima da média. Foto: Reprodução.

Cerrados e Sertão mais chuvosos

O climatologista esclarece que o fenômeno causou uma inversão no Piauí, com municípios mais secos registrando chuvas acima da média e municípios mais úmidos recebendo chuvas abaixo do esperado.

“Esse fenômeno resultou em algo curioso em janeiro. Tivemos municípios como Corrente, Santa Filomena, Gilbués e Paranaguá apresentando volumes chuvosos expressivos, entre 40% e 50% acima da média. Por outro lado, municípios como Parnaíba, Luzilândia e Teresina registraram um déficit de chuvas, uma condição abaixo da média entre 40% e 50%. Esse contraste evidenciou a diferença entre as chuvas no sul, mais abundantes, e as chuvas no norte”, afirmou.

Segundo Werton, as chuvas no sul, tanto na faixa dos cerrados quanto do sertão, vieram do Atlântico Sul, quando tradicionalmente deveriam vir do norte, do Atlântico Tropical, destacando a irregularidade. As previsões para fevereiro indicam que a chuva tenderá a migrar para o norte, fechando dentro da média os acumulados.

Impactos econômicos

A instabilidade e a irregularidade do período chuvoso devem causar, segundo o especialista, um forte impacto econômico, principalmente para os trabalhadores do campo.

“Para o mês de março, a climatologia prevê volumes próximos da normalidade. No entanto, a temporada continuará profundamente irregular, com fortes impactos na economia, principalmente para a agricultura familiar. São esperados volumes significativos de chuvas em algumas cidades, e em alguns locais, são previstos alagamentos, especialmente nas cidades do baixo Parnaíba, que possuem confluências de várias sub-bacias, como a do Longá e do Poti, por exemplo”, concluiu.