Por Douglas Ferreira
Não há dúvidas de que o território brasileiro foi habitado por dinossauros, como evidenciado em praticamente todos os Estados do país. No Nordeste, a Serra da Capivara, no Sul do Piauí, fornece confirmação científica de preguiças gigantes da era jurássica, entre outros animais. O município de Sousa, no sertão paraibano, possui um parque dos dinossauros devido à abundância de fósseis.
Agora, uma nova descoberta surge no Rio Grande do Sul. Lá pesquisadores encontraram um fóssil de anfíbio datado de uma época anterior aos dinossauros.
O fóssil foi encontrado em um sítio arqueológico, em Rosário do Sul, por pesquisadores da Unipampa, no Laboratório de Paleobiologia do Campus São Gabriel. O crânio desse anfíbio gigante, identificado como mais antigo que os dinossauros, foi descoberto em rochas de uma fazenda na área rural do município.
A descoberta sugere uma possível conexão entre a fauna do pampa gaúcho e a da Rússia, desafiando o que se conhece sobre o ecossistema da Pangeia, a teoria dos continentes sendo um único bloco. A ossatura, encontrada em agosto de 2022, foi analisada recentemente, revelando que o animal viveu cerca de 250 milhões de anos atrás, antes dos dinossauros.
A nova espécie foi denominada Kwatisuchus rosai, referindo-se ao termo Tupi para “focinho comprido” (Kwati) e homenageando o paleontólogo Átila Stock Da-Rosa. O anfíbio pertence ao início do período Triássico, quando o ecossistema se recuperava de uma extinção em massa.
A descoberta é parte de um projeto do Laboratório de Paleobiologia da Unipampa, que planeja uma exposição com réplicas em 3D dos fósseis e animais, visando popularizar a ciência. A espécie Kwatisuchus rosai faz parte do grupo de animais dominantes no Triássico e, segundo estudos, pode ter originado anfíbios modernos, como sapos e salamandras.
O achado surpreende os pesquisadores por encontrar um anfíbio semelhante ao encontrado na Rússia, na América do Sul. A conexão entre as faunas do Rio Grande do Sul e da Rússia levanta questões sobre as hipóteses geográficas da Pangeia. O fóssil é uma peça do quebra-cabeça sobre as faunas do Triássico, após uma extinção ocorrida no período Permiano.
A descoberta, financiada pela pesquisa Lemann-Brasil, amplia a compreensão da diversidade de organismos fósseis no Sul do país e destaca a necessidade contínua de aprender sobre a geografia e a distribuição de organismos em nosso passado remoto.