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Publicado em: 18 dezembro 2023 às 11:10 | Atualizado em: 18 dezembro 2023 às 11:11

AMAPÁ: Erosão e salinização no arquipélago do Bailique; o mesmo ocorre na praia de Macapá/PI

Erosão nas margens do Bailique, no Amapá — Foto: Divulgação/Defesa Civil

Alterações na foz do rio Amazonas estão causando um aumento na erosão das ilhas e na salinização da água, alertam pesquisadores, sem dados suficientes para compreender o fenômeno. Localizado no extremo Norte do Brasil, o Arquipélago do Bailique enfrenta um desafio considerável, onde o embate entre o rio e o oceano, antes sazonal, intensificou-se devido ao aquecimento global. O avanço do mar, agora mais frequente e de maior impacto, transformou a água doce em salobra por períodos prolongados, afetando a vida dos 13 mil habitantes das oito ilhotas.

Construído em 2019, o comércio a Casa Andrade viu a erosão corroer 50 metros do terreno em quatro anos – Foto: Reprodução

A geóloga Valdenira Ferreira dos Santos, pesquisadora do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA), destaca que o arquipélago enfrenta dois fenômenos interligados: erosão e intrusão salina. No entanto, a falta de dados históricos confiáveis dificulta a compreensão precisa da relação entre esses eventos. Diante dessa lacuna, Valdenira iniciou o Observatório Popular do Mar, uma iniciativa com participação comunitária para coletar informações e investigar as interações entre as mudanças climáticas e os desafios enfrentados pelo Bailique.

Moradores convivem com salinização das águas do rio – Foto: Reprodução

Moradores locais têm observado a salinização crescente da água do rio para dentro do continente, mesmo em períodos tradicionalmente de estiagem. A pesquisadora destaca a falta de evidências científicas concretas para embasar essas observações, ressaltando que, embora exista uma possibilidade de relação com as mudanças climáticas, a falta de medições precisas é uma limitação.

Um vídeo produzido pelo IEPA, com imagens de satélite ao longo de 33 anos, ilustra significativas alterações na dinâmica hidrológica na costa do Amapá. O engenheiro Alan Cavalcanti da Cunha, da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), explica que o assoreamento na foz do rio Araguari contribui para o redirecionamento da água em direção ao Bailique, resultando em erosão e impactando as áreas de maior velocidade de corrente.

Erosão se aproxima de outra estrutura da Escola Bosque — Foto: Helton Sarge

A bióloga Janaína Callado destaca a complexidade do fenômeno, enfatizando a necessidade de pesquisas para compreender suas causas. A falta de dados históricos consistentes, segundo ela, dificulta a avaliação precisa da situação. Callado ressalta que políticas territoriais para o Bailique devem ser baseadas em evidências científicas para orientar construções e evitar problemas futuros.

O ex-governador João Capiberibe destaca sua experiência de vida ao sugerir que as ilhas do arquipélago estão diluindo devido ao impacto das águas do Araguari. Ele enfatiza a necessidade de modificar o modelo atual de consumo e produção como única maneira de controlar o processo, indicando a importância de deter a destruição na Amazônia.

Erosão na praia de Macapá no Piauí

Situação semelhante vive também o litoral do Piauí. No município de Luís Correia, a praia de Macapá (coincidência, né?) também vive os efeitos do avanço do mar. Hoje muito menos do que há duas décadas e meia. Em meados dos anos 90 a Pousado do Lopes, a primeira naquela localidade foi completamente “engolida” pelo oceano. Hoje não resta mais nada de uma pousada com dez quartos, restaurante e área livre.

Hoje os nativos dizem que sentem o avanço do mar sobre o continente, “porém de forma muito mais lenta que há 25 anos”.

Redação Move Notícias