Neste domingo, um sentimento avassalador de tristeza e revolta tomou conta de toda a sociedade gaúcha, enquanto o restante do país observava com perplexidade e preocupação. Um vídeo, que rapidamente se tornou viral nas redes sociais, apresentava Samara, diretora da Unidos pelos Animais – UPA, de Sarandi/RS, expressando indignação por estar sendo impedida de receber donativos. Ele estava a serviço voluntário da Amando, Protegendo e Ajudando Muitos Animais – APAMA, ONG de Lajeado/RS. Essas doações eram destinadas aos animais vítimas da terrível tragédia causada pelo ciclone extratropical no Rio Grande do Sul.
Samara relatou com pesar que estava proibida a distribuição de ração para os animais e alimentos para as famílias desabrigadas em Lajeado, no Vale do Taquari. O motivo? Os donativos arrecadados por ONGs e voluntários só poderiam ser entregues aos necessitados após a chegada do ‘presidente’ ao Rio Grande do Sul.
Na opinião da diretora da UPA, a situação estava sendo politizada. Isso, uma vez que parece que estavam esperando a chegada do ‘presidente’ apenas para fins de registro fotográfico e gravação de vídeos.
O problema maior, entretanto, era que o presidente Lula se encontrava na Índia no momento. Essa informação revoltou profundamente a população gaúcha, que não conseguia entender como, diante de uma tragédia sem precedentes com mais de 80 mortes registradas em consequência direta do ciclone extratropical, e ainda centenas de desaparecidos, o ‘presidente’, mesmo antes de viajar não havia comparecido para demonstrar solidariedade às famílias afetadas.
Ainda no domingo à noite, Samara voltou a publicar um novo vídeo (que também viralizou) onde busca esclarecer que o ‘presidente’ em questão não era Lula, mas o vice presidente Geraldo Alkimin, interinamente à frente da Presidência da República. E que em função da indignação ela teria se confundido.
A revolta expressa por Samara não era um sentimento isolado. Era compartilhada por todo o povo gaúcho, que não consegue esconder a tristeza diante do aparente abandono pelo chefe da Nação em um dos momentos mais dramáticos da história recente do Rio Grande do Sul.
Pouco importa se a distribuição dos donativos foi paralisada para a espera de Lula ou Alkimin. O absurdo está na proibição em si. Na demora em atender à população.
A pergunta que ecoava incessantemente é: de quem partiu essa determinação? Será que foi mesmo uma decisão do governo federal? Quem emitiu essa ordem não tem sensibilidade? Não compartilha com a dor daqueles que perderam entes queridos e que também sofrem na pele os efeitos dessa tragédia?
A situação vivida pelos desabrigados, por aqueles que perderam tudo e pelos sobreviventes não poderia ficar refém de caprichos ou agendas políticas. Quem tem fome e frio não pode esperar. É um apelo por socorro que não pode ser ignorado.
Por Douglas Ferreira