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Publicado em: 7 agosto 2023 às 17:23 | Atualizado em: 7 agosto 2023 às 20:19

Da vida na caverna em Diamantina a escritora na Suécia: a incrível jornada de Christina Rickardsson

Christina viveu literalmente numa caverna em Diamantina/MG – Foto: Reprodução

Nascida em Diamantina/MG, no ano de 1983, mesma cidade que viu nascer um dos mais renomados presidentes da República do Brasil, Juscelino Kubistchek de Oliveira, a mineira Christina Rickardsson teve seu nome registrado como Christiana Mara Coelho no cartório de sua cidade. Ela passou parte de sua infância vivendo com a mãe em uma caverna localizada no Parque Estadual do Biribiri, uma reserva natural próxima a Diamantina.

Depois de cinco anos, foram obrigadas a deixar o local e se mudaram para uma favela em São Paulo, onde Christina enfrentou dificuldades extremas, incluindo viver nas ruas, implorar por comida e dinheiro, além de sofrer abusos físicos e psicológicos. Aos sete anos de idade, ela e seu irmão mais novo foram levados para um orfanato, e aos oito anos, contra a vontade de Christina e da mãe, foram adotados e levados para Vindeln, um vilarejo no norte da Suécia, na região de Västerbotten.

Na Suécia, Christina Rickardsson foi adotada por um casal que a levou para Vindeln, um pequeno vilarejo com cerca de 2,5 mil habitantes, situado no norte do país, próximo à cidade de Umea. Foi lá que ela vivenciou seu primeiro inverno e presenciou a neve pela primeira vez.

“Havia nevado muito durante a noite, e quando acordei, pensei que nossa casa estava cercada por uma enorme nuvem branca. Eu não sabia o que era neve. Então, saí de casa com poucas roupas e me joguei naquele tapete branco que cobria o chão”, relembra Christina.

“Não sabia que a neve era fria e comecei a gritar”, acrescenta.

A mãe adotiva a apressou para um banho quente. Outro choque ocorreu quando os pais adotivos a retiraram do orfanato, juntamente com o irmão Patriqui, que também ganhou um nome sueco, Patrik.

“Me disseram no orfanato que eu seria adotada, mas ninguém me explicou o que isso realmente significava”, conta Christina.

“Quando saímos do orfanato de mãos dadas com meus pais adotivos, percebi que aquilo era real – eles estavam me levando embora”, percebeu.

Embora a vida de Christina tenha se estabilizado na Suécia, o início da adaptação foi desafiador devido às profundas diferenças culturais que enfrentou. Tudo era novo: a comida, os ambientes, a natureza, as pessoas e até a língua.

O livro será lançado no Brasil ainda neste semestre – Foto: Reprodução

Com o tempo, Christiana deu lugar a Christina, o que facilitou a integração ao modo de vida sueco. A história dessas duas fases da vida de Christina se transformou em um best-seller, intitulado “Sluta Aldrig Ga” (Nunca Pare de Caminhar), o primeiro livro da autora brasileira que agora se expressa principalmente em sueco.

O livro será lançado no Brasil ainda neste semestre pela editora Novo Conceito, com tradução de Fernanda Sarmatz Akesson. Aos 33 anos, Christina Rickardsson também realizou outro sonho ao fundar a Coelho Growth Foundation, uma organização de apoio a crianças carentes no Brasil.

A missão de Christina é promover a compreensão das diferenças, combater preconceitos e abordar conflitos culturais existentes no mundo, incentivando o diálogo, a tolerância e a abertura da sociedade. Ela almeja que sua experiência de vida sirva como exemplo da importância de garantir os direitos das crianças, utilizando a Suécia e o Brasil como pontos de partida. A história de Christina pretende inspirar governos, empresas, organizações e indivíduos a colaborar eficazmente em ambientes multiculturais.

No Brasil, aproximadamente sete milhões de crianças vivem em situação de rua. Christina deseja chamar a atenção não apenas para a realidade em que essas crianças se encontram, mas também para a falta de representatividade e voz. A escritora busca contribuir para a mudança dessa realidade, a fim de proporcionar a todas as crianças a chance de crescerem em uma sociedade onde possam desfrutar de uma infância segura e feliz, e eventualmente contribuir para a sociedade como adultos.

Por Douglas Ferreira (com informações do Blog do Tamanini)