Por Douglas Ferreira
Surpreendentemente, a soja, conhecida por ser um alimento rico em nutrientes e amplamente utilizada na indústria de óleo, alimentos e na produção de ração animal a partir do bagaço, revela-se muito mais versátil do que se imaginava. Pesquisadores da Embrapa descobriram que a oleaginosa pode ser empregada na fabricação de pneus, tênis de alta performance e até mesmo como combustível. Essas possibilidades, antes inexploradas, tornaram-se realidade.
Estudos indicam que a soja possui potencial para expandir sua produção além do âmbito alimentar, e o mais promissor é que isso pode ser alcançado com uma abordagem ambientalmente sustentável. Nas últimas duas décadas, a soja tem se destacado como uma alternativa atrativa para substituir matérias-primas derivadas do petróleo, sendo utilizada em produtos como borrachas, fibras, plásticos, revestimentos, solventes, lubrificantes e adesivos.
Décio Luiz Gazzoni, engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Soja, destaca que a crescente preferência dos consumidores por matérias-primas renováveis e sustentáveis beneficia a soja. Além de ser mais econômica do que os insumos petroquímicos, a soja apresenta emissões de gases de efeito estufa inferiores ao petróleo, alinhando-se às metas de sustentabilidade das empresas.
Um ponto favorável da soja é sua capacidade de fixar nitrogênio da atmosfera, eliminando a necessidade de fertilizantes nitrogenados, cujo processo é altamente poluente. Isso, somado à inovação tecnológica, facilita a entrada da soja na “química verde”, destacando-se pela estabilidade em altas temperaturas, essencial para combustíveis e lubrificantes automotivos.
Os resultados desses esforços já se refletem em novas aplicações inovadoras de soja, principalmente nas categorias de revestimentos, adesivos, tintas e fibras. Empresas renomadas, como a Goodyear, já produzem pneus com óleo de soja, enquanto os tênis de corrida Skechers utilizam a mesma tecnologia.
O pesquisador Gazzoni enfatiza que esse é apenas um vislumbre das inúmeras possibilidades não alimentares da soja em desenvolvimento. Essa expansão para diferentes produtos não apenas sustentará, mas também aumentará a demanda por soja nos próximos anos, representando uma oportunidade valiosa para o Brasil, desde que o país continue a demonstrar a sustentabilidade de seus sistemas de produção ao mercado.