Especialistas ouvidos pela CNN viram tom mais suave na ata do que o mostrado no comunicado da decisão sobre os juros, na semana passada
Após a divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central – Copom, o mercado volta a esperar o início do ciclo de corte na taxa básica de juros para agosto.
O comentarista de economia da CNN Sergio Vale destaca trecho do documento que mostra que a maior parte do colegiado vê espaço para um afrouxamento da política monetária já no próximo encontro.
“O trecho dá a senha para uma provável queda em agosto. Não estava explícito no comunicado, mas agora ficou claro que o grupo majoritário vê a queda a partir de agosto”, explica.
Vale se refere ao comunicado publicado pelo Copom logo após sua reunião. Considerado “duro”, o informativo frustrou parte do mercado que já precificava a queda de juro para agosto.
O texto desta terça-feira afirma que a avaliação predominante entre os membros do comitê é de que o processo desinflacionário em curso — com consequente impacto sobre as expectativas — pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar “um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião”.
A economista-sênior da LCA Consultores Thais Zara destaca que, apesar de predominante, a avaliação não foi unânime. Portanto, os próximos passos da política monetária devem depender da evolução da inflação.
“Outro grupo se mostrou mais cauteloso e trouxe que a dinâmica desinflacionaria ocorre por conta de componentes mais voláteis. Para esse grupo seria melhor esperar. Então o que se concordou é que os passos futuros vão depender dessa evolução da dinâmica de inflação”, indica.
Mercado volta a precificar queda
A economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, reitera a percepção de que há elementos para o início da baixa. “A ata foi um pouco mais dovish e indica que a visão “predominante” é início do corte na próxima reunião, considerando o cenário atual de queda da inflação e queda das expectativas”,
O Banco Bradesco emitiu nota nesta terça-feira em que indica, visto o conteúdo da ata, um primeiro corte de juros em agosto, de 0,25 ponto percentual (p.p).
“Apesar de sinalizar essa flexibilização, o Copom concordou, unanimemente, que uma flexibilização prematura – enquanto não houver confiança no processo de desinflação – é indesejável. Dessa forma, o ciclo de corte deve ser gradual”, pontua a nota.
O economista-chefe o economista-chefe da XP, Caio Megale, reitera a avaliação de que em agosto a baixa será de 0,25 p.p. O especialista acredita que o corte inaugural será seguido de uma sequência de reduções em 0,50 p.p.
Na avaliação da XP, a Selic pode chegar a 12% ao ano até o final de 2023.
A Órama Investimentos também viu “tom mais suave” nas palavras do Copom. A casa projeta o início do ciclo de cortes para agosto e uma taxa Selic de 12,25% para o fim de 2023.
Recado ao CMN
Rafaela Vitória destaca ainda que o BC dá “recado implícito ao Conselho Monetário Nacional”.
“O recado é de que, reancorar as expectativas, é fundamental para a credibilidade da política monetária. Expectativas desancoradas são um entrave para a queda dos juros, na visão do Copom”, aponta.
O CMN se reúne no próximo dia 29. Na reunião será debatida a meta de inflação.
A Órama fez destaque parecido em sua análise. “A ata menciona que parte da desancoragem das expectativas está relacionada com a discussão das metas e que quaisquer decisões que ‘reancorem’ as expectativas podem levar a uma desinflação mais célere, antecipando, na nossa visão, alguma alteração das metas na reunião do CMN”.