Com profunda gratidão, gostaria de iniciar esse diálogo no Benditas Mulheres falando um pouco sobre minha jornada no mundo da Arquitetura e Urbanismo, trazendo para o centro da conversa o papel fundamental das mulheres no desenho do espaço urbano e como suas experiências enriquecem a dinâmica das cidades. Desde os primeiros passos na universidade, dediquei-me a compreender como as mulheres deixam suas marcas na identidade urbana e transformam tanto esferas domésticas quanto públicas. Estudar a forma como as mulheres habitam, interagem e moldam os ambientes urbanos se tornou uma paixão, levando-me a reconhecer que os lugares são dotados de significados pelas histórias que elas tecem. Em minha trajetória como arquiteta e urbanista, tenho me dedicado a entender e aplicar princípios que tornem as cidades mais inclusivas e acolhedoras, especialmente para as mulheres. Afinal, uma cidade que responde às necessidades das mulheres é uma cidade que atende bem a todos os seus habitantes.
Ao considerar a presença feminina nos centros urbanos, percebi a urgência em repensar nossas cidades para que se tornem refúgios de inclusão e acolhimento para elas. A vivência feminina, muitas vezes marcada por desafios únicos, é um elemento transformador que não pode ser ignorado na formação de metrópoles contemporâneas.
Através desta coluna, pretendo fomentar discussões que valorizem a influência feminina no urbanismo, sublinhando por que cidades que são boas para as mulheres são, de fato, melhores para todos. Uma cidade planejada com sensibilidade às necessidades das mulheres é uma cidade que atende melhor a seus cidadãos em todas as dimensões – segurança, acessibilidade e oportunidade. Cidades que ouvem suas mulheres crescem em empatia e prosperidade, tornando-se lugares onde todos, independentemente do gênero, podem prosperar.
Um exemplo emblemático dessa abordagem foi o projeto de revitalização do centro de Teresina, onde participei ativamente do redesenho do espaço urbano. Neste projeto, desafiou-se o status quo ao remover o asfalto de oito ruas centrais, substituindo-o por bloquetes de cimento, com calçadas alargadas e uma série de mobiliários urbanos convidativos, como bancos e lixeiras, e integrando o verde da vegetação ao cinza do concreto.
O projeto não foi apenas uma renovação estética; ele representou uma profunda transformação social e ambiental. Alargando as calçadas, proporcionou-se mais espaço para a circulação segura de pedestres, o que é especialmente importante para mulheres que, muitas vezes, transitam com crianças ou fazem mais uso do espaço público como pedestres. A instalação de bancos e lixeiras trouxe conveniência e conforto, incentivando as pessoas a pararem, descansarem e interagirem, o que nutre o tecido social e fomenta uma sensação de comunidade.
A introdução de vegetação, por sua vez, foi mais do que estética; foi uma injeção de vida. Árvores e canteiros não só embelezam, mas também melhoram a qualidade do ar e mitigam as ilhas de calor, tornando o ambiente urbano mais agradável e saudável para todos.
Essas mudanças também trouxeram um impacto ambiental significativo. A redução da velocidade dos automóveis nessas vias aumentou a sensação de segurança para o pedestre. O projeto de Teresina exemplifica como a arquitetura e o urbanismo podem contribuir para uma cidade mais humana e mais feminina, considerando e respeitando as experiências das mulheres em seu design.
Ao repensar as cidades com um olhar feminino, estamos, na verdade, atendendo a uma gama mais ampla de necessidades humanas. Uma cidade desenhada para ser segura para as mulheres é uma cidade segura para todos. Espaços que são confortáveis para mães com carrinhos de bebê são confortáveis para todos os pedestres. E áreas que permitem que as mulheres se sintam proprietárias do espaço público são áreas que promovem a cidadania e o pertencimento para todos.
Nossa intervenção no centro de Teresina é apenas um exemplo, mas é um modelo poderoso do que pode ser alcançado quando arquitetos e planejadores urbanos se propõem a construir não apenas estruturas e espaços, mas também a tecer as redes de inclusão e igualdade que são o verdadeiro alicerce de qualquer metrópole próspera. Em cada rua que revitalizamos e cada praça que tornamos mais verde, estamos reconstruindo a cidade não só em termos físicos, mas também sociais e culturais.
Assim, com cada projeto que abraço e cada espaço que reimagino, levo comigo a convicção de que a arquitetura e o urbanismo têm o poder e a responsabilidade de criar cidades que não apenas existam, mas que verdadeiramente vivam e respirem pela igualdade e pelo respeito à diversidade de todos que as chamam de lar.