Editorial por Betina Costa
Mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, e muito se fala em empoderamento e protagonismo. Será que compreendem o real significado de ser protagonista? As redes sociais têm desvirtuado a percepção de si mesmo e do outro, confundindo a compreensão do termo “protagonismo”.
Diante da sociedade em rede, esse protagonismo vem sendo creditado ao público com maiores likes, aqueles que conquistam as multidões de seguidores, ávidos por um entretenimento. Assim, conduzidos (ou manipulados) pelo algoritmo, o número de seguidores, curtidas e visualizações parecem balizar pessoas como protagonistas.
Seria mesmo este o termômetro para indicar a relevância de um papel na sociedade e na própria vida? Estaríamos esvaziados de referências de protagonismo? Essas questões não possuem resposta certa ou errada, apenas representam um quadro do atual ambiente social. Longe de querer fazer qualquer juízo de valor acerca da nossa sociedade contemporânea, percebi uma controvérsia se formando em mim diante do significado de protagonismo com o qual eu trabalho na mediação.
Há palavras grávidas, que comportam mais de um significado dentro de uma cultura. Eu precisava rever o conceito original de protagonismo, e perceber que protagonismo pode ser visto a partir de algumas perspectivas. A primeira dela figura a de “ator/atriz principal de um filme, roteiro, livro…”. Segundo o dicionário, protagonista é:
[Artes] Ator ou atriz que representa o papel mais importante numa peça, novela, filme.
[Literatura] Personagem principal de um livro.
[Por extensão] Pessoa que possui um papel relevante ou de destaque numa situação, acontecimento.
Nas artes, ser protagonista é ter destaque e relevância em um contexto. O protagonista de uma história traz essa ideia de um ator no centro do mundo, foco das atenções gerais, em torno do qual circulam os coadjuvantes. E neste contexto de redes sociais, pessoas têm se iludido com a suposta fama das curtidas, enquanto os desavisados também entram na onda viciante de views e likes.
Muitos não estão conscientes de suas narrativas. São tantos que acreditam ser fonte de um saber inesgotável, ou uma beleza incomparável, ou um modelo de vida inigualável, sensação amplificada pela quantidade de interações superficiais. Basta uma pequena discordância com algum posicionamento do protagonista, e a fama é arranhada, pois a expectativa dos fãs é a perfeição e o heroísmo constante. Quanto peso para esse protagonista?!
Outros tantos acreditam piamente na ilusão superficial da rede social, criando uma massa de pessoas que não reflete coletivamente, apenas consome passivamente conteúdos dirigidos pelo algoritmo. Desculpa, mas se tornam massa de manipulação do algoritmo.
A sociedade em rede se ilude com o mundo virtual, acreditando em tudo o que é veiculado e validando o protagonismo nos números de seguidores, sem refletir necessariamente sobre a pertinência e coerência das informações veiculadas. Aí o papel da fake News toma uma dimensão ainda mais destrutiva.
Ninguém questiona a autenticidade dos pensamentos e a relevância da comunicação. A rede social virou uma vitrine da ilusão. Os protagonistas de tiktok estão tão focados em si mesmos, que não mais conseguem ter interações reais, vivenciando cenas públicas que revelam a dependência psicológica e o adoecimento mental. Perdem uma habilidade essencialmente humana, a empatia, e agem como se todos devessem adorá-lo e servi-lo, como se fosse ator principal do mundo.
Isso não é protagonismo. Então, o que seria protagonismo à luz da mediação?
Para quem não sabe, mediação é um meio consensual de resolução de conflitos, em que um terceiro neutro (mediador), facilita o diálogo entre os envolvidos em uma disputa, por meio de técnicas e competências, para que consigam encontrar uma solução mais satisfatória para ambos.
A mediação é um processo em que se promove o protagonismo dos envolvidos no conflito. E como isso acontece?
Quando estamos imersos nos conflitos, perdemos nossa capacidade de compreender o outro, passamos a não escutar nosso opositor e entramos, algumas vezes, em embate. Deixamos com que as fortes emoções inebriem nosso racional.
Diante dos desafios nas relações, podemos entrar na espiral do conflito, acumulando estresse, rancor, raiva, tristeza. Acabamos perdendo o protagonismo na tomada de decisão, ou seja, a capacidade de atuar com autonomia de vontade naquela circunstância conflitiva e escolher com clareza gerando bons resultados.
Somos protagonistas quando temos informações e capacidade para decidir o que é melhor para nós, exercendo nossa liberdade e assumindo a responsabilidade diante dos riscos de nossas escolhas.
Ter poder de decisão em nossa vida é o verdadeiro empoderamento. A nossa vontade se expressa com autonomia quando compreendemos quem somos, nossas atitudes no mundo e como elas impactam outras pessoas, que até podem ser coadjuvantes em nossas vidas ou outros protagonistas nas suas vidas.
Protagonista não compete porque ele está consciente da própria vida e do que realmente quer. Você deseja construir a versão “próspera, poderosa e livre”? Esteja consciente de suas forças e fraquezas, seja mais humana. Pratique a empatia, tenha referências e não comparações e menosprezo. Encare a liberdade de ser com vulnerabilidade e responsabilidade. Sinta-se plena em sua autêntica maneira de ser.
Por Betina Costa