Os heróis de verdade existem, e as heroínas também. Uma dessas guerreiras atende pelo nome de Francisca Maria Rodrigues da Costa, ou simplesmente Dona Francisca. Aposentada pelo INSS, essa mulher incansável não conhece descanso quando o assunto é lutar pelo futuro de quem ama. Mesmo após anos de trabalho árduo, ela continua a ‘ralar’ todos os dias, inclusive nos finais de semana, por um motivo que faz seu coração bater mais forte: garantir ao seu neto, a quem ela chama de filho, a oportunidade de ser alguém na vida.
Encontrei Dona Francisca em um calorento sábado à tarde, na sede da Unibe – Preparatório Militar, no coração de Teresina. Lá estava ela, vendendo dindim gourmet, sorvetes e doces caseiros, complementando a renda com um sorriso no rosto e uma determinação que comove. Curioso com sua história, aproximei-me após comprar alguns dindins e começamos a conversar. Ela me contou que todo o esforço é para pagar o cursinho do seu “filho” na Unibe.
Foi então que a história de Dona Francisca se revelou em toda a sua grandiosidade. Marlisson, seu “filho”, tem 12 anos, mas na verdade é seu neto. Ela o pegou para criar com apenas 21 dias de vida e, desde então, tornou-se sua verdadeira mãe. O ditado popular é certeiro: mãe é quem cria, e Marlisson sabe disso. Ele não hesita em chamar Dona Francisca de “mãe”, mesmo depois de saber quem é sua mãe biológica. “A senhora é quem cuida de mim, então a senhora é minha mãe”, diz ele com a certeza de um amor incondicional.
Dona Francisca é mais do que uma mãe; ela é uma verdadeira heroína na vida de Marlisson. E ele, por sua vez, demonstra o mais puro carinho e gratidão pela devoção dessa mulher extraordinária. Com olhos marejados, Dona Francisca se emociona ao falar do seu neto/filho. “Esse menino é uma bênção de Deus. Ele é o meu companheirinho”, diz ela, enquanto a emoção transborda e a evangélica mareja os olhos.
Ao final de cada aula, Marlisson corre para os braços de Dona Francisca, como um navio que encontra abrigo em um porto seguro. É um gesto simples, mas repleto de significado, que revela a força dos laços que os unem. Quantas outras Franciscas e Marlissons existem por aí, passando despercebidos em meio à correria do cotidiano? Quantas heroínas trabalham até a exaustão para garantir o mínimo aos seus amados filhos, netos, bisnetos?
Histórias como essa nos fazem refletir sobre o verdadeiro sentido da vida, nos lembram que ainda há esperança, que nem tudo está perdido. Dona Francisca nos ensina que o amor verdadeiro se manifesta nas pequenas e grandes lutas diárias, e que a maior recompensa de uma vida de sacrifícios é o sorriso daqueles que amamos.
Parabéns, Dona Francisca Rodrigues. Parabéns, Marlisson. Que Deus continue a abençoá-los, e que um dia você, Marlisson, se torne um homem digno e trabalhador, capaz de retribuir todo o sacrifício de sua avó/mãe. Que ela possa, então, descansar em paz, sabendo que sua missão foi cumprida com honras.