O desastre climático que assolou grande parte do Rio Grande do Sul, causando inundações em áreas urbanas e rurais de aproximadamente 336 municípios, deixou o Brasil consternado. Os temporais e as chuvas torrenciais estão devastando toda a infraestrutura do Estado e dos municípios.
Muitas localidades estão isoladas do restante do Estado devido ao rompimento de estradas, deslizamento de barreiras ou à destruição de dezenas de pontes levadas pelas enxurradas. A correnteza dos rios dos Sinos, das Antas e Taquari foi intensificada pelo rompimento ou transbordamento de cinco barragens.
A passagem da enxurrada levou tudo que encontrou pelo caminho. Em alguns distritos e até mesmo cidades, arrancou árvores, postes, casas e prédios, deixando vilas inteiras em ruínas. Bairros ribeirinhos foram literalmente ‘varridos’ do mapa.
Ao observar a devastação no Rio Grande do Sul, é inevitável não lembrar do que ocorreu em Cocal da Estação, na planície litorânea, no Norte do Piauí, com o rompimento da Barragem de Algodões I. Como repórter da TV Antena 10 à época, cobri aquele que é considerado até hoje o maior desastre natural do Estado do Piauí.
As cenas de destruição causadas pela violência das águas ainda permanecem vívidas na memória. Cerca de 50 quilômetros do município de Cocal da Estação foram inundados, com o volume de água liberado atingindo 20 metros de altura. A tragédia de Algodões resultou na destruição de pelo menos 500 casas ao longo do leito e das margens do rio Pirangi.
Toda a água represada pela barragem, totalizando 52 milhões de litros, desceu sobre a cidade, arrasando o vale ao lado do rio e deixando um rastro de lama. Lembro de uma casa de veraneio do ex-prefeito José Maria Monção, na margem do rio, toda em alvenaria. Dela só restou o motor do portão eletrônico. Todo o resto foi levado pelas águas.
O evento deixou um triste saldo de 9 mortes entre homens, mulheres e crianças. Uma vítima, um homem, até hoje não teve o corpo encontrado. Permanece sepultado em lugar ignorado no leito do Pirangi.
Embora a tragédia tenha ocorrido em 2009, durante a gestão do então governador Wellington Dias, do Partido dos Trabalhadores, as negociações para indenizar as centenas de vítimas se arrastaram por longos oito anos. Somente em 2017, o Tribunal de Justiça do Piauí – TJ/PI, conseguiu formalizar um acordo entre a associação das vítimas e o governo estadual que se comprometeu a pagar R$ 51 milhões em 30 parcelas.
As vítimas se queixam que a indenização mal cobriu 30% do prejuízo material. Muitos sequer chegaram a receber o dinheiro completo, uma vez que faleceram ao longo do tempo. Um deles foi o líder das vítimas, o professor Corcino Medeiros Santos, que faleceu em julho de 2020.
Se os habitantes do Rio Grande do Sul enfrentarem uma situação semelhante à dos piauienses, devem se preparar para uma batalha árdua e prolongada na Justiça. Reconstruir a infraestrutura devastada pelas chuvas, especialmente as casas e as vidas das pessoas, demandará muito tempo e sofrimento. Basta lembrar que até hoje o governo federal ainda ainda falta repassar um terço do valor prometido para as enchentes do ano passado.