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Publicado em: 6 maio 2024 às 10:10

Entre águas e lágrimas: O drama das enchentes no Sul e as memórias de Cocal da Estação no PI

Cidades inteiras debaixo d’água no RS – Foto: Reprodução

O desastre climático que assolou grande parte do Rio Grande do Sul, causando inundações em áreas urbanas e rurais de aproximadamente 336 municípios, deixou o Brasil consternado. Os temporais e as chuvas torrenciais estão devastando toda a infraestrutura do Estado e dos municípios.

Muitas localidades estão isoladas do restante do Estado devido ao rompimento de estradas, deslizamento de barreiras ou à destruição de dezenas de pontes levadas pelas enxurradas. A correnteza dos rios dos Sinos, das Antas e Taquari foi intensificada pelo rompimento ou transbordamento de cinco barragens.

A passagem da enxurrada levou tudo que encontrou pelo caminho. Em alguns distritos e até mesmo cidades, arrancou árvores, postes, casas e prédios, deixando vilas inteiras em ruínas. Bairros ribeirinhos foram literalmente ‘varridos’ do mapa.

Ao observar a devastação no Rio Grande do Sul, é inevitável não lembrar do que ocorreu em Cocal da Estação, na planície litorânea, no Norte do Piauí, com o rompimento da Barragem de Algodões I. Como repórter da TV Antena 10 à época, cobri aquele que é considerado até hoje o maior desastre natural do Estado do Piauí.

A desolação de quem perdeu tudo na tragédia de Algodões I, no PI – Foto: Reprodução

As cenas de destruição causadas pela violência das águas ainda permanecem vívidas na memória. Cerca de 50 quilômetros do município de Cocal da Estação foram inundados, com o volume de água liberado atingindo 20 metros de altura. A tragédia de Algodões resultou na destruição de pelo menos 500 casas ao longo do leito e das margens do rio Pirangi.

Toda a água represada pela barragem, totalizando 52 milhões de litros, desceu sobre a cidade, arrasando o vale ao lado do rio e deixando um rastro de lama. Lembro de uma casa de veraneio do ex-prefeito José Maria Monção, na margem do rio, toda em alvenaria. Dela só restou o motor do portão eletrônico. Todo o resto foi levado pelas águas.

O evento deixou um triste saldo de 9 mortes entre homens, mulheres e crianças. Uma vítima, um homem, até hoje não teve o corpo encontrado. Permanece sepultado em lugar ignorado no leito do Pirangi.

As águas da barragem levaram mais de 500 casas no leito rio Pirangi – Foto: Reprodução

Embora a tragédia tenha ocorrido em 2009, durante a gestão do então governador Wellington Dias, do Partido dos Trabalhadores, as negociações para indenizar as centenas de vítimas se arrastaram por longos oito anos. Somente em 2017, o Tribunal de Justiça do Piauí – TJ/PI, conseguiu formalizar um acordo entre a associação das vítimas e o governo estadual que se comprometeu a pagar R$ 51 milhões em 30 parcelas.

As vítimas se queixam que a indenização mal cobriu 30% do prejuízo material. Muitos sequer chegaram a receber o dinheiro completo, uma vez que faleceram ao longo do tempo. Um deles foi o líder das vítimas, o professor Corcino Medeiros Santos, que faleceu em julho de 2020.

Se os habitantes do Rio Grande do Sul enfrentarem uma situação semelhante à dos piauienses, devem se preparar para uma batalha árdua e prolongada na Justiça. Reconstruir a infraestrutura devastada pelas chuvas, especialmente as casas e as vidas das pessoas, demandará muito tempo e sofrimento. Basta lembrar que até hoje o governo federal ainda ainda falta repassar um terço do valor prometido para as enchentes do ano passado.