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Publicado em: 8 outubro 2023 às 08:00 | Atualizado em: 6 outubro 2023 às 15:42

Como falar de paz em um mundo de conflito?

Por Betina Costa

Este início do mês de outubro é bem significativo para mim. Primeiramente, hoje, domingo, dia 08 de outubro, é meu aniversário. Eu, particularmente, amo a data e as mudanças de ciclos, envelhecer ou acumular experiências, aprendizados e vivências.

Mas, não somente pela data do meu aniversário eu trago como significante estes primeiros dias de outubro. Duas pessoas que muito me inspiram na construção dos meus ideais nasceram nestes dias. Gandhi que foi um grande líder, advogado e ativista da paz e nasceu em um dia 02 de outubro. E São Francisco de Assis, que foi um frade católico, que pregou valores de humildade, extrema pobreza, amor aos animais e valor à paz e à fraternidade. Sua festa litúrgica na Igreja Católica é comemorada no dia 04 de outubro.   

E é sobre a paz que quero conversar hoje. Inspirada por estes grandes homens, quando criança sonhava em ver um mundo com paz, fraternidade e harmonia. Venho aqui hoje falar de paz, que muitas vezes parece ideal demais, inalcançável, uma ideia romântica e, por isso, inocente e inconcebível.

Por muito tempo, acreditei nesta crença coletiva, abafando em mim os ideais de justiça, equilíbrio, fraternidade e paz. Então, o que me fez amadurecer e retomar o tal sonho de criança por um “mundo melhor”?

O que expressa a paz? O que inspira a pensar e promover a paz? Qual o significado?

A compreensão da paz acontece a partir da compreensão do conflito. Nesta suposta dualidade, hipotética contraposição, percebemos os dois contextos, paz e conflito. A paz não acontece sem uma adversidade, que se mostra como sintoma a ser observado, compreendido, vivenciado para ser transformado. Por meio e no meio da adversidade que se chega ao estado de paz, de equilíbrio.

E novos conflitos acontecem como novas oportunidades de reequilíbrio das forças opositoras, das opiniões divergentes, das visões incongruentes, das necessidades constantes de ajustes para a evolução. O movimento da vida é constante e os conflitos e desafios são inerentes a nossa condição humana.

Os conflitos apontam os desequilíbrios nas relações, os desencontros de posições, as diferenças temporária e aparentemente inconciliáveis entre o que queremos e não temos e que o outro tem. Conflitos são desacordos, choques ou confrontos entre duas ou mais pessoas que têm interesses, objetivos ou opiniões divergentes.

No entanto, o conflito pode ser uma oportunidade de transformação. Mas, enquanto não assimilamos a ideia do conflito como oportunidade, entramos em uma espiral negativa, arrebatando os envolvidos em consequências inimagináveis, próprias do combate.

Se tomamos consciência da oportunidade de aprendizado, de encontro, de convergência, a paz acontece, por meio da assunção das responsabilidades e reconhecimentos das necessidades mútuas. Todos nós humanos temos necessidades e, quando não atendidas, as consequências são insatisfação, manifestada por vezes pela apatia, por vezes pela busca de satisfação.

A forma como satisfazemos nossas necessidades podem ser negociadas, dialogadas ou disputadas, a depender da forma como nos posicionamos. Paz não é passividade diante das controvérsias e, sim, a inteligência para protagonizar soluções, ter autonomia com competências adequadas e técnicas consensuais para resolver divergências. Novas divergências e contradições ocorrerão para reajustar outra vez o equilíbrio nas relações. Novos aprendizados são gerados.

Quais as dificuldades, então, na construção da paz?

Alguns dizem: “não posso ser pacífico em um mundo tão competitivo, agressivo.”

Outros dizem: “mas não fui eu quem gerei o conflito? A culpa é do outro.”

Os que dizem isso esperam que o mundo seja pacífico para eles, então, serem; esperam que o outro reconheça sua culpa, para assumirem a sua própria responsabilidade. Os que se aferram a tais crenças pretendem simplesmente mostrar sua razão e superioridade, mas não compreendem as consequências de suas ações egoístas. Os que dizem isso não querem assumir suas próprias responsabilidades.

Poucos são os que fazem e reconhecem a possibilidade de construção da paz por meio da transformação das adversidades, dos seus próprios conflitos e com os quais convive. Eu me inspiro nessas pessoas que um dia acreditaram ser possível o discurso da paz, como Gandhi e São Francisco de Assis, atualizando um pouco para o contexto atual que vem avançando na compreensão da PAZ POSITIVA.

A paz consiste em agir pacificamente, por meio de uma congruência interna, diante de um mundo rival, adverso, complexo, compreendendo a própria humanidade e a do seu próximo. Gandhi defendia o princípio de “não causar dano, não machucar, não ferir conscientemente a si ou aos outros seres vivos”.

Ousadia a minha tentar ser menos passiva, ser menos agressiva, para ser assertiva, e me posicionar para protagonizar soluções. Gandhi uma vez disse: “Os fracos nunca podem perdoar.” E fazendo um paralelo, talvez eu esteja no caminho de me fortalecer. Então, a paz não é tarefa para fracos, e, contraditoriamente não me vejo forte ou fraca, talvez esteja mais para corajosa, aquela que enfrenta uma mudança de paradigmas apesar do medo de não ser entendida.

Sigo criando esperança em mim e no outro, inspirada por pessoas atuais, como a professora Lucia Helena Galvão, que disse numa palestra: “O grande mérito do homem é ser o que é independente do meio, das circunstâncias. A construção é de dentro para fora. A mudança surge de dentro de nós.”