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Publicado em: 23 outubro 2023 às 19:18 | Atualizado em: 29 outubro 2023 às 20:13

Acreditação em saúde, o Piauí precisa

Por Francimaura Leitão

Sou do tempo em que o resultado do vestibular era divulgado no rádio. A universidade era a federal, e a expectativa e ansiedade preenchiam os dias intermináveis após a maratona de provas.

Bem, foi exatamente assim que me senti durante pouco mais de trinta dias, tempo de espera do resultado da auditoria realizada na Clínica Gastros para certificação.

Nestes dias, minha primeira atividade era buscar no site da ONA a lista das empresas acreditadas no Estado do Piauí. Em 28 de agosto de 2023, senti a mesma emoção do resultado da minha entrada na graduação: muita alegria, fomos aprovados, passamos no vestibular da ONA!

Para a graduação, o esforço foi meu, com apoio da minha família. Na acreditação, o esforço é de toda a empresa, colaboradores, médicos, prestadores de serviço, sob a batuta da diretoria e suas lideranças. Semana passada chegou o lindo certificado, prova de nossa busca diária da melhoria contínua.

No início dessa jornada, esperávamos ser acreditados no Nível I, mas para nossa surpresa antecipamos três ciclos de melhoria e recebemos o Nível ll, Acreditado Pleno, um salto de dois anos no planejamento estratégico.

Mas afinal, o que é essa acreditação e para que ela serve? A acreditação é um processo voluntário pelo qual uma organização de saúde é avaliada por um órgão independente para verificar se ela atende a padrões de qualidade e segurança estabelecidos internacionalmente.

No brasil, a acreditação é realizada pela Organização Nacional De Acreditação (ONA) e cumpre três etapas a seguir:

  • Autoavaliação: a organização avalia seus próprios processos e procedimentos para verificar se eles atendem aos padrões da ONA.
  • Visita de avaliação: uma equipe de avaliadores da ONA visita a organização para verificar se ela atende aos padrões da ONA.
  • Avaliação final: a ONA emite um relatório de avaliação, no qual recomenda ou não a acreditação da organização.

A cada oito meses, a empresa passa por manutenções que podem qualificá-la para o próximo nível ou mesmo desacreditá-la.

Por que uma empresa de saúde deve buscar a certificação ONA, seja ela privada ou pública?

No final do ano de 1999, foi publicado pelo Institute Of Medicine (IOM) o relatório “To Err Is Human: Buildin A Safer Health Care Sistem”, demonstrando que de 44.000 a 98.000 americanos morriam a cada ano em função de erros relacionados à assistência à saúde. Esses dados foram transformados numa expressão interessante: “unidades jumbo”, morriam um jumbo por dia de pessoas por erros cometidos na assistência.

Como escreve Robert Wachter em seu livro “Internal Bleeding”: “a maioria dos erros na saúde são cometidos por pessoas boas, mas falíveis, trabalhando em sistemas que não funcionam. Isso significa que tornar a assistência segura depende de reforçar o sistema para prevenir ou interceptar lapsos dos mortais.”

Identificada a necessidade de mudança desse cenário no mundo inteiro, padrões internacionais foram criados, utilizando-se de estratégias da indústria, aeronáutica e outros setores na construção de sistemas que antecipem, previnam ou interceptem o erro antes que causem dano.

O primeiro passo na trilha da acreditação é conhecer o seu processo assistencial profundamente a ponto de encontrar os riscos que o seu paciente está sujeito, determinar barreiras para esses riscos e assim poder eliminá-los ou mitigá-los.

Nas empresas acreditadas, todos os processos têm como fundamento a segurança do paciente. Vejam alguns exemplos:

  • Na assistência, o cumprimento das boas práticas estabelecidas por órgãos de fiscalização, como ANVISA e VIGILÂNCIA SANITÁRIA;
  • A utilização de protocolos no tratamento de doenças e realização de exames;
  • O teste de qualidade da água realizado nos pontos onde é utilizada para lavagem de materiais e equipamentos, garantindo a eficiência da desinfecção e esterilização;
  • Avaliação de fornecedores, materiais e medicamentos para garantir o uso de produtos de qualidade, com vigilância extrema de  toda a cadeia medicamentosa;
  • A promoção de um estudo de custos para disponibilizar ao mercado a execução de procedimentos seguros ao menor preço, prezando a perenidade do negócio, garantindo emprego e renda a todos que dependem deste sistema.

O acompanhamento dos padrões estabelecidos se faz por meio de indicadores, avaliados mensalmente através do núcleo de segurança do paciente. É lindo ver todas as lideranças da empresa discutindo problemas baseada em dados, utilizando as ferramentas da qualidade, como o diagrama de Ishikawa e a matriz GUT, desenhando fluxos no BISAGE e propondo soluções intersetoriais para promover a qualidade da assistência prestada e consequentemente a segurança do paciente.

Uma vez que a segurança se estabelece como pilar empresarial, a alta liderança promove o engajamento através da educação continuada dos colaboradores e corpo clínico. Este, sem dúvida, é o principal custo que, no final do processo, se transforma em lucro com a redução do desperdício, através da implantação de processos enxutos e ágeis, aumento da satisfação dos clientes, melhorando a imagem da empresa. Em um ano, nossas avaliações do google mais que triplicaram e elevaram a nota da empresa de 3,0 para 4,6.

O cliente dos serviços de saúde já mudou, tornou-se mais exigente, não aceita mais nenhum tratamento sem antes fazer uma pesquisa em busca de informações.

O processo para acreditação pode ser longo ou curto, isso vai depender do nível de organização da empresa, mas, com certeza, é apaixonante. Traz junto com a mudança de cultura o profissionalismo de toda equipe. Inúmeros são os benefícios da acreditação na melhoria das organizações e desenvolvimento da empresa.

Está na hora do Piauí fortalecer sua vocação para prestação de serviços na área da saúde e mostrar ao Brasil o valor de sua medicina. Quanto maior o número de empresas acreditadas, melhor ela será. A exemplo do nosso vizinho Ceará, que já possui 36 serviços de saúde privados e públicos acreditados, também nós, piauienses, devemos adotar os padrões ONA para certificação de nossas empresas. Assim, demonstraremos todo o nosso cuidado com a segurança do paciente, restaurando nossa imagem de eficiência e qualidade.