As famílias brasileiras continuam enfrentando altos níveis de endividamento, mesmo com uma pequena redução recente. A situação se deve em parte ao impacto da pandemia, que fechou empresas e causou desemprego em massa, à crise econômica e a políticas questionáveis adotadas pelo governo.
De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo – CNC, 76,9% das famílias brasileiras relataram ter dívidas em outubro de 2023. Isso representa uma diminuição em relação aos meses anteriores, sendo o menor nível desde fevereiro de 2022.
As dívidas consideradas na pesquisa incluem aquelas relacionadas a cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, cheque pré-datado e prestações de carro e casa.
O cartão de crédito continua sendo a principal fonte de endividamento, afetando 87% dos grupos familiares. A situação melhorou, especialmente para famílias de baixa renda e renda média baixa, e o risco de inadimplência diminuiu em relação ao ano anterior. Menos pessoas atrasaram o pagamento de suas dívidas em outubro de 2023, com 29,7% das famílias relatando atrasos, em comparação com 30,2% em setembro de 2023 e 30,3% em outubro de 2022.
As condições econômicas, como a redução da inflação, o mercado de trabalho formal absorvendo trabalhadores com menor qualificação e a queda nas taxas de juros, têm contribuído para melhorar as condições financeiras das famílias, reduzindo a necessidade de recorrer ao crédito. Além disso, políticas de transferência de renda, como a valorização do Bolsa Família e saques alternativos do FGTS, têm aumentado a renda disponível e reduzido o número de consumidores endividados.
Apesar da melhoria, ainda existe um grande número de consumidores com dívidas em atraso por mais de 90 dias, e a porcentagem daqueles que relatam não ter condições de pagar dívidas atrasadas referentes a meses anteriores permanece elevada, atingindo 13% das famílias.
Em relação ao gênero, as mulheres enfrentam mais dificuldades para pagar dívidas de meses anteriores, com 78,41% relatando endividamento em outubro de 2023 (em comparação com 81,7% em outubro de 2022). Entre os homens, o endividamento caiu de 77,2% para 75,5% no mesmo período.