Fico me perguntando o que diria, hoje, Tom Jobim, o autor da celebre frase: “o Brasil não é para principiantes”. Ou, o diplomata brasileiro Carlos Alves de Sousa Filho, que eternizou a citação: “le Brésil n’est pass um pays sérieux” (o Brasil não é um país sério).
Ambos devem se revirar no túmulo ao tomarem conhecimento da “descondenação” de Lula e sua posterior “eleição” a Presidência. A soltura de Sérgio Cabral Filho, condenado a mais de 430 anos de prisão, não causa asco apenas nos vivos. Certamente Jobim e Filho, se vivos, desejariam voltar ao túmulo.
Mas, vamos voltar um pouco no tempo, aos tempos de Cabral no governo do Rio. Há 10 anos ele surfava numa popularidade só igualável a de Lula em seu primeiro governo. Não sabia ele, nem o povo carioca, que no Palácio das Laranjeiras não havia um governador, mas um líder de quadrilha, um insaciável “tomador do alheio”, um ladrão contumaz do erário. Um réu confesso que assumiu ter desviado para si, mais de R$ 350 milhões.
Os crimes de Cabral assustam até o mais astuto dos lacaios. Aliás, depois de Cabral no Rio e do PT no Palácio do Planalto, o ícone da corrupção no Brasil, o ex-governador de São Paulo, Paulo Salim Maluf, foi reduzido à condição de um mero “batedor de carteira”.
Só em relação ao crime de lavagem de dinheiro, foram 184 acusações, que dariam conta da ocultação de cerca de R$ 40 milhões e movimentação de mais de US$ 100 milhões. Dos processos movidos, o ex-governador do Rio de Janeiro recebeu a condenação em 23, com penas que, somadas, ultrapassavam 430 anos de prisão.
Mas se você pensou que com um currículo desse, o maior corrupto da história do Rio, desde que Estácio de Sá fundou, a “Cidade Maravilhosa”, em 1 de marco de 1565, apodreceria na cadeia, ou, entraria para ostracismo público, se engou redondamente. Cabral não só está solto, como livre. Livre para sair de casa, passear pelas ruas e praias do Rio, expor sua cara untada com óleo de peroba ao vivo, em cores e também na rede.
E como Tom Jobim estava coberto de razão, o Brasil e, consequentemente, o Rio, não são para principiantes ou amadores. Cabral serelepe, como poucos, virou agora, influencer digital.
Em seu primeiro post, no instagram, desde que teve suspensos os pedidos de prisão domiciliar, o segundo maior e mais conhecido ex-presidiário do Brasil, aparece falando em Deus. Ele cita os, “30 anos de vida pública”, e anuncia um relacionamento com os que ele roubou, ostensivamente, enquanto esteve no poder.
Cabral sonha em se tornar um influenciador extra carceragem. Um influencer digital de tornozeleira eletrônica (em tempos de “socialistas” no poder, com certeza, não é o único).
É assim que ele se anuncia aos internautas:
“Começamos aqui um relacionamento no Instagram. Quero dividir que minha fé em Deus foi fundamental para ficar os seis anos preso. Com a Bíblia, fiquei orando para Deus para ter resiliência”.
Agradece à família:
“Agradeço também a meus filhos, meus heróis, às mães dos meus filhos. Muito obrigada a Deus e a minha família, por ter chegado até aqui vivo”.
E por fim, dirige-se ao carioca:
“Agora é dividir com vocês os mais de trinta anos de vida pública, seis anos de prisão, minhas opiniões e minhas memórias. Espero que você goste”.
Ora, caros leitores. A que ponto chegamos. O carioca vive hoje duplamente penalizado. Tem um presidente ex-presidiário e um ex-governador, também ex-detento, que busca agora influenciar a vida dos habitantes do Rio. Ambos eleitos e reeleitos com expressiva votação no Estado.
Mas, afinal, o que passa na cabeça do eleitor carioca? O que espera votando reiteradamente em bandidos? Ou, não é verdade que cinco ex-governadores deixaram as Laranjeiras diretamente para a carceragem?
Pela atitude de Cabral, o ex-morador de Bangu I, parece acreditar piamente que, “a internet é terra sem lei”. É não, senhor Cabral, a net ao contrário do que pensam alguns é regida por rigorosas leis. O Senhor é que é uma péssima influência, para os cariocas e para os Brasileiros. Feliz (ou seria infelizmente?) a internet é um espaço tão democrático, que dá voz a bandidos inescrupulosos como o senhor.
Se você ainda é capaz de tremer de revolta, tristeza e indignação a cada vez que se comete uma injustiça no Brasil, então, acredite, “tamos juntos”. E não somos poucos, somos milhares e logo seremos milhões. Quem viver, verá!
Por Douglas Ferreira
Artigo de Opinião