Por Douglas Ferreira com informações CPG
O mundo vive em constante transformação e a busca por matrizes energéticas limpas está em alta, com destaque para o hidrogênio verde. Nenhum país possui condições tão favoráveis para a produção de energia limpa como o Brasil, o que coloca o país na mira da Europa para se tornar um grande polo de hidrogênio verde. Dentro dessa perspectiva, o Nordeste brasileiro se projeta como a mina de ouro que pode consolidar o Brasil como uma potência energética mundial.
Potencial do hidrogênio verde no Nordeste
O projeto de hidrogênio verde no Brasil prioriza o Nordeste devido à sua localização estratégica e abundância de recursos renováveis. A região possui excelentes condições climáticas para a geração de energia eólica e solar, fundamentais para a produção de hidrogênio verde. A proximidade com a Europa, que busca reduzir sua dependência de combustíveis fósseis, torna o Brasil um fornecedor estratégico, especialmente em um contexto de crise energética global, como a causada pela guerra entre Rússia e Ucrânia.
Infraestrutura e investimentos no Nordeste
O Nordeste brasileiro destaca-se na geração de energia limpa com aproximadamente 700 parques eólicos, concentrando cerca de 85% da produção nacional de energia eólica em estados como Rio Grande do Norte, Ceará e Bahia. A localização estratégica dos portos nordestinos facilita a logística de transporte do hidrogênio, reduzindo complexidades logísticas.
Empresas como a Unigel estão investindo fortemente na região. Em Camaçari, Bahia, a Unigel anunciou um projeto de produção de hidrogênio verde com um investimento inicial de 120 milhões de dólares, com capacidade para produzir mais de 10 mil toneladas de hidrogênio verde por ano. A empresa planeja quadruplicar essa capacidade até 2025, com investimentos adicionais de 1,4 bilhão de dólares.
Outros grandes projetos
Além da Unigel, outras empresas internacionais estão apostando no potencial do Brasil para o hidrogênio verde. A francesa Engie planeja investir 11 bilhões de dólares em projetos no Brasil, iniciando com 4 bilhões de dólares na construção de duas usinas no Complexo Industrial e Portuário de Suape, em Pernambuco. Já a australiana Fortescue está investindo cerca de 6 bilhões de dólares na construção de uma usina no Complexo de Pecém, no Ceará, com a meta de produzir 15 milhões de toneladas de hidrogênio verde anualmente até 2030.
O diferencial do Piauí
O Piauí é possivelmente o Estado do Nordeste com a maior vocação para a produção de energias renováveis. Atualmente, é o terceiro maior produtor de energia solar e eólica no Brasil, gerando cinco vezes mais do que consome e exportando o excedente, segundo o governo, contribuindo para a descarbonização da matriz energética brasileira.
Além de possuir uma matriz energética 100% renovável, o Piauí oferece um outro diferencial competitivo com seus grandes mananciais de água, incluindo rios, lençóis freáticos e águas superficiais. Esses recursos são essenciais para a produção de hidrogênio verde.
Ciente das tendências globais em energia limpa e renovável, e visando a produção de hidrogênio verde, o governador Rafael Fonteles realizou nove missões ao exterior para atrair empresas desse setor, além de buscar parcerias nacionais. “Hoje, o governo estadual, através da Invest Piauí, criada para fomentar e atrair investimentos em energias renováveis, presidida por Victor Hugo Saraiva de Almeida, já firmou 34 memorandos de entendimento com diversas empresas, destacando o potencial do Piauí para novos investimentos”, destacou Ricardo Castelo, vice-presidente empresa.
Segundo Castelo, duas grandes empresas, Solatio e GREEN Energy Park – GEP, confirmaram investimentos na produção de hidrogênio e amônia verdes no Piauí. “Juntas, elas demandarão 21,8 gigawatts de energia para alimentar seus parques de produção, seguindo um cronograma de cinco etapas que se estenderá por 10 anos”, asseverou Castelo.
O Piauí e as empresas têm pressa. As obras da Solatio começam em 19 de outubro na ZPE de Parnaíba, no litoral do Estado. A primeira fase da Solatio, com previsão de conclusão para o final de 2027, exigirá 3 GW de energia, aumentando 1.9 GW a cada dois anos até atingir 11,4 GW. Para isso, a empresa deve instalar um parque solar com capacidade de 4 GWp, no pico.
A GREEN Energy Park, a partir de 2028, deve produzir 1,8 GW, alcançando 10,4 GW. Esses projetos criarão mais de 20 mil empregos na cadeia produtiva, abrangendo áreas como engenharia, administração, economia e técnicos especializados, demandando a formação desses profissionais pelas universidades, institutos federais e pelo Senai no Estado do Piauí.
Só nestas duas plantas industriais de hidrogênio e amônia verdes, o governo do Estado anuncia um investimento bilionário das empresas envolvidas. Valor substancialmente maior do que o que outras empresas estão investindo em outros Estados da região Nordeste.
“O investimento previsto ao longo dos 10 anos é estimado em cerca de R$ 200 bilhões”, informou Ricardo Castelo.
Desafios e futuro
Apesar do grande potencial, o hidrogênio verde ainda enfrenta desafios significativos, como infraestrutura, custos e distribuição. Para que o hidrogênio verde se torne uma solução viável, é essencial expandir e tornar acessíveis as energias renováveis que o antecedem. O desenvolvimento e aperfeiçoamento da infraestrutura atual são cruciais para que o Brasil se posicione como um player estratégico no mercado mundial de hidrogênio verde.
O uso do hidrogênio verde está crescendo globalmente, com países como a Alemanha realizando testes em trens e caminhões movidos a hidrogênio. No entanto, a consolidação do hidrogênio verde como uma solução energética ainda depende de avanços significativos nas energias renováveis e na infraestrutura associada.
Conclusão
Com condições naturais favoráveis e investimentos robustos, o Nordeste brasileiro se destaca como um potencial polo de hidrogênio verde, essencial para a matriz energética do futuro. A parceria com a Europa e os investimentos de empresas internacionais reforçam a posição estratégica do Brasil no cenário energético global. Contudo, é fundamental continuar desenvolvendo a infraestrutura de energias renováveis para garantir a viabilidade e expansão do hidrogênio verde, consolidando o Brasil como uma potência energética mundial.