Por Douglas Ferreira
O Brasil destaca-se não apenas como o paraíso com a maior diversidade ecológica do planeta, abrigando biomas como a Amazônia, o Pantanal, a Caatinga, a Mata Atlântica, o Pampa e o Cerrado. Além disso, o subsolo brasileiro figura entre os mais ricos do mundo em termos de minérios e pedras preciosas.
Reservas como as de nióbio evidenciam a riqueza mineral do país. Em 2024, o Brasil dará um passo significativo na indústria de ‘terras raras’ ao iniciar a produção de imãs desse tipo no Estado de Minas Gerais. Esses imãs, essenciais na transição energética, são empregados em turbinas eólicas, motores de carros elétricos e equipamentos eletrônicos. Atualmente, mais de 90% da produção global desses imãs está nas mãos da China.
A produção brasileira ocorrerá no Laboratório de Produção de Ímãs de Terras Raras (Labfab ITR) da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge), adquirido pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais – FIEMG, com um investimento de R$ 35 milhões. O laboratório tem capacidade para fabricar 100 toneladas de imãs por ano, com planos de expansão. No primeiro ano, a produção estimada é de cinco toneladas, aumentando para 15 toneladas no segundo ano e crescendo progressivamente para atender demandas locais, nacionais e, futuramente, internacionais.
O Brasil, detentor da terceira maior reserva de terras raras do mundo, está atraindo investimentos bilionários nesse setor, especialmente em um contexto de valorização dessas matérias-primas. Contudo, há o risco de o país se tornar apenas um exportador de matéria-prima sem agregar valor.
As terras raras, um grupo de 17 elementos químicos, são desafiadoras para extrair, requerendo a separação de frações de toneladas de terra ou rocha. A exploração desses elementos no Brasil iniciou-se em 1886, com a extração de areia monazítica no litoral do Sul da Bahia ao Rio de Janeiro. Atualmente, a extração concentra-se em argila iônica, em regiões de antiga atividade vulcânica.
Fernando Landgraf, professor da Escola Politécnica da USP e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT), destaca a necessidade de o Brasil desenvolver a indústria intermediária para produzir os óxidos de terras raras. O INCT desenvolveu a tecnologia para a fabricação de superímãs, e o laboratório-fábrica da Codemge, financiado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), custou R$ 80 milhões. Landgraf alerta que o óxido de neodímio, por exemplo, que sai da indústria intermediária, custa dez vezes mais que o produto que sai das minas.
A China, líder na produção e exportação de terras raras e seus produtos, anunciou que deixará de fornecer superímãs para o resto do mundo a partir de 2025. Em 2020, a China foi responsável por cerca de 58% da produção global de terras raras, estimada em 140.000 toneladas.
Os preços desses elementos variam significativamente, com o óxido de neodímio, por exemplo, custando em torno de US$ 60.000 por tonelada. O mercado global de terras raras movimenta bilhões de dólares anualmente, com estimativas de crescimento para US$ 9,6 bilhões até 2026.
No Brasil, o início da produção de imãs de terras raras sinaliza um aumento expressivo na participação do país nesse mercado global.