Apesar da escassa ou nenhuma atenção da mídia brasileira à crise na Argentina, a realidade é que os saques continuam ocorrendo em várias partes do país. Com uma inflação acima dos 100%, A inflação no país alcançou a marca de 102,5%, representando o maior índice em mais de três décadas. Afinal, a Argentina não registrava um aumento de três dígitos desde 1991. Os dados s]ao do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos.
Outro dado alarmante é o do desemprego. A taxa de desemprego na Argentina atingiu o nível mais alto em 16 anos devido aos impactos da pandemia e das medidas de restrição. O governo implementou um bloqueio rigoroso às atividades e à circulação de pessoas a partir de meados de março, o que agravou uma economia já fragilizada e levou diversas empresas a enfrentarem dificuldades para se manterem em operação.
A população empobrecida se encontra diante de um dilema angustiante: enfrentar a fome ou saquear supermercados. Durante o último final de semana, uma onda de saques varreu a nação e resultou na detenção de 56 pessoas em mais de 10 saques. Contudo, o número de detidos é diminuto diante da quantidade de pessoas que se unem para atacar o comércio na modalidade conhecida como “ataque piranha”, uma analogia ao voraz cardume que consome suas presas em questão de segundos.
Após um fim de semana caracterizado por roubos a estabelecimentos comerciais e episódios de violência em várias regiões do país, a onda de saques a supermercados e lojas chegou às áreas periféricas de Buenos Aires, nesta terça-feira, 22. E alastra-se rapidamente em meio a um cenário marcado por um aumento da pobreza a cada nova revisão de preços. Os “ataques Piranha” já contabilizam prejuízos milionários a pequenas, médias e grandes redes supermercadistas.
Sergio Berni, secretário de Segurança da Província de Buenos Aires, comentou a onda de ataques.
“Durante a última hora, quando os comércios começaram a fechar, houve várias tentativas coordenadas de roubo a diversos supermercados e lojas. Uma campanha intensiva é conduzida através das redes sociais para incitar os saques. Durante os roubos, menores de idade são utilizados para roubar cigarros e bebidas alcoólicas“, informou Beri
Durante a madrugada, desta terça-feira, quatro helicópteros patrulharam as áreas mais conflituosas da região metropolitana de Buenos Aires. Equipes de apoio policial em terra trabalharam para se antecipar os roubos.
Um dos episódios de saque mais violentos ocorreu na cidade de Moreno, na região metropolitana. Cerca de 50 pessoas, inclusive crianças, cercaram o supermercado Conquista, forçando seu fechamento. Primeiramente, eles incendiaram um depósito de botijões de gás, uma ação que quase resultou em uma tragédia. Em seguida, arrombaram o portão de ferro e, por fim, forçaram a abertura das portas metálicas. O proprietário do supermercado acabou sendo atingido por uma pedra no rosto.
Em meio a esse cenário, a rede espanhola de supermercados Dia se tornou um dos principais alvos. Em diversas localidades, incluindo Escobar, Don Torcuato e José C. Paz, muitas pessoas conseguiram entrar nas lojas, apesar dos funcionários já terem fechado as portas após serem alertados sobre a situação.
A crise na Argentina tem origem na política econômica implementada pelo presidente Alberto Ángel Fernández, a partir de dezembro de 2019. Fernández assumiu o país prometendo mudanças e implementação de políticas sociais para beneficiar a população carente do país. Mas nestes quase quatro anos, a Argentina mergulhou numa crise sem precedentes.
Os especialistas fazem previsões pessimistas para o país vizinho. Hoje dentro e fora da Argentina só se fala no processo de ‘venezuelização’ implementado na gestão socialista de Fernández.
Por Douglas Ferreira