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Publicado em: 1 fevereiro 2023 às 18:36

Agronegócio piauiense deverá ser o maior do Nordeste em uma década

“Quando chegamos aqui no Piauí, em 1996, tudo era distante e nem estrada se tinha direito. Área plantada, era muito pouco ainda”. O relato é do agricultor Paulo Dalto, de 67 anos, natural do município de Cambé, no Paraná. Quase três décadas depois, ele é um dos grandes produtores de milho, arroz e soja dos cerrados piauienses e emprega, diretamente, pouco mais de 150 funcionários. Sua fazenda está localizada em Sebastião Leal, cidade distante 420 km ao sul de Teresina, capital do Estado.

 

Pai de quatro filhos, três homens e uma mulher, todos trabalhando com ele na fazenda, Paulo conta que já atuava no campo, porém em terras arrendadas. Foi quando um amigo o convidou para conhecer o Piauí. “Naquela época se falava dos Cerrados, que se tinha terra baratas e isso atraiu muita gente, principalmente produtores do sul do país. Eu cheguei, comprei cerca de 4,4 mil hectares de terra, e nunca mais sai”, completou o agricultor. 

 

Atualmente, com mais de 15 mil hectares de área plantada, ou seja, quase quatro vezes mais, Paulo acrescenta que a ida para o sul do Piauí, levando os filhos pequenos e esposa, depois de passar pelo Paraná e Goiás, foi uma decisão corajosa e arriscada. Afinal, o Estado vivia embalado pelo estigma de “terra pobre que nada produz”. Hoje a conversa é outra. O Piauí virou a última fronteira agrícola do país, reduto de investidores do agronegócio, adeptos da alta tecnologia, máquinas e aviões de última geração.

 

Um retrato disso foi mostrado em recente relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que pôs o Piauí na liderança dos Estados com maior crescimento de área agrícola, em duas décadas.  Conforme a pesquisa, denominada de “Contas Econômicas Ambientais da Terra: Contabilidade Física”, a área plantada piauiense avançou 282,9%, entre os anos de 2000 a 2020. No intervalo analisado, a área agrícola do estado passou de 3.349 km² para 12.824 km². 

 

“A expansão de área agrícola piauiense ocorre, principalmente, pela conversão de terras ocupadas anteriormente por vegetação campestre e por mosaicos de ocupações em área campestre – misto de área agrícola, pastagem e/ou silvicultura, associada ou não a remanescentes campestres, sendo impossível a individualização dos componentes. A maior parte do crescimento de área agrícola ocorreu na região sudoeste do estado”, destacou Eyder Mendes, Supervisor de Disseminação de Informações do IBGE no Piauí. 

 

SETOR DOBRA PARTICIPAÇÃO DO PIB NO ESTADO

E, claro, que esse crescimento do agronegócio piauiense, nos últimos 20 anos, iria refletir diretamente na economia. É o que mostra o cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) no Estado. De acordo com os números, também divulgados pelo IBGE, nesse período analisado, o único setor que de fato cresceu, ano a ano, foi o da Agropecuária, que passou de 6,75% para 11,27%, ou seja, quase dobrou a participação, em boa parte pelo crescimento vertiginoso da produção do agronegócio no estado. 

No entanto, ainda é pouco diante das grandes potências nacionais, como Mato Grosso, Paraná e Goiás. E até mesmo que a Bahia, na região Nordeste. Mas, mesmo tendo mais de 20 anos de expansão, o agronegócio apenas começou a engatinhar no Piauí. Segundo cálculos dos produtores, só 12% do potencial do Estado – calculado em 3 milhões de hectares – foi explorado, a maioria com soja, que sozinha tem mais da metade da safra agrícola piauiense. 

Dados mais recentes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram que a safra piauiense deverá crescer esse ano 5,6%, o que vai representar uma colheita de 6,3 milhões de toneladas de grãos. Entretanto, esse número ainda é menor que o registrado no Maranhão (7,1 milhões toneladas de grãos) e Bahia (12,6 milhões de toneladas de grãos, estados que lideram na região nordestina. Só que isso é questão de tempo, na avaliação de Alzir Neto, presidente da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja) no Piauí. Para ele, no ritmo que a produção vai, em no máximo uma década o Estado vai ser o maior produtor da região. 

 

“Em termos de nordeste, Maranhão e Bahia ainda tem envergadura e produzem mais. Porém, o Piauí tem uma potencialidade muito grande em todo o seu território, não apenas mais na região dos cerrados. Estou falando de um potencial de mais de 4 milhões de hectares”, pontuou Alzir, destacando que a Bahia já chegou praticamente no seu limite, e a menos que consiga evoluir nessa parte de irrigação das regiões mais áridas é que pode expandir mais. “ Enquanto isso, Piauí tem 4 milhões de hectares só no Cerrado”, concluiu. 

 

Com algum crescimento para a região do semiárido, em perímetro irrigado e se tiver mais crescimento no Médio Parnaíba, principalmente na região Regeneração e mais um pouco no norte, o Piauí deverá chegar tranquilamente nos 4 milhões de hectares plantados, profetiza o presidente da Aprosoja. “Temos experiência pessoal em nisto produzindo em áreas de todos esses tipos, todas elas produzem muito bem com uso de técnica e com a sua conformação”, acrescentou. 

 

BNB OFERECE LINHAS DE CRÉDITO PARA INVESTIMENTOS

E toda essa projeção passa, também, por investimentos que o setor vem fazendo nos últimos anos. E um dos maiores parceiros dos produtores é o Banco do Nordeste (BNB). “O Banco tem aumentado a sua participação e colou 80% ou dos investimentos no setor. No Piauí já disponibilizou recursos da ordem de R$ 1,6 bilhão para o Agronegócio, Esta evolução e a credibilidade junto aos investidores é fruto de um trabalho que tem priorizado o desenvolvimento de uma agricultura cada vez mais tecnológica”, destacou Alzir. 

De acordo com levantamento do BNB, só nos últimos cinco anos foram investidos no agronegócio piauiense, seja para grandes empresários como para a agricultura familiar, mais de R$ 8,2 bilhões, boa parte desse valor em custeio da safra e compra de maquinários, como tratores, aviões e colheitadeiras, tudo de última geração. Só no ano passado, foram mais de 69 mil contratos, dos quais 1.144 para grandes empresários do setor. E tudo com inadimplência abaixo dos 10%, em ambos os seguimentos. 

Uma das ações estratégicas do banco para atrair, cada vez mais, os produtores foi a mudança no cartão BNB Agro, que teve seu limite elevado de R$ 5 milhões para R$ 20 milhões, e o prazo ampliado de cinco anos para até 10 anos, em algumas operações.  “Somos a instituição pública federal que mais recursos aplica no Piauí. Só em 2022, foram mais de 4,5 bilhões financiados, em mais de 400 mil operações de crédito”, detalhou Diogo Martins, superintendente do BNB no Estado. 

Há também mudança na definição do limite de crédito em operações de câmbio, o que aumenta a capacidade de captação de recursos pelos produtores. A partir deste ano, o Banco do Nordeste considera as amortizações futuras de operações durante a avaliação de limite de crédito. Antes, uma nova operação só era liberada após a quitação total do empréstimo, mesmo em outras instituições financeiras. Isso permite que o produtor utilize toda sua capacidade de captação de crédito em diferentes operações de câmbio.

Atualmente, o Banco do Nordeste é líder no crédito rural respondendo por 58% dos financiamentos de longo prazo. Com uma rede com 292 agências, atende 2.074 municípios e impactou na criação ou manutenção de mais de 900 mil postos de trabalho em 2021, segundo estudo do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene). “E tudo isso começou, ainda em 2003, quando pedimos um estudo de área ao Embrapa na região dos Cerrados e com ele promovemos uma adaptação na plantação de soja, naquela região. Hoje são colhidos mais de 3 milhões de toneladas de grãos”, finalizou.

E para reforçar ainda mais os investimentos do Banco do Nordeste na agropecuária, foi criada uma superintendência específica dentro da instituição financeira para atender o setor com orçamento total de R$ 9 bilhões, sendo que desse total, cerca de R$ 1,5 bilhão são previstos somente para o Piauí, recursos que devem contemplar os segmentos agricultura, pecuária, agroindústria e microcrédito rural.

 

FONTE: Portal Meio Norte