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Publicado em: 17 dezembro 2023 às 07:00 | Atualizado em: 18 dezembro 2023 às 09:26

TRANSFORMAÇÃO EM TEMPOS COMPLEXOS

Por Betina Costa

“Venho fazer um convite a vocês: aproveitar a oportunidade deste tempo e explorar a possibilidade de crescer com as mudanças, aprender o novo, florescer e transformar a si mesmos e suas relações.”

Eis uma época do ano em que mais somos chamados à renovação, com a reflexão sobre metas, reestruturar planos, realizando balanços. Mais do que o período natalino e de ano novo, precisamos perceber que estamos vivenciando uma verdadeira mudança de era, novos paradigmas diante da intensa conectividade e interdependência global.

A velocidade das mudanças está exponencial diante da escalada da tecnologia, da inteligência artificial e da conectividade mundial, encurtando distâncias, aproximando culturas e acelerando processos. O que antes levava-se décadas para mudar, hoje a volatilidade e a impermanência de contextos impactam numa velocidade desconcertante, por vezes, angustiante.

Essa grande velocidade de interação social aumenta ainda mais as instabilidades sociais, políticas e econômicas, gerando um contexto complexo. Muitos reclamam, criticam, descortinando cenários caóticos. No entanto, é preciso ir além das críticas, é essencial refletir sobre esse contexto e como ele nos impacta, na vida e no futuro da nossa humanidade, do trabalho e das empresas. Pois, é a partir deste processo reflexivo que as soluções criativas surgem.

A realidade influencia a forma como pensamentos, sentimos e nos comportamos. Muitas vezes, vivenciamos a manipulação da realidade, que impacta de forma ainda mais considerável as relações e as reações da humanidade.

Que tempos são esses?! Tempos em que as mudanças se sobrepõem nessa velocidade surpreendente, desafiando nossa necessidade humana de controle e segurança. A insegurança gerada por este contexto é gatilho para muitos outros desgastes (além dos econômicos, sociais e políticos), ocasionando deteriorações emocionais, psíquicas, físicas, relacionais.

Os desafios enfrentados são os mesmos dentro do ambiente corporativo. Empresas são feitas de pessoas e suas relações. Parece óbvio falar isso, mas é preciso reforçar, pois há uma naturalização do automatismo e da super produtividade, como se fôssemos máquinas a gerar contínuos resultados.

A complexidade do cenário vem sendo objeto de estudos, análises de grandes pensadores, sendo descritos através de acrônimos como mundo VUCA e mundo BANI. VUCA é a sigla em inglês para as palavras: volátil, incerto, complexo e ambíguo; enquanto BANI traduz as ideias de fragilidade, ansiedade, não linear e incompreensível.

Até poucos anos atrás, nem estávamos familiarizados com este termo, mundo VUCA, que representa o período histórico pós-guerra fria, descrito de forma a explicar como o que acontecia no mundo impactava a vida das pessoas. Mas, um episódio descortinou um cenário de filme de ficção científica. Em março de 2020, tivemos a declaração oficial de pandemia pela ONU. A partir deste momento, este mundo incerto, complexo, volátil, e ambíguo, invadiu nossas casas e trabalhos, impactando todos globalmente.

Não obstante as inúmeras descrições do cenário atual, o fundamental é aprender a lidar com este quadro descrito, que nos causa, no início uma reação de incredulidade e negacionismo, diante dos sentimentos de impotência, medo e frustração. No entanto, os efeitos e impactos desses gatilhos de desconforto e incerteza dependem de como cada pessoa, organização, estado, empresa lida com essas adversidades. Cada um lida com problemas a partir do repertório de vida que possui, com crenças, culturas, experiências, inteligência emocional etc.

A transformação, então, depende do nosso desenvolvimento como seres humanos, da aprendizagem de competências e capacidades que nos tornem protagonistas das transformações, e não vítimas das crises. Nas empresas, não é diferente, são pessoas que determinam o sucesso ou insucesso do negócio diante desses complexos desafios.

É preciso, então, pensar fora da caixa, sair dos encaixes de velhos padrões para pensar coletivamente em soluções criativas e inovadoras, a partir das habilidades humanas. É preciso olhar de forma mais ampla para a realidade do que essas explicações lógicas (e ilógicas) do mundo. Racionalizar simplesmente sobre todos esses aspectos de imprevisibilidade, caos, insegurança, não trará as ações eficazes a transformar essa realidade.

Repito, de uma outra perspectiva: precisamos ampliar nossa percepção de forma a não apenas racionalizar, para compreender esse mundo para além dessas lentes racionais, analíticas e objetivas. Precisamos agregar o conhecimento do sentir, da subjetividade de cada indivíduo.

Pensar e sentir o mundo para percebê-lo com nossas sensações, sentimentos e como esta complexidade nos afeta. Essa compreensão irá definir como enfrentar esses desafios, desenvolver recursos pessoais (competências e habilidades) para tomar decisões conscientes e assertivas, a partir dos aprendizados a colher, errando e acertando, evoluindo.

Você, leitor, pode estar pensando: “Ah Betina, vamos sofrer diante de tudo isso. Se pararmos para sentir, o mar revolto das emoções vai invadir nossa mente. Vamos ficar mais ansiosos e nos sentiremos impotentes. Não dá para parar e sentir. Temos que calar as emoções e seguir em frente. Emoção é fraqueza.”

Esses são padrões de pensar e racionalizar a realidade que não nos trazem benefícios, e, muitas vezes, causam adoecimentos. São padrões que nos dizem a ser super-humanos, heróis, livres de emoção, máquinas de alta performance e resultados extraordinários. ‘Homens’ racionais.

Até que, uma hora, tudo o que pensamos que controlamos, implode e/ou explode, porque o problema foi empurrado para debaixo do tapete, foi negado, negligenciado. Ora, os cenários mundial, nacional, local, não estão sob nosso controle, a vida não é um movimento certo e previsível que podemos controlar. Devemos ter consciência disso.

Então, precisamos encarar o fato de que não somos somente animais racionais, somos humanos. E como humanos, não somente pensamos. Como humanos, pensamos e sentimos, percebemos este mundo e damos significados a tudo o que vemos.

Olhar para esse sentir não é fraqueza, é fortaleza. Somos seres racionais e emocionais.

Não há respostas certas para estes tempos incertos. Talvez haja respostas possíveis para as perguntas certas. Tenhamos compromisso em permanecer tentando achar as respostas simples para as perguntas mais difíceis, a partir do desenvolvimento de nossas capacidades humanas: pensar e sentir.

A resistência para as mudanças vem de uma guerra que não é externa, mas interna. O homem contra ele mesmo, contra seus instintos, sombras, defeitos, inércia. Precisamos querer autenticamente mudar para evoluir, com coragem, resiliência e constância. Assim, canalizamos a vontade de crescer, mantendo foco, encontrando aliados que queiram evoluir conosco, criando hábitos, reinventando nossa realidade.

Módulo sobre "Protagonismo nas relações" no PDLF - Programa de Desenvolvimento de Liderança Feminina na AMNE
Betina Costa conduzindo o módulo “Protagonismo nas relações” no PDLF – Programa de Desenvolvimento de Liderança Feminina na AMNE – Associação Mulheres d’Negócios do Piauí

Do lado de fora, as transformações acontecem independente de nosso querer. Do lado de dentro, prevalece o poder da decisão e do autorreconhecimento dos recursos internos para lidar com essas mudanças. Temos as capacidades biológicas para nos adaptarmos, desenvolvermos competências e fazermos o melhor para o enfrentamento necessário das adversidades, sem heroísmo, mas com protagonismo.