A recente descoberta de um esqueleto no Sul do Piauí representa um marco significativo para as ciências da antropologia e arqueologia, não apenas no contexto brasileiro, mas também globalmente. Este achado, resultado de escavações conduzidas por arqueólogos da Universidade Federal do Piauí – UFPI, da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, e da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF, no Parque Nacional da Serra das Confusões, lança luz sobre as habilidades tecelãs dos indígenas que habitaram a região.
O Piauí se destaca como um dos maiores cenários para pesquisas nas áreas de antropologia e arqueologia, graças à profusão de sítios arqueológicos em todo o Estado. Um exemplo notável é a Serra da Capivara, localizada no Sul do Piauí, que abriga mais de mil sítios arqueológicos cadastrados. Isso demonstra a riqueza e a importância do Estado para a compreensão da história e cultura indígena no Brasil e além.
Os vestígios relacionados à fabricação de fibras e tecidos a partir de algodão nativo, encontrados neste sítio arqueológico, oferecem insights cruciais sobre o processo de manufatura desses materiais. A descoberta não se limita apenas ao esqueleto de um indivíduo adulto do sexo masculino, mas também inclui artefatos como dois braceletes e um colar feitos de contas de ossos polidos manualmente, indicando práticas de sepultamento “formal” de acordo com a fórmula indígena.
Para os pesquisadores, essas descobertas não apenas contribuem para uma compreensão mais profunda de como essas pessoas viviam, mas também revelam informações cruciais sobre as dinâmicas sociais nas comunidades em que estavam inseridas. O professor Gregoire van Havre, da UFPI, destaca que essas descobertas evidenciam a presença de uma sociedade complexa no sul do Piauí, que dominava tecnologicamente a arte da tecelagem.
As escavações na Serra das Confusões, que tiveram início em 2019, continuam revelando avanços constantes. Além de esqueletos, as equipes encontraram arte rupestre, estruturas de fogueiras, vestígios de construções indígenas e objetos do cotidiano, tudo isso contribuindo significativamente para a compreensão da história da região.
A próxima fase das pesquisas inclui a datação por carbono-14 (isótopo radioativo de número de massa 14 que é assimilado por todos os organismos vegetais e animais e, por isso, é usado na datação de fósseis) de um osso coletado em 2022. A análise deste material está sendo conduzida no Laboratoire des Sciences du Climat et de l’Environnement, na França, sob a supervisão da professora Christine Hatté.
Espera-se que essa datação forneça informações valiosas sobre a antiguidade do sítio arqueológico, enriquecendo ainda mais nosso conhecimento sobre a história e cultura dos povos indígenas que habitaram essa região. Essas descobertas destacam a importância do Piauí como um local crucial para pesquisas arqueológicas e antropológicas e enriquecem nosso entendimento da rica diversidade cultural do Brasil e do mundo.
Por Douglas Ferreira com informações da UFPI