Por Douglas Ferreira
Certamente você já ouviu falar de eremitas vivendo em cavernas ou ermitãos que habitam grutas em diversas partes do mundo. Esses casos são mais comuns do que se imagina, e cada um tem sua própria história intrigante.
Recentemente, nós aqui no Move Notícias, noticiamos o caso da escritora Christiana Mara Coelho, que foi adotada por uma família suíça. Ela tornou-se uma escritora renomada na Europa e agora assina como Christiana Rickardsson.
A escritora relatou que durante a infância, viveu em condições precárias em uma caverna no Brasil. Foi no Parque Estadual do Biribiri, uma reserva natural próxima à cidade de Diamantina, no Estado de Minas Gerais, na região sudeste do Brasil.
Casos registrados no Piauí
Aqui no Piauí, também existem ocorrências de pessoas que viveram em grutas. Alguns eram ermitãos como o notável ‘Catirina’, que passou mais de 10 anos em uma ‘furna’ no Parque Nacional de Sete Cidades, no Norte do Estado. José Ferreira do Egito, conhecido como Catirina, era natural do Ceará e se autodenominava um curandeiro.
O cronista teresinense Vitor Gonçalves Neto (1925 – 1989) escreveu que Catirina chegou a viver na gruta com os filhos. E que sobrevivia de donativos e da rica fauna e flora do lugar. “Não lhes faltavam preás no almoço e alguma fruta na sobremesa”, relatou o cronista.
Não se sabe o ano exato do nascimento dele, mas Catirina faleceu em 1946, na própria ‘furna’. O corpo de Catirina teria sido trasladado para a cidade de Piripiri onde acredita-se foi inumado.
O caso da família de Delmiro em São Miguel do Tapuio
Mais recentemente, um morador de São Miguel do Tapuio, conhecido como seu Delmiro, passou mais de 20 anos vivendo em uma caverna num sítio arqueológico na localidade Palmeira de Cima, na zona rural do município. Há cerca de 35 anos eu tive a oportunidade conhecê-lo. Eu até visitei a casa-caverna de seu Delmiro e reportei um pouco de sua história para a TV Clube, afiliada da Rede Globo de Televisão no Piauí.
Na caverna, seu Delmiro teria vivido com a família e criado 15 filhos. Ele ainda é vivo e atualmente, reside nas proximidades, em um assentamento do Incra nas ‘brenhas’ de São Miguel do Tapuio.
Um dos motivos citados por seu Delmiro, na época, para viver na caverna era a temperatura mais amena do interior da gruta. Ele afirmava que conseguia dormir com conforto, desfrutando de temperaturas mais agradáveis do que as encontradas na cidade.
De fato, as temperaturas nas furnas, mesmo em regiões quentes como o Nordeste brasileiro, costumam ser mais amenas. Em algumas cavernas a temperatura e a umidade do ar atingem níveis agradáveis de serra.
Mas há cidades inteiras subterrâneas
Mas, e cidades inteiras subterrâneas, você conhece? Já viu ou ouviu falar? Não? Pois saiba que elas existem. A mais conhecida delas é a Capadócia, localizada na região da Anatólia Central, na República da Turquia. Nas cavernas naturais e artificiais da Capadócia vivem cerca de 1 milhão de pessoas. Mas há outras cidade na Europa e na Ásia onde o povo mora do subsolo.
E a motivação para a construção de cidades subterrâneas é a mesma dos nativos do Piauí, fugir das altas temperaturas nessas regiões. Muitas pessoas ao redor do mundo buscaram refúgio em ‘casas dentro da terra’, especialmente para escapar do calor escaldante.
Na Austrália há uma cidade inteira subterrânea
Na cidade de Coober Pedy, no Norte da Austrália, cerca de 60% da população residem em casas construídas nas rochas de arenito e siltito (uma rocha sedimentar clástica formada pela deposição e litificação de sedimentos com grãos de tamanho silte, intermediário entre os tamanhos areia e argila) ricas em ferro da região. Em alguns casos, os únicos indícios de habitação são os poços de ventilação das residências subterrâneas.
Nessa cidade o morador encontra de tudo. Bares, restaurandes, espaços de convivência, conveniências. Há de tudo um pouco em Coober Pedy.
No inverno, esse estilo de vida pode parecer exótico, mas durante o verão, quando Coober Pedy enfrenta temperaturas extremas, com máximas chegando a 52°C, o ar-condicionado se torna uma necessidade vital. Em 2023, essa escolha de moradia parece mais profética do que nunca, à medida que eventos climáticos extremos se tornam mais frequentes em várias partes do mundo.
Cidade subterrânea na China
Em julho passado, a cidade de Chongqing, na China, teve que recorrer aos seus abrigos antiaéreos da II Guerra Mundial e a restaurantes em cavernas para proteger os cidadãos de um surto de calor com temperaturas superiores a 35°C que durou 10 dias. Nesse período os moradores de Chongging viveram literalmente um ‘Pandemonium’. Esses casos destacam a importância da adaptabilidade e da busca por soluções criativas diante das mudanças climáticas e condições climáticas extremas.
Conclusão, seja em que parte do planeta for, o fato é que o ser humano busca refúgio diante do perigo e das intempéries. O instinto de sobrevivência sempre fala mais alto. E cada um usa da criatividade e busca até mesmo debaixo do chão um abrigo necessário para suportar o mal tempo e as altas temperaturas.
Confira mais algumas imagens das áreas subterrâneas de Chongging: