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Publicado em: 4 julho 2023 às 12:21 | Atualizado em: 4 julho 2023 às 12:22

Maduro segue modelo de Ortega e inabilita candidatos opositores

Presidente venezuelano limpa o terreno para reeleger-se, impedindo os principais adversários de concorrerem às eleições.

A ex-deputada venezuelana María Corina Machad, líder opositora ao regime de Nicolás, que desponta nas pesquisas de intenção de voto para as eleições na Venezuela mas foi inabilitada pela Controladoria Geral da República.   — Foto: Leonardo Fernandez Viloria/ Reuters
A ex-deputada venezuelana María Corina Machad, líder opositora ao regime de Nicolás, que desponta nas pesquisas de intenção de voto para as eleições na Venezuela mas foi inabilitada pela Controladoria Geral da República. — Foto: Leonardo Fernandez Viloria/ Reuters

A Venezuela segue o roteiro da Nicarágua, ao inabilitar candidatos da oposição para ocupar cargos públicos e impedi-los de enfrentar Nicolás Maduro nas eleições do próximo ano.

Conhecida como “dama de ferro”, a ex-deputada María Corina Machado desponta nas pesquisas como favorita nas primárias de outubro, mas foi alvo da decisão da Controladoria Geral da República, que a tornou inelegível por 15 anos.

Desta forma, o regime de Maduro limpa o terreno de adversários, para consolidar-se no pleito, assim como fez o ditador Daniel Ortega: prendeu todos que o ameaçavam nas urnas e concorreu praticamente sozinho nas eleições de 2021, conquistando o quarto mandato na Nicarágua.

Outros pré-candidatos populares comungam da mesma sina de María Corina, do Vem Venezuela.

O ex-governador Henrique Capriles, que concorreu duas vezes contra o chavismo, está inabilitado desde 2017, assim como Freddy Superlano, do partido Vontade Popular. Juan Guaidó, Leopoldo López e Antonio Ledezma estão entre os que fugiram do país.

Contra todos pesam supostas acusações de irregularidades e corrupção, parecidas com as que Ortega dizimou seus opositores, tornando-os apátridas e confiscando seus bens após ser reeleito.

Líder da oposição Henrique Capriles, durante eleições regionais em Caracas em 2017.  — Foto: Carlos Garcia Rawlins/ Reuters
Líder da oposição Henrique Capriles, durante eleições regionais em Caracas em 2017. — Foto: Carlos Garcia Rawlins/ Reuters

Considerada uma das mais radicais adversárias do chavismo, María Corina Machado, de 55 anos, vem arrastando multidões em seus comícios, e desafiou a decisão do regime. “Uma desqualificação inútil que apenas mostra que o regime sabe que já está derrotado.

Agora, vamos votar com mais força, mais rebeldia e mais vontade nas primárias. Aqui, quem viabiliza é o povo da Venezuela. Até o fim é até o fim”, escreveu em suas redes sociais.

A inabilitação de adversários é usada como arma de regimes autoritários e vai de encontro ao argumento em defesa de Maduro, citado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que há uma narrativa contra a Venezuela.

Em entrevista à Rádio Gaúcha, na semana passada, o presidente brasileiro observou que o país vizinho teve mais eleições do que o Brasil e considerou a democracia como um conceito relativo.

Para o cientista político Luís Vicente León, diretor do Instituto Datanalisis, as inabilitações de opositores representam uma violação da democracia e são aplicadas na Venezuela porque o governo controla as instituições. Alfredo Romero, diretor da ONG de direitos humanos Foro Penal, segue este raciocínio:

“Eleições livres e democráticas têm dois componentes essenciais: a liberdade de eleger e a liberdade de ser eleito. Não há eleições democráticas nem liberdade de eleger quando o que controla o poder decide arbitrariamente quem pode postular e quem não pode.”

Sem igualdade de condições nas disputas eleitorais, sem imprensa livre e sem respeito às liberdades individuais, a Venezuela traça a rota inversa dos países que aplicam a democracia.

Prova disso é a decisão do Tribunal Penal Internacional, de reabrir a investigação de supostos crimes contra a Humanidade na Venezuela, por considerar insuficientes os processos investigados pelo sistema judicial nacional.

Fonte: G1