Por Wagner Albuquerque
1º de julho de 1994 marcou um divisor de águas na história econômica do Brasil, especialmente para aqueles com mais de 45 anos que vivenciaram a instabilidade econômica anterior. Antes do Plano Real, o país enfrentava uma inflação descontrolada e uma crise de confiança tanto na política quanto na economia. Entre 1986 e 1993, o Brasil experimentou seis planos econômicos e quatro ministros da Fazenda em apenas sete meses. O Plano Real chegou para transformar essa realidade e seus efeitos são sentidos até hoje.
Antes da implementação do Plano Real, o cenário econômico era desolador. Em 1994, apenas 10% da população tinha acesso a serviços bancários, enquanto atualmente mais de 82% dos brasileiros possuem conta bancária. O país enfrentava uma hiperinflação, com preços sendo reajustados várias vezes ao dia. O medo de que o salário se desvalorizasse antes do fim do mês fazia com que as pessoas corressem para o supermercado assim que recebiam o pagamento. A inflação chegou a impressionantes 47,43% ao mês antes da introdução do Plano Real, e no auge, em março de 1990, atingiu 82,39% ao mês.
Em meio a esse caos, muitos, como o autor que trabalhava na área contábil e lutava para pagar a faculdade com um salário que não acompanhava a inflação, viviam uma batalha diária. A inflação elevada fazia com que a apuração de impostos e o pagamento de contas fossem constantes, e qualquer imprevisto, como uma doença, podia comprometer a capacidade de manter os estudos ou cobrir despesas básicas.
O Plano Real foi introduzido de forma gradual para evitar choques econômicos abruptos. A estratégia incluiu três fases: um ajuste fiscal emergencial para controlar gastos públicos, a criação da Unidade de Referência de Valor (URV) como moeda virtual de transição, e a implementação da nova moeda, o real. Ao contrário de tentativas anteriores, o Plano Real não recorreu a tabelamento de preços ou confisco de poupanças, conseguindo estabilizar a economia e marcar o início de uma nova era para o Brasil.
Os 5 impactos do Plano Real
No entanto, além de vencer o dragão da inflação e proporcionar a tão sonhada estabilidade econômica, o Plano Real promoveu outras transformações socioeconômicas no Brasil.
Abaixo, listo os 5 impactos do Plano Real, que ao meu ver, foram os principais:
1. Estabilização de preços
O controle da inflação promoveu a estabilização dos preços. Isso resgatou o poder de compra da população. E beneficiou a todos, impactando diretamente os mais vulneráveis que não tinham acesso a nenhum mecanismo de proteção financeira.
2. Redução da pobreza
A estabilização da economia permitiu o aumento real do salário mínimo, melhorando a renda das famílias. O sonho da época era que o salário mínimo valesse 100 dólares! Meta atingida pela primeira vez em 2005.
O impacto direto foi na população mais vulnerável, na redução da pobreza e das desigualdades sociais. No entanto, os efeitos foram sentidos em toda a economia, pois um aumento de renda significa aumento de demanda e de consumo.
3. Credibilidade e expansão do Sistema Financeiro
Os impactos do plano Real foram profundos e transformadores no sistema financeiro, promovendo a modernização, previsibilidade e a confiança no sistema.
Os mecanismos de supervisão e regulação dos bancos pelo Banco Central aumentaram a solidez e a segurança no sistema financeiro.
Bancos estrangeiros estabeleceram operações no Brasil. Aumentaram a concorrência e melhoraram os serviços financeiros disponíveis no país. Assim, possibilitaram uma maior oferta de crédito, expansão e inclusão financeira com produtos como crédito consignado, leasing, cartões de crédito e seguros.
4. Redução do Desemprego
A estabilização econômica e o crescimento resultante da economia ajudaram a reduzir as taxas de desemprego, criando mais oportunidades de emprego formal e aumentando a renda das famílias.
A estabilidade dos preços facilitou também o acesso aos bens de consumo, conferindo também aumento da produção para suprir a demanda.
5. Desenvolvimento do Mercado de Capitais
A estabilização da economia e as reformas regulatórias incentivaram o desenvolvimento do mercado de capitais, aumentando as ofertas públicas iniciais (IPOs). E propiciaram a maior participação de investidores institucionais e estrangeiros.
Além disso, a estabilização permitiu a criação e expansão de diversos tipos de fundos de investimento, diversificando as opções de investimento e canalizando recursos para a economia produtiva.
A previsibilidade e a estabilidade dos preços facilitaram ainda, a tomada de decisões de investimento e planejamento econômico tanto para instituições financeiras quanto para empresas e indivíduos.