Por Carlos Rubem
“Envelhecer é como escalar uma grande montanha: enquanto escala, as forças diminuem,
mas o olhar é mais livre, a visão mais ampla e mais serena”, Ingmar Bergman
É sabido que a minha família materna, Nogueira Campos, está preparando a celebração do Centenário de nascimento da tia Amália do Espírito Santo Campos, em setembro vindouro (10.09.2023).
A dita anciã anda sonhando com esta efeméride. Lúcida, diz-se uma felizarda das bençãos de Deus. Educadora, continua comprometida com a profissão que abraçou. Do alto da sua sensibilidade, para o ansiado evento, a cada dia nos surpreende com certas peculiaridades, sugestões, exigências.
Abaixo, relato dois desejos que espera serem materializados. Repete seus propósitos vez por outra. Vejamos:
Anuncia que depois da missa gratulatória, a qual será celebrada na Igreja de N. Sra. da Vitória, às 10h, em Oeiras, ao retornar à sua residência, pretende envergar um rubro vestido em homenagem ao Divino Espírito Santo, de quem é devota. Nesta ocasião, quer usar um sapato vermelho combinando com a roupa. Vaidosa!
Na hora do almoço, anseia sentar-se à mesa de repasto ao lado dos seus irmãos Alice (92) e Antônio Campos (87); as suas cunhadas Lourdes, Laurita e Carlota e de um convidado especial, cujo nome não declina, nem mesmo sob tortura. Quem será?
Já determinou que a sobremesa será servida em apropriados pratos de porcelana, floreados, adquiridos, há mais de uma centúria, pelo seu avô materno, Antônio Francisco Nogueira Tapety, fazendeiro e comerciante, na casa de quem foi criada.
Costuma catequizar os seus sobrinhos demonstrando que o seu aludido ídolo ancestral era uma pessoa inteligente, simples e honesta. Ressalta o epitáfio constante na lousa tumular do mesmo: “FILHO DO TRABALHO”.
Tais peças são de fino bom gosto, fabricadas na Inglaterra, há muito tempo recolhidas a um armário de estilo colonial. Interessante que se lembre dessa preciosidades de profundo apelo sentimental.