Por Wagner Albuquerque
Nesta terça-feira (25/09), manifestantes em Nairobi invadiram o Parlamento do Quênia e incendiaram parte do edifício, em meio a uma onda de protestos contra uma reforma fiscal encaminhada pelo governo do presidente William Ruto. Milhares de pessoas entraram na sede do Legislativo, forçando a fuga dos parlamentares e provocando uma repressão brutal por parte das forças de segurança. Estes protestos são considerados os mais violentos em décadas contra o governo queniano.
Os protestos, que começaram na semana passada, eram majoritariamente pacíficos e, ao contrário de atos anteriores frequentemente violentos e liderados por políticos, foram convocados por grupos de jovens. A revolta contra o aumento de impostos e a insatisfação com a crise gerada pela alta no custo de vida motivaram os protestos, pegando o governo de surpresa. Com o crescimento do movimento, aumentaram também os distúrbios e os atos de violência na capital queniana, com multidões investindo contra barricadas e confrontando diretamente a polícia.
As Forças Armadas foram chamadas para apoiar a polícia. ONGs em Nairobi relataram que as forças de segurança utilizaram munição real contra os manifestantes, resultando em pelo menos cinco mortes e 31 feridos, 13 deles a bala. Mais de 300 pessoas foram presas na capital nesta terça-feira, com pelo menos 105 prisões ocorrendo em todo o país na semana passada. Durante a invasão do Parlamento, os manifestantes quebraram móveis, janelas e bandeiras, acusando os políticos de traição após a aprovação preliminar do polêmico Projeto de Lei de Finanças 2024.
O presidente William Ruto prometeu uma resposta rígida ao que chamou de “violência e anarquia” em Nairobi, afirmando que os protestos foram “sequestrados por pessoas perigosas”. Ruto, um dos principais alvos das manifestações, disse que é inaceitável que “criminosos que fingem ser manifestantes pacíficos” espalhem terror contra o povo e as instituições estabelecidas pela Constituição. Os Estados Unidos apelaram pela calma no Quênia, e várias outras nações, incluindo Alemanha, França e Reino Unido, condenaram a violência. O secretário-geral da ONU, António Guterres, expressou profunda preocupação com os relatos de mortos e feridos, enquanto o presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, pediu o fim da violência.