Por Wagner Albuquerque
Os Homo sapiens não foram os primeiros hominídeos a fabricar ferramentas. Na Etiópia, pesquisadores já encontraram utensílios de pedra de 2,6 milhões de anos atrás. Agora, um grupo de arqueólogos desenterrou mais itens que antecedem o ser humano anatomicamente moderno nas cavernas de Jaljulia e Qesem, em Israel.
Esses utensílios são conhecidos como “raspadores de Quina”, nome dado por conta da região na França onde esse tipo de ferramenta foi inicialmente descoberto. Os raspadores encontrados em Israel são pelo menos 100 mil anos mais antigos que os primeiros Homo sapiens, que surgiram na África há 300 mil anos. Essas pedras com pontas afiadas no centro eram usadas por hominídeos, provavelmente Homo erectus, para abater, cortar e processar a carne e a pele de suas presas, principalmente mamíferos chamados gamos.
O estudo sobre a descoberta dessas ferramentas de 400 mil anos foi publicado na revista científica Archaeologies por cientistas da Universidade de Tel Aviv. Os gamos, típicos do Oriente Médio e do sul da Europa, se assemelham aos veados, mas possuem caudas mais longas e hastes um pouco mais achatadas. A descoberta evidencia que esses hominídeos antigos desenvolveram inovações tecnológicas significativas para adaptar-se às mudanças em seu ambiente e às necessidades de caça.
A região do Levante, originalmente habitada por elefantes e outros grandes animais, passou por alterações nos ecossistemas, reduzindo a distribuição desses grandes mamíferos. Como resultado, os Homo erectus desenvolveram novas ferramentas de caça, como os raspadores, para lidar com presas menores e mais rápidas. Interessantemente, essas ferramentas não eram feitas com material local, mas sim de pedras extraídas das montanhas de Samaria, a 20 km das cavernas. Isso sugere que os caçadores pré-históricos consideravam a área onde os gamos se reproduziam um local sagrado de abundância, influenciando a escolha dos materiais.
As ferramentas usadas anteriormente pelos hominídeos eram pensadas para caçar grandes animais, mas as novas descobertas em Israel demonstram a capacidade de adaptação tecnológica desses ancestrais. Eles desenvolveram ferramentas específicas para enfrentar novas situações adversas, evidenciando uma inteligência e capacidade de inovação maior do que os estereótipos de homens das cavernas costumam sugerir.