Por Douglas Ferreira
Em 1º de julho de 2024, o Brasil comemora o 30º aniversário do Plano Real, um marco na história econômica do país que estabilizou a economia e pôs fim a décadas de hiperinflação. Edmar Bacha, um dos idealizadores do plano, compartilhou suas reflexões sobre essa conquista histórica e o impacto duradouro da moeda brasileira, o real. Foi em entrevista ao jornal O Globo. Eis aqui uma síntese do que pensa e do que falou o economista:
O impacto imediato do Plano Real
Em junho de 1994, a inflação brasileira estava em 47,43%, mas com a introdução do real em julho, o índice caiu para 6,84%. Essa queda drástica da inflação trouxe uma mudança significativa na vida dos brasileiros, especialmente dos trabalhadores que eram mais afetados pela desvalorização constante de seus salários. Bacha descreve essa transição como uma conquista civilizatória: “Um país se define por seu hino, sua bandeira, sua moeda e sua Constituição”.
O desafio político e econômico
O Plano Real não foi apenas um conjunto de medidas técnicas, mas também uma decisão política crucial. A equipe econômica liderada por Fernando Henrique Cardoso , FHC, então Ministro da Fazenda, tinha o desafio de estabilizar a economia em meio a um cenário político conturbado. Segundo Bacha, a introdução do real antes das eleições foi uma decisão estratégica para garantir a estabilidade econômica e política do país.
Aprendizados dos planos anteriores
Bacha ressalta que a experiência com planos econômicos anteriores, como o Plano Cruzado e o Plano Collor, foi fundamental para o sucesso do Plano Real. A criação da Unidade Real de Valor (URV) foi um “achado” que permitiu uma transição suave para a nova moeda sem a necessidade de congelamentos abruptos de preços, que anteriormente tinham falhado em controlar a inflação.
Legado duradouro
Trinta anos depois, o real permanece uma moeda estável, e a inflação, embora presente, permanece em níveis muito mais baixos do que os vistos antes de 1994. Bacha destaca que a estabilização econômica permitiu que programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, fossem efetivos, já que a moeda mantinha seu valor ao longo do tempo.
Desafios e perspectivas futuras
Apesar dos avanços, Bacha aponta que o Brasil ainda enfrenta desafios significativos, como a necessidade de uma maior abertura econômica e a melhoria da produtividade. Ele critica a proteção excessiva do mercado interno, que impede a competição e a justiça social, e defende que uma maior integração com o comércio global poderia beneficiar a economia brasileira como um todo.
Reflexão final
Edmar Bacha conclui que a estabilização econômica proporcionada pelo Plano Real foi essencial para o desenvolvimento do Brasil nas últimas três décadas. A lição fundamental é que a estabilidade monetária é crucial não apenas para a economia, mas também para a democracia, já que a sociedade se tornou a grande protetora da moeda, compreendendo a importância de manter a inflação sob controle para garantir o bem-estar geral.