Por Douglas Ferreira
O Guaíba, uma das paisagens mais icônicas do Rio Grande do Sul, tem sido o foco de um debate acalorado sobre sua classificação como rio ou lago. Enquanto alguns o chamam de rio, outros o definem como lago, mas não há um consenso claro. E você, o que acha? Complicado opinar, não é?
Este dilema ganhou destaque recentemente devido às fortes chuvas que assolaram o Estado desde o final de abril. As tempestade que se abateram sobre o Rio Grande, resultaram em inundação do centro de Porto Alegre, forçando muitas pessoas a deixarem suas casas. Até agora, o saldo de mortes chega a 169 pessoas e os prejuízos materiais em todo o Estado é estimado na casa do trilhão de reais.
Voltemos à dualidade que envolve o Guaíba. Até a década de 1990, o Guaíba era comumente considerado um rio. No entanto, a partir desse período, passou a ser oficialmente designado como lago, com a prefeitura de Porto Alegre reconhecendo-o recentemente como tal e até estabelecendo o Comitê da Bacia do Lago Guaíba.
Segundo o professor Joel Avruch Goldenfum, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS), a definição do Guaíba como rio ou lago não possui um consenso científico devido ao comportamento dual desse corpo hídrico. Goldenfum explica que as margens do Guaíba se assemelham a um lago, com baixa profundidade e recirculação de água, enquanto a presença de um canal central alimentado pelo Rio Jacuí, que drena uma vasta área do Estado, sugere características mais típicas de um rio.
Para Goldenfum, a distinção entre rio ou lago tem menos importância em termos de modelagem e compreensão dos processos hidrológicos do Guaíba do que as implicações legais envolvidas. Questões como as faixas não edificáveis ao redor do corpo hídrico variam dependendo de sua classificação.
O debate sobre a nomenclatura também reflete preocupações ambientais e de gestão. O coordenador-geral do Atlas Ambiental de Porto Alegre, Rualdo Menegat, argumenta que o termo “lago” é mais apropriado cientificamente, considerando a interconexão do Guaíba com outros corpos d’água e o oceano Atlântico. Menegat destaca a importância de usar termos precisos para promover uma consciência ambiental adequada.
Para o professor Jaime Federici Gomes, da Escola Politécnica da PUC/RS, a distinção entre lago e rio no caso do Guaíba é menos sobre a direção do fluxo de água e mais sobre a complexidade de seu comportamento hidrológico, que inclui tanto características de rio quanto de lago.
Em última análise, enquanto a ciência pode oferecer insights valiosos sobre a natureza do Guaíba, a determinação de sua classificação oficial provavelmente será decidida no âmbito legal, ressaltando a complexidade desse emblemático corpo hídrico e sua importância para o Estado do Rio Grande do Sul.