Por Betina Costa
A CasaCor é a maior e mais completa mostra de arquitetura, arte, design de interiores e paisagismo das Américas. Está acontecendo em Teresina, Piauí, até o dia 30/06, na Av. Zequinha Freire, n 225, a casa dos meus pais, onde morei por quase 30 anos.
Com o tema “De Presente o Agora”, o evento convidou arquitetos, engenheiros, designers e empresas a criarem soluções mais sustentáveis, em convivência harmônica com a natureza. O evento nos questiona profundamente com uma pequena pergunta: “Que ancestrais queremos ser?”.
Deixo essa pergunta ressoar em mim, escutando “Wind of Change”, do Scorpions. Reflito sobre a complexidade desta simples provocação, a partir das palavras-chaves: querer, ser e ancestralidade.
Querer significa manifestar a nossa vontade, com autonomia, direcionando nossos pensamentos, emoções e atitudes na busca pelos resultados almejados. Ela envolve a capacidade de realizar escolhas entre diferentes objetos de desejo, quais ações, motivações e opções para alcançar objetivos.
Então, adiciono uma camada à pergunta inicial, que acredito que é a proposta da CasaCor: quando pensamos em nosso querer, o quanto incluímos o outro, o todo?
Estamos tão automatizados, normalizados a estabelecer metas de alta performance e sucesso, que esquecemos o quanto somos todos conectados pela teia da vida. Ignoramos nossa interdependência e vivemos o cotidiano rodeado de satisfação do nosso próprio prazer. Algumas vezes, ficamos anestesiados da dor do mundo, buscando saciar nossas próprias vontades.
A vontade é uma força que nos guia, consciente ou inconscientemente, no caminho da vida. Nossos impulsos manifestam automaticamente crenças arraigadas em nossas mentes, influenciadas pelo nosso repertório, o conjunto de experiências, aprendizados, traumas, dores, alegrias, conquistas. Nossos desejos revelam, por vezes, o apego do ego.
No entanto, nosso querer não se restringe às motivações de ter ou poder. Vai além, quando almejamos simplesmente ser, nesta complexidade que é o ser humano.
Ser humano, que pensa, que sente, que argumenta, inventa e, também, mente.
Ser humano que ama, que tenta, erra e aprende.
Ser humano que transforma, transborda, transgride, transmuta e transcende.
Ser humano que destrói, constrói e reconstrói.
Ser humano que tem essa incrível capacidade de criar e inovar, motivado pelas mais variadas razões de existir.
Temos esse sentimento interno de autorrealização guiando nossa força de vontade a em favor de objetivos a longo prazo, desenvolvendo o autocontrole e a resiliência para resistir a tudo aquilo que nos tira do foco. Podemos moldar nosso futuro, então, direcionando nossos desejos de sermos melhores como humanos que somos.
Quem realmente somos? Quem queremos ser? Como não ver o que está diante de nossos olhos? O resultado do passado? Os sonhos do futuro?
O presente se mostra aqui e agora. Precisamos abrir os olhos da alma deste ser que habita a nossa matéria. Precisamos nos conectar na teia da vida que nos convida a pisar na terra, sentir nossos passos ancestrais e perceber que nossa criatividade pode nos levar além e elevar nossa existência no planeta Terra.
Somos o resultado dos nossos antepassados e, logo em breve, seremos nós os antepassados. Somos a soma de tantos, que cresceram, sofreram, aprenderam, celebraram, conquistaram, adoeceram, sobreviveram, viveram, morreram.
Quando olhamos pro passado, podemos compreender tudo como foi e aprender com os erros e acertos das gerações que já se foram. O passado nos ajuda a perceber o que podemos fazer de diferente no presente, criando e inovando em soluções para as futuras gerações.
Não precisamos ir tão longe no tempo, se observarmos tantos afetados neste momento pelas guerras, fome, doenças, secas e enchentes. Muitos de nós mobilizamos a força da compaixão e da doação, mas eis a questão: o que podemos fazer de diferente pro futuro do todo?
Que legado iremos deixar? Que legado escolhemos deixar? Uma terra arrasada, um clima afetado, guerras concretizadas, concreto esvaziado? Árvores plantadas, inovações geradas, diversidade preservada, biomas conservados?
Que ancestrais queremos ser?
Os ventos da mudança já nos alcançam, e se não os escutarmos, o que pode acontecer? Quando iremos pensar como irmãos que somos neste grande tecido social? Que inovações podemos gerar para sermos esperança para as novas gerações? Quantos de nós realmente se lançam a essas profundas reflexões?
Se você chegou até aqui, neste texto, e sentiu o chamado para pensar, vamos juntos ousar realizar pequenos passos em direção a um futuro melhor.