Por Douglas Ferreira
Iniciado durante o governo de Fernando Henrique Cardoso e ampliado nas gestões do PT, o programa Bolsa Família, junto com outros programas sociais do governo, desempenhou um papel fundamental na redução da miséria no Brasil e até mesmo no impulso da economia nacional. Em muitos municípios do Nordeste, a economia local depende em parte desses programas.
No entanto, uma questão levantada pelo secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo merece uma reflexão profunda. Ele compartilhou uma situação preocupante vivenciada pelo Estado mais rico e industrializado do Brasil.
Jorge Lima destaca o efeito deletério que os programas sociais estão causando na sociedade brasileira e apresenta dados alarmantes que merecem atenção. Ele aponta que o governo paulista está atraindo investimentos da ordem de 250 bilhões de reais, mas, por outro lado, lançou cinco programas de qualificação de mão de obra no ano passado, amplamente divulgados em todas as prefeituras paulistas, mídia e rádios locais, sem conseguir uma adesão de sequer 20% dos trabalhadores.
Na visão do secretário, este é mais um problema que foi agravado pela pandemia: a dependência de uma parte significativa da sociedade brasileira dos programas sociais do governo federal.
“Temos que proteger os mais necessitados, sem dúvida, mas também precisamos ter o cuidado de definir esse público”, ressaltou Jorge Lima. Ele alerta para o risco de uma “modorra” social, preguiça e falta de interesse pelo trabalho, evidenciado pelo fato de que, em alguns lugares de São Paulo, somados todos os programas sociais, uma pessoa pode receber mais de R$ 2 mil por mês, o que levanta a questão: por que produzir, trabalhar com registro em carteira?
De fato, essa realidade leva muitos beneficiários dos programas a preferirem viver na dependência do Estado em vez de buscar um emprego formal.
Jorge Lima compartilha o exemplo de um empresário que investiu 1 bilhão de reais em um projeto no município de Ibiúna, em São Paulo, mas não conseguiu encontrar mão de obra suficiente. “Tivemos que trazer trabalhadores venezuelanos de Roraima para ele. Tentamos de tudo para qualificar a mão de obra do Estado, mas não houve interesse”, explica.
Na opinião do secretário, embora se fale em 8,7% de desemprego em São Paulo, esse dado é questionável. Ele destaca as dificuldades em encontrar mão de obra em diversas áreas, como construção civil, colheitas e operadores de máquinas, em várias regiões do Estado.
Em suas visitas a 195 cidades até o momento, Jorge Lima constatou que é necessário criar uma demanda por procura e não apenas oferecer cursos. “Hoje, o Sebrae, Senai e Senac oferecem uma variedade de cursos, mas falta interesse”, alertou. Para os cursos devem ser voltados para as demandas do mercado. “Só assim, vamos superar os efeitos negativos que os programas sociais causaram na classe trabalhadora de todo o país”, destacou.
Embora o secretário fale da situação no Estado de São Paulo esse é um problema inerente a todas as unidades da federação. No nordeste esse quadro se agrava ainda mais. No Piauí então, falta mão de obra qualificada em todas as áreas, na cidade e no campo. Aliás, o agro sofre com falta de operador de colheitadeira. Mas, no agro há carência de profissional qualificado para o reparo de máquinas e equipamento, por exemplo. Para montagem de silos o produtor piauiense precisa contratar trabalhadores do Rio Grande do Sul.